Resident Evil está completando 25 anos e é uma das franquias de videogame mais populares do mundo, com jogos de sucesso em diversas plataformas, e também uma das que chegou mais longe na cultura pop. Gostem ou não, os filmes de RE sempre deram muito dinheiro, tanto que vão ganhar um reboot, Welcome to Raccoon City. A franquia também terá uma série animada e uma série live-action na Netflix.

Olhando para tudo o que a franquia alcançou neste quarto de século, é interessante notar como Resident Evil nunca abraçou uma única fórmula até a exaustão. Assim como o T-Vírus, a série está sempre passando por mudanças entre um jogo e outro, com alguns saltos evolucionários bem marcantes de tempos em tempos.

“Não se mexe em time que está ganhando” não é um ditado seguido pela Capcom, disso podemos ter certeza. Mesmo que nem sempre acerte em suas inovações, a produtora nipônica nunca para de implementar novas ideias aos jogos da série, e essa mutação constante certamente mantém os fãs interessados em experimentar cada novo lançamento - nem que seja para reclamar depois. Vamos dar uma olhada em como Resident Evil mudou ao longo dos anos?

Trilogia clássica

A Capcom lançou o primeiro Biohazard em 1996, causando um impacto dos grandes e estabelecendo de vez o gênero “survival horror” - os anos seguintes viram a popularização do gênero, com o lançamento de muitos “clones de RE”. Todo mundo queria uma fatia do novo filão.

Como Resident Evil se reinventou nos últimos 25 anos
Capcom/Reprodução

Apesar da abertura com cara de filme B, o sucesso de Resident Evil estabeleceu elementos que permaneceram nos jogos seguintes, como a movimentação de tanque, os puzzles e as máquinas de escrever.

Os dois jogos seguintes, Resident Evil 2 e Resident Evil 3: Nemesis, capitalizaram em cima do sucesso do original e se mantiveram fiéis às mecânicas centrais, mas expandiram muito o mundo do jogo: a mansão Spencer ficou para trás e o jogador precisa lidar com as consequências do primeiro jogo na delegacia de Raccoon City (RE2) e nas ruas da cidade (RE3).

Os dois jogos tinham em comum também a ideia de um oponente praticamente invencível presente durante quase todo o tempo. Porém, enquanto RE2 mantém a opção de escolher entre dois personagens jogáveis (os estreantes Leon Kennedy e Claire Redfield), Resident Evil 3 optou por focar a narrativa em uma única protagonista, Jill Valentine. O jogo também trouxe mais elementos de ação, começando a apontar a direção que a franquia tomaria nos anos seguintes, mas nem de longe os fãs poderiam imaginar o quanto RE4 mudaria tudo.

Como Resident Evil se reinventou nos últimos 25 anos
Capcom/Reprodução

Tiro, porrada e bomba

Resident Evil 4 é, sem dúvida, o grande ponto de virada da franquia da Capcom, com mecânicas de jogo completamente renovadas: o jogo estrelado por Leon Kennedy adota uma câmera sobre o ombro que tornou a movimentação e a pontaria muito melhores e mais ágeis - mesmo que sejam bem esquisitos para os jogadores de hoje, acostumados com jogos de tiro com controles super precisos.

Enquanto explora um misterioso vilarejo na Europa, Leon luta contra hordas de cultistas malucos gritando ameaças em espanhol, corre e se esquiva em sequências cinematográficas controladas com QTEs (aqueles infames botões pipocando no meio da tela que viraram moda na geração do PS2), e mesmo com tanta ação, conseguia arrancar sustos do jogador - e alguns dos vilões mais assustadores da franquia vieram de Resident Evil 4.

Sua popularidade foi tanta que a Capcom seguiu na direção do “horror com mais ação” nos jogos seguintes, talvez até demais. 

Como Resident Evil se reinventou nos últimos 25 anos
Capcom/Divulgação

Resident Evil 5 conta com o retorno de Chris Redfield, herói do jogo original (que pareceu ter ganhado 20 quilos de músculo nesse tempo), junto da estreante Sheva Alomar. O jogo também adotou uma nova ambientação, a África e ainda por cima, suas fases se passavam durante o dia! A ação cooperativa foi a grande novidade e principal destaque do jogo, que não é muito bem visto pelos fãs dos Resident das antigas, mas isso não impediu RE5 de se tornar durante muito tempo o título mais vendido da série, superado apenas por Resident Evil 7 em 2020.

Seguir na direção da ação explosiva parecia o caminho lógico para Resident Evil. Afinal, milhões de jogadores conheceram a franquia durante esta encarnação. E foi assim que chegou