No início dos anos 2000, a Marvel ainda não havia se tornado a maior potência do cinema norte-americano. De forma geral, a marca era conhecida, principalmente, pelo Homem-Aranha e pelos X-Men. Heróis como o Homem de Ferro ainda estavam longe de alcançar a "primeira divisão" dos personagens de quadrinhos, digamos.

X-Men reunidos.

Durante esse período, duas empresas se uniram para desenvolver um jogo que seria protagonizado pelos mutantes mais famosos das HQs: o estúdio Raven Software e a distribuidora Activision, que ainda operava como uma empresa independente.

O início de uma longa jornada

Wolverine enfrenta sentinela.

Foi assim que, em 2004, surgiu X-Men Legends, um jogo de ação com elementos de RPG no qual jogadores controlam um dentre quatro personagens entre os quais é possível alternar livremente em tempo real.

A lista de personagens jogáveis era impressionante e incluía nomes como Fera, Colossus, Ciclope, Gambit, Homem de Gelo, Jean Grey, Noturno, Vampira, Tempestade e Wolverine. Cada um deles contava com os próprios golpes e possuía uma série de atributos aos quais jogadores podiam adicionar mais pontos (para aumentar a saúde, a força e assim por diante).

Em alguns aspectos, como a câmera e o mapa, X-Men Legends se assemelhava bastante ao saudoso Baldur's Gate: Dark Alliance 2, lançado naquele mesmo ano. No entanto, a jogabilidade em equipe e os poderes especiais, além da progressão, eram bem diferentes, assim como a história em si, evidentemente.

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No caso, em X-Men Legends, jogadores precisam descobrir por que a Irmandade dos Mutantes, liderada por Magneto, está tão interessada em uma jovem cujos poderes ainda nem despertaram — trata-se de um enredo que não adapta diretamente arcos dos quadrinhos e é surpreendentemente eficaz na maneira como se desenvolve (em grande parte, graças às cutscenes, que eram maravilhosas para os padrões da época).

Sucesso e sequência

Apocalipse cercado pelos X-Men.

Ao contrário de jogos anteriores envolvendo heróis da Marvel, X-Men Legends não buscou o conforto de gêneros já muito populares, como era o caso dos títulos beat 'em up lançados na década anterior, no final dos anos 1990.

Em vez disso, X-Men Legends abraçou um nicho específico, e a aposta vingou. O primeiro jogo vendeu o bastante, mesmo no auge da pirataria, para que uma sequência fosse confirmada. Tanto que, apenas um ano depois, em 2005, foi lançado X-Men Legends II: Rise of Apocalypse, também desenvolvido pelo estúdio Raven Software e distribuído pela Activision.

Muito mais polido do que o antecessor, Rise of Apocalypse alcançou ainda mais sucesso em termos de crítica. De forma geral, era como se aquela fórmula apresentada em X-Men Legends estivesse no patamar mais alto possível.

Novamente, havia uma quantidade impressionante de personagens jogáveis, incluindo até um personagem convidado: o Homem de Ferro. Isso talvez fosse um sinal do que jogadores deveriam esperar para o futuro daquele formato de jogo.

A expansão para além dos X-Men

Personagens de MUA.

Enquanto o Homem-Aranha encantava fãs de jogos em mundo aberto, uma tendência que cresceu muito nos anos 2000, com games inspirados nos filmes da primeira trilogia do herói no cinema, os X-Men conquistavam cada vez mais fãs em uma vertente mais específica.

A prova do sucesso desses jogos dos X-Men está no fato de que, em 2006, ou seja, pelo terceiro ano consecutivo, outro jogo naquele mesmo modelo foi lançado. Desta vez, entretanto, tratava-se de um "jogo evento", daqueles que reúnem diferentes heróis da Marvel em uma história grandiosa. Nascia, então, a série Marvel Ultimate Alliance, cujo primeiro jogo foi desenvolvido pelo estúdio Raven Software e distribuído pela Activision.

Com mais de 20 personagens jogáveis, o primeiro Marvel Ultimate Alliance foi mais um sucesso de crítica, sendo tão elogiado quanto Rise of Apocalypse. A principal diferença estava no fato de que, com uma lista ainda maior de heróis, entre os quais estava o Homem-Aranha, o potencial de vendas de MUA era gigante, maior até do que o potencial comercial da série X-Men Legends, que foi abandonada de vez.

Em 2009, foi lançado Marvel Ultimate Alliance 2, jogo que adaptava, com muitas liberdades, a essência de Guerra Civil, arco dos quadrinhos que também inspirou o terceiro filme do Capitão América no Universo Cinematográfico da Marvel. Infelizmente, esse jogo era nitidamente inferior a tudo o que havia sido lançado antes nesse mesmo modelo, mas ainda era uma experiência digna para os fãs mais dispostos.

Legado que segue vivo até hoje

Guerra em Marvel Ultimate Alliance 2.

O sucesso daquela fórmula que começou com o primeiro X-Men Legends, lá em 2004, guiou todos os fundamentos principais dos jogos citados até aqui e mais um: Marvel Ultimate Alliance 3: The Black Order, que foi lançado em 2019 para Nintendo Switch.

Fãs de X-Men Legends podem reconhecer facilmente que Marvel Ultimate Alliance 3 é como um tataraneto do clássico de 2004. Muitos aspectos tiveram de evoluir junto com a indústria, naturalmente, mas a essência da experiência ainda existe no título de Switch.

Personagens de MUA 3.

A não ser pelos jogos do Homem-Aranha, que possuem uma história própria, e por Marvel vs. Capcom, que foi importante demais para os jogos de luta, arrisco dizer que nenhum outro jogo inspirado em heróis da Marvel foi tão revolucionário quanto o primeiro X-Men Legends, aquele que deu início a uma fórmula que durou por mais de uma década — e nada impede que outros games possam ser lançados no futuro seguindo os mesmos conceitos.

Hoje, pode ser que muitas pessoas olhem para os jogos dos X-Men com desinteresse, já que, de fato, eles podem ter envelhecido mais do que um fã é capaz de admitir. Ainda assim, eles continuam merecendo respeito e reconhecimento pelo que fizeram pela presença da marca no mercado dos jogos. Resta torcer para que, um dia, exista pelo menos uma coletânea com os jogos da série.


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