Há grandes mudanças no horizonte para Star Wars no mundo dos games - embora só as veremos daqui algum tempo.

Desde 2013, após a aquisição da Lucasfilm pela Disney, uma das marcas mais reconhecíveis de todo o planeta - e com um rico histórico dentro do mundo dos games - ficou a cargo de uma única empresa: a Electronic Arts.

Em um acordo de dez anos, a EA teria o controle de Star Wars em uma mídia inteira como parte da renascença da franquia, agora sob a nova direção da Disney.

É importante notar que, a este ponto, Star Wars nos games parecia um pouco perdido: a LucasArts, então responsável pela franquia e um dos estúdios com histórico mais rico da indústria, estava longe de seu auge nos anos 80 e 90. E, apesar do primeiro The Force Unleashed ter uma recepção relativamente positiva, sua sequência feita às pressas não ajudou nada.

No mundo dos MMOs, The Old Republic, feito com um investimento de centenas de milhões de dólares, encontrava seu público, mas não era o fenômeno a la World of Warcraft que se esperava.

Havia uma luz no fim do túnel para o lendário estúdio com Star Wars 1313, mas a Disney logo jogou uma rocha no caminho ao oficialmente fechar a LucasArts e encerrar o projeto - decepcionando tanto os fãs quanto os desenvolvedores, que acreditavam no potencial daquele jogo e lamentam seu cancelamento até os dias de hoje.

Isso, junto com um acordo de exclusividade com uma empresa comumente vista como uma das "vilãs" da indústria, não ajudavam as perspectivas. Mas ainda era possível que a parceria vingasse, certo?

Imagem conceitual de jogo cancelado Ragtag

O resultado... ficou abaixo das expectativas, provavelmente para todos os envolvidos, dos fãs à Lucasfilm/Disney até mesmo para a Electronic Arts, considerando-se tudo o que aconteceu nos anos seguintes.

É claro, seria errado dizer que a exclusividade de Star Wars pela EA foi de todo mal, e tivemos alguns jogos genuinamente bons e interessantes, especialmente na segunda metade desse acordo.

Star Wars Jedi: Fallen Order, da Respawn Entertainment, misturou elementos básicos de Dark Souls com um combate de sabres de luz que ao menos lembravam os duelos tensos e combate da série Jedi Knight. Já Star Wars: Squadrons trouxe de volta as icônicas batalhas espaciais que geraram alguns dos melhores jogos do gênero em X-Wing vs. TIE Fighter e Rogue Squadron.

Mesmo Battlefront II, com seu lançamento e fase inicial desastrosa, conseguiu se reinventar e virou um jogo que fãs da série e de multiplayer competitivo vieram a apreciar, especialmente após o reformulação das loot boxes tão predatórias que levaram a novas leis em países europeus.

E no mercado mobile tivemos Galaxy of Heroes, que navegou com sucesso a época do lançamento dos filmes da Nova Trilogia, constantemente entrando nas listas de maior sucesso do Google Play e App Store, e deve seguir firme e forte nos próximos anos.

De resto... bom, eu escrevi um texto anos atrás sobre esse mesmo assunto, logo depois do aniversário de 5 anos do acordo entre Disney e EA, por isso não devo me repetir muito, mas a grande decepção certamente é o cancelamento de Ragtag, jogo da Visceral Games chefiado por uma das mentes por trás de Uncharted, Amy Hennig.

Não só o jogo foi cancelado, como a Visceral - um estúdio com anos de experiência e que havia ganhado renome com a série Dead Space - acabou fechando as portas. O projeto que veio no encalço de Ragtag acabou sofrendo o mesmo destino, e um terceiro também acabou sendo enterrado.

No fim, 8 anos depois, temos cinco jogos - dois deles sendo parte de Battlefront -, três jogos cancelados, estúdios fechados, e honestamente uma sensação de pouca variedade no que é uma galáxia inteira e cheia de possibilidades.

E, até recentemente, essa era a situação a ser esperada.

Pelo menos, até sentirmos um distúrbio.

