A compra da Activision pela Microsoft anunciada em janeiro deste ano está passando por processos de regulamentação ao redor do mundo, inclusive no Brasil. E, apesar de nas redes sociais as marcas Xbox e Playstation aparentarem uma disputa saudável, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica, CADE, expôs que, de fato, a guerra de consoles acontece nos bastidores.

Documentos revelados pelo órgão regulador sobre a consulta pública a respeito dos impactos que a aquisição da Activision por parte da Microsoft mostrou que a Sony está incomodada e que o processo não é visto com bons olhos pela japonesa. Em contrapartida, a Microsoft se defende dizendo que a dona do PlayStation pratica concorrência desleal.

Saiba mais

Devido à Lei de Acesso à Informação brasileira, o processo de regulamentação de aquisições de empresas que atuam em território nacional precisa ser público e passar por aprovação do CADE e, com isso, as empresas que atuam em determinada área econômica ficam expostas sobre suas intenções e visões de mercado.

Compra da Activision Blizzard em janeiro rende disputa no mercado de games no Brasil e no mundo - Foto: Reprodução Activision
Compra da Activision Blizzard em janeiro rende disputa no mercado de games no Brasil e no mundo - Foto: Reprodução Activision

O processo já ouviu diversas empresas que atuam no mercado nacional como Bandai Namco, Ubisoft, Riot Games, Nuuvem, Google e outras sobre como essa aquisição poderia influenciar o mercado. 

A Sony foi a única empresa que se opôs à compra, dizendo que Call of Duty, que está no portifólio da Activision, é “um jogo essencial" para seus negócios por não existir um concorrente à sua altura.

Em carta enviada ao CADE em julho, a Sony explica que "Call of Duty é tão popular que influencia a escolha do console pelos usuários e sua rede de usuários fiéis é tão arraigada que, mesmo que um concorrente tivesse orçamento para desenvolver um produto semelhante, não seria capaz de rivalizar".

A japonesa também fala sobre o que Call of Duty representa para o mercado de entretenimento e diz em sua petição que “De acordo com um estudo de 2019: ‘A importância de Call of Duty para o entretenimento de modo geral indescritível. A marca foi a única IP de videogame a entrar no top 10 de todas as marcas de entretenimento entre fanáticos, juntando-se a potências como Star Wars, Game of Thrones, Harry Potter e Lord of the Rings’”.

Game Pass é um ponto de preocupação da Sony - Foto: Reprodução Microsoft
Game Pass é um ponto de preocupação da Sony - Foto: Reprodução Microsoft

Dessa forma, a defesa da Sony alega que “Call of Duty está sobremodo entrincheirado, de modo que nenhum rival – não importa quão relevante – pode alcançá-lo”.

Além disso, a Sony acusa a Microsoft de criar o plano de assinatura como estratégia de dominância de mercado, além de suas diversas aquisições de estúdios nos últimos anos. "Uma das razões pelas quais o Game Pass da Microsoft cresceu tão rapidamente é porque, desde 2017, a Microsoft adquiriu vários estúdios de terceiros, incluindo Double Fine, Obsidian Entertainment, Ninja Theory e Bethesda, e adicionou seu conteúdo ao Game Pass. Tais aquisições conferiram à Microsoft uma maior massa de conteúdo - mesmo sem os jogos da Activision. Adicionar os jogos da Activision a esse conteúdo representaria um ponto de inflexão".

A defesa da Sony também aponta o rápido crescimento do Game Pass e que no Brasil o serviço abocanha até 80% do mercado de assinaturas de games. "Nos últimos cinco anos, o Game Pass da Microsoft cresceu de forma a capturar aproximadamente 60 a 70% do mercado global de serviços de assinatura. Essa participação é ainda maior no Brasil, onde o Game Pass representa aproximadamente 70-80% do mercado de serviços de assinatura para PC”. 

A defesa da Microsoft

Na última quarta-feira (10), o CADE publicou a resposta da Microsoft sobre o posicionamento da Sony, acusando a fabricante japonesa de ser obrigada a ter uma concorrência ao seu atual modelo de negócios com a entrada de serviços por assinatura, como o Game Pass.

Franquia Call of Duty é um tema sensível para a Sony - Foto: Divulgação/Activision

“A Sony apresenta irresignação por ter de concorrer com o serviço por assinatura da Microsoft. As manifestações públicas da Sony sobre assinatura de jogos e a resposta da empresa ao ofício da SG [Superintendência-Geral do CADE] são claras: a Sony não quer que serviços por assinatura atraentes ameacem sua dominância no mercado de distribuição digital de jogos de console. Em outras palavras, a Sony se insurge contra a introdução de novos modelos de monetização capazes de desafiar seu modelo de negócios”, diz a petição. 

