Em suas respectivas redes sociais, o ex-presidente e fundador da Blizzard Entertainment, Mike Morhaime, e o antigo líder criativo da produtora, Chris Metzen, divulgaram mensagens em suas redes sociais pedindo desculpas e declarando fracasso ao impedir a cultura de abuso e assédio sexual contra mulheres dentro da companhia expostos no processo aberto pelo governo da Califórnia.

"Eu li a queixa completa contra Activision Blizzard e muitas das outras histórias", escreveu Morhaime via Twitlonger. "Tudo é muito perturbador e difícil de ler. Estou envergonhado. Parece que tudo que achei que eu significava foi arrasado. O que é pior, mas ainda mais importante, pessoas de verdade se machucaram, e algumas mulheres tiveram experiências terríveis."

Morhaime, que fundou a Blizzard em 1991 junto de Frank Pearce e Allen Adham e deixou a companhia em 2019, escreveu que nos 28 anos em que a chefiou, quis estabelecer um ambiente seguro e convidativo para todos.

"O fato de que tantas mulheres foram maltratadas e não tiveram apoio quer dizer que as desapontamos", declarou.

"Assédio e discriminação existem. São prevalentes em nossa indústria. É responsabilidade da liderança manter todos os empregados se sentindo seguros, apoiados, tratados igualmente, independente de gênero e passado. É responsabilidade da liderança acabar com a toxicidade e abuso de qualquer forma, em todos os níveis da companhia. Às mulheres da Blizzard que sofreram qualquer uma destas coisas, estou profundamente triste em ter falhado com vocês."

Já Chris Metzen, que por décadas foi uma das figuras criativas centrais da Blizzard - sendo cocriador de Diablo e chefiado diversos projetos durante os anos, de World of Warcraft até Overwatch - até deixar a companhia em 2016, também publicou uma mensagem em seu Twitter sobre as denúncias.

"Nó falhamos, e peço desculpas."

"Para todos na Blizzard - aqueles que eu conheço e aqueles que nunca conhecia - ofereço minhas mais sinceras desculpas pela parte em que tive em uma cultura que contou com assédio, desigualdade e indiferença."

"Não há justificativa", continuou. "Falhamos gente demais quando elas precisavam de nós porque tínhamos o privilégio de não notar, não engajar, não criar os espaços necessários para colegas que precisavam de nós como líderes. Gostaria que minhas desculpas pudessem fazer qualquer diferença. Elas não fazem."

Morhaime fundou uma nova publisher, a Dreamhaven, em 2020, e Metzen agora trabalha com jogos de tabuleiro com sua nova empresa, a Warchief Gaming, mas ambos compartilharam seu tempo de empresa com figuras citadas por nome no processo contra a Activision Blizzard.

Um dos casos mais notáveis envolve Alex Afrasiabi (via Kotaku), que entrou na empresa em 2004 e foi diretor criativo de World of Warcraft em expansões como Warlords of Draenor e Battle for Azeroth. No processo, Afrasiabi é acusado de se alcoolizar e assediar funcionárias da Blizzard durante festas.

Afrasiabi deixou a companhia em junho de 2020 sem aviso e comunicado oficial - diferente, por exemplo, de Jeff Kaplan, ex-diretor de Overwatch. Personagens que fazem referência a ele continuaam em WoW, embora fãs já tenham aberto petições para removê-los.

Kotaku/Blizzard

Por isso, e por tantos outros casos divulgados por ex-funcionários em redes sociais, é possível inferir que muito do abuso que ocorreu contra funcionárias da Blizzard ocorreu enquanto Morhaime e Metzen chefiavam o estúdio.

Ambos concluem suas mensagens com pedidos de mudanças dentro da indústria, e declarando que pretendem ajudar neste processo.

"Como um líder em nossa indústria, posso e vou usar minha influência para ajudar a mudar positivamente e combater a misoginia, discriminação e assédio onde quer que possa", conclui Morhaime. "Acredito que podemos fazer melhor, e que a indústria de games pode ser um lugar em que mulheres e minorias sejam bem-vindos, incluídos, apoiados, reconhecidos, recompensados e por fim desimpedidos das oportunidades de fazer o tipos de contribuição que todos que entram na indústria querem fazer. Quero que a marca que deixe nesta indústria seja algo que orgulhe a todos nós."

Metzen, por sua vez, escreve: "Não é o suficiente dizer 'eu te vejo' ou 'eu te ouço' quando coisas terríveis acontecem com mulheres dentro e fora do ambiente de trabalho. Temos que estar presentes o suficiente e estar dispostos a PERGUNTAR a elas quais são suas experiências do dia a dia - e então fazer tudo o que pudermos para apoiá-los com respeito, dignidade e oportunidades que elas mereçam."

"Mais do que fazer a escolha consciente de agir desta forma, devemos modelar este comportamento de forma consistente e consciente para todos ao redor de nós, tornar cada um responsável (e estar pronto para ser responsabilizado) e ouvir a cada estágio do jogo."