Em 11 de janeiro de 2021, a Lucasfilm anunciou a criação de uma nova velha divisão, a Lucasfilm Games. "Velha" porque este era o nome original do que viria a ser a LucasArts, mas definitivamente sem o mesmo escopo.

A nova Lucasfilm Games, por ora, será responsável pelo licenciamento das propriedades intelectuais da empresa, o que a LucasArts também fazia no passado, e acabou por gerar alguns títulos clássicos como Knights of the Old Republic e os Battlefront originais.

Em 12 de janeiro, dia seguinte da revelação da nova subsidiária, a Bethesda anunciou um novo jogo de Indiana Jones, que será desenvolvido pela MachineGames, que passou os últimos anos refinando sua experiência em matar nazistas com os últimos Wolfenstein.

O grande anúncio, porém, veio no dia seguinte a esse, em 13 de janeiro, quando a revista Wired publicou uma matéria revelando que um novo jogo de Star Wars estava sendo desenvolvido, desta vez pela Massive Entertainment - um estúdio da Ubisoft, não da Electronic Arts, reconhecido principalmente por The Division.

Em entrevistas, os executivos e desenvolvedores tentaram ao máximo evitar entrar em detalhes sobre o assunto, mas logo ficou claro que, quando o contrato de exclusividade com a EA chegar ao fim, estúdios e publishers diferentes poderão desenvolver novos jogos de Star Wars com o aval da Lucasfilm Games.

As possibilidades dessa nova fase são imensas, e permite aos fãs sonhar não só com jogos melhores, mas uma variedade maior de estilos e formas de como explorar a Galáxia, tal qual a própria LucasArts fez no seu auge.

Durante as décadas de 1990 e 2000, em particular, jogadores foram apresentados a histórias lugares e até épocas novas, às vezes muito distantes da saga de Luke Skywalker, com novos personagens em circunstâncias completamente diferentes, mas claramente ainda pertencendo à mesma ambientação.

Tínhamos RPGs, jogos de estratégia, de combate aéreo/espacial, até mesmo de corridas de podracing - tudo porque equipes de desenvolvedores diferentes, com especialidades, perspectivas e locais de trabalho diferentes, eram capazes de adicionar algo a Star Wars como um todo.

O potencial está aí, mas fica a dúvida se a Lucasfilm está disposta a expandir seus próprios horizontes. Em um papo revelador durante o evento D.I.C.E. Summit de 2020, o diretor de Star Wars: Jedi Fallen Order, Stig Asmussen, revelou o quanto a Respawn e a EA tiveram que negociar e lutar pelo simples uso da palavra "Jedi", tamanho o protecionismo.

Um nível significativo de controle e supervisão é de se esperar, especialmente de uma marca da Disney, mas não permitir o uso de um dos termos e facções centrais em todo o universo da série é limitar a criatividade de todos os envolvidos.

Espera-se, com o sucesso de Fallen Order nos games, e The Mandalorian no streaming, que a Lucasfilm esteja mais disposta a deixar criadores fazer coisas diferentes com as ferramentas e elementos presentes na série. E, com um novo cânone, há até oportunidade de reapresentar conceitos para uma nova era e público.

Já há rumores de que um remake de Knights of the Old Republic esteja em produção, mas que tal mais coisas envolvendo o Rogue Squadron? Ou uma nova versão de podracing?

Ou mesmo elementos que não foram explorados em um jogo completo, mas que talvez mereçam mais atenção. A campanha do Agente Imperial em The Old Republic é considerada um dos pontos altos do MMO, por que não um game inteiro de espionagem com uma roupagem de Star Wars?

É possível até continuar a envolver a EA nessa ciranda, afinal eles faturaram US$ 3 bilhões com o acordo até agora, e parecem ter aprendido a trabalhar com a franquia nesse formato, mesmo que um pouco tardiamente.

As possibilidades são infinitas, e com um leque maior de desenvolvedores, mais capazes de virar realidade, desde que a Lucasfilm Games esteja disposta a expandir esse universo.