A Microsoft também afirma que adicionar conteúdo da Activision Blizzard ao Xbox Game Pass aumentará a concorrência. “A inclusão do conteúdo da Activision Blizzard no Game Pass não prejudica a capacidade de outros jogadores competirem no mercado de distribuição de jogos digitais”.

A empresa também argumenta que aumenta a concorrência graças ao “conteúdo de alta qualidade a custos imediatos mais baixos”.

Não apenas isso, a Microsoft acusa a Sony pela prática de obstrução de direitos de distribuição de jogos no Game Pass. “A capacidade da Microsoft de continuar expandindo o Game Pass tem sido obstruída pelo desejo da Sony de inibir tal crescimento. A Sony paga por ‘direitos de bloqueio’ para impedir que desenvolvedores adicionem conteúdo ao Game Pass e outros serviços de assinatura concorrentes”.

A Microsoft também se defende dizendo que manter exclusividade de Call of Duty nos consoles Xbox não seria lucrativo. “Independentemente do quão inusitadas sejam as críticas da Sony em relação à exclusividade de conteúdo – já que toda a estratégia do PlayStation foi centrada na exclusividade ao longo dos anos – a realidade é que a estratégia de reter os jogos da Activision Blizzard, não os distribuindo em lojas de console rivais, simplesmente não seria lucrativa para a Microsoft”.

Game Pass oferece mais de 100 jogos para seus assinantes - Foto: Divulgação/Xbox

A empresa continua, alegando que “Tais custos, somados às vendas perdidas estimadas, significam que a Microsoft não seria capaz de compensar as perdas obtendo maiores receitas no ecossistema do Xbox como resultado da implementação da exclusividade”. 

Outro ponto levantado pela Microsoft é que a empresa busca uma estratégia de mercado “pensada nos jogadores” e não em consoles. “Considerando a estratégia ‘gamer-centric’ – ao invés de ‘device centric’ – em relação à qual a Microsoft tem sido pioneira com o Game Pass, e o fato de o PlayStation ter os usuários mais leais em suas várias gerações, com todos os indícios de que a lealdade à marca acumulada em rodadas anteriores das ‘guerras de consoles’ sugerindo que o PlayStation continuará a ter forte posição no mercado”.

A Microsoft finaliza sua defesa dizendo que “A adoção hipotética de qualquer estratégia de descontinuação de conteúdo não seria rentável para a Microsoft e, ainda que fossem implementadas, tais estratégias não teriam qualquer impacto concorrencial”.

Guerra por exclusividade

Phill Spencer foi um dos idealizadores do Game Pass - Foto:Divulgação/Microsoft

O fato levantado pela Microsoft sobre compra por conteúdos exclusivos de jogos é algo que a comunidade gamer global acompanha desde os primórdios da indústria. A própria série Call of Duty foi pivô de exclusividades para o Xbox 360. Já na virada de geração, a Activision fechou uma parceria com a Sony para trazer exclusividades destinadas ao PlayStation 4.

No passado a Sony também foi acusada por barrar partidas entre plataformas (cross-play) em diversos títulos como Wargroove, Fallout 76 e Fortnite

Em 2018, o então presidente da Sony Interactive Entertainemnt, Shawn Layden, alegou que um dos motivos para tal impedimento era resultante de negócios e pontos técnicos. "Se olhamos de um ponto de vista técnico, trabalhamos com nossos parceiros com um ponto de vista de negócios. Temos que nos certificar que se liberarmos isso, teremos o serviço ao cliente adequado, a mensagem certa. Temos que ter todas essas coisas diferentes para nos alinharmos".

Sobre o caso de aquisição da Activision pela Microsoft, a empresa ainda espera a autorização em outros mercados como o Norte-Americano e Europeu.

extras/capas/cod_modern_warfare_2_arte_principal.jpg
Call of Duty: Modern Warfare 2
  • Lançamento

    28.10.2022

  • Publicadora

    Activision Blizzard

  • Desenvolvedora

    Activision

  • Censura

    18 anos

  • Gênero

    Jogo de tiro em primeira pessoa

  • Testado em

    PlayStation 5

  • Plataformas

    PlayStation 4 PlayStation 5 Xbox Series X Xbox Series S PC