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Produtor executivo de Overwatch e chefe legal deixam a Blizzard

Chacko Sonny e Claire Hart saem da empresa em meio a processos por abuso contra funcionários

Por Victor Ferreira 21.09.2021 17H52

A Bloomberg reporta que Chacko Sonny, produtor executivo de Overwatch e uma das figuras centrais do desenvolvimento da franquia, deixará a Blizzard Entertainment nesta sexta-feira (17).

No mesmo dia, a atual chefe legal do estúdio, Claire Hart, também sai da empresa, como revelou em sua conta no LinkedIn (via Kotaku). A advogada não revelou os próximos passos de sua carreira, declarando apenas: "Os últimos três anos foram repletos de reviravoltas inesperadas, mas me sinto honrada por ter trabalhado com e conhecido tantas pessoas incríveis na Blizzard e nos negócios da Activision Blizzard."

Nem Sonny nem Hart revelaram os motivos por deixarem a produtora, que se vê no meio de uma série de processos e controvérsias após denúncias de abuso e assédio sexual contra mulheres no ambiente de trabalho.

Em um email interno replicado para a Bloomberg, os atuais chefes da Blizzard, Jen Oneal e Mike Ybarra, se referiram ao produtor como um "líder pensativo". Em sua mensagem de despedida, Sonny escreve que trabalhar para o estúdio "foi um privilégio absoluto e uma das melhores experiências de minha carreira."

Chacko Sonny chefiava a franquia Overwatch e atualmente gerenciava o desenvolvimento de sua sequência, Overwatch 2, que promete ser um dos grandes lançamentos futuros da produtora. Vale lembrar que o antigo diretor da série, Jeff Kaplan, deixou a Blizzard em abril.

Relacionado ao caso ou não, a saída de duas figuras importantes dentro da estrutura da Blizzard vem em meio a novos desenvolvimentos quanto às denúncias de assédio e abuso sistêmicos dentro do ambiente de trabalho do estúdio. Nesta terça-feira (21), o Wall Street Journal reportou que a SEC (Securities and Exchange Commission, equivalente à Comissão de Valores Mobiliários), órgão federal dos EUA que lida com problemas e regulamentações do mercado financeiro, agora investiga a Activision Blizzard.

No fim de julho, o DFEH (Department of Fair Employment and Housing, ou Departamento de Emprego Justo e Moradia em tradução livre), órgão do governo estadual da Califórnia, entrou com um processo contra a publisher de Call of Duty e Diablo por fomentar um ambiente abusivo especialmente contra funcionárias mulheres.

A ação legal do departamento alega desde casos de disparidade salarial e faltas de oportunidade de promoção entre homens e mulheres, até diversos casos de assédio e abuso sexual contra funcionárias, incluindo um caso em particular que teria levado a um suicídio.

"Nos escritórios, mulheres são sujeitas a 'cube crawls' em que funcionários homens bebem quantidades significativas de álcool ao se 'arrastar' pelos vários cubículos e engajar em comportamento inapropriado quanto a funcionárias mulheres", diz a ação. "Funcionários homens chegam orgulhosamente ao trabalho de ressaca, jogam videogames durante longos períodos de tempo no trabalho enquanto delegam responsabilidades para as funcionárias, comentam sobre seus encontros sexuais, falam abertamente de corpos femininos, e fazem piadas sobre estupro."

As alegações desse processo em si voltam-se principalmente aos escritórios da Blizzard Entertainment. Pouco após a abertura do processo, o presidente J. Allen Brack renunciou ao cargo, e ex-lideranças do estúdio pediram desculpas por "falhar" com suas antigas funcionárias. Figuras-chefe de Diablo IV e World of Warcraft também foram demitidas, e o personagem McCree de Overwatch deve ter seu nome alterado por compartilhá-lo com um deles.

Após uma resposta controversa de altos executivos da companhia, funcionários da Blizzard fizeram uma paralisação e protesto em frente aos portões do estúdio. Posteriormente, um grupo intitulado A Better ABK ("ABK" de Activision Blizzard King) voltado para reivindicar os direitos dos trabalhadores da publisher, desde punições devidas aos executivos que participaram ou tinham conhecimento e não fizeram nada quanto aos casos de assédio, até uma reformulação da estrutura corporativa, dando aos funcionários comuns mais poder e autonomia.

A Better ABK criticou as ações e respostas de Kotick, em particular a contratação da firma de advocacia WilmerHale, conhecida por acabar com tentativas de sindicalização de empresas, para ajudar na reformulação do departamento de Recursos Humanos.

O grupo recebeu apoio e solidariedade de um movimento similar ocorrendo na Ubisoft, outra grande publisher que recebeu denúncias de um ambiente de trabalho tóxico e abusivo em seus diversos estúdios pelo mundo.

Posteriormente, além do já citado processo dos investidores da Activision Blizzard, a publisher também foi acusada de destruir documentos relevantes, e enfrenta uma nova ação legal por violações contra leis trabalhistas nos EUA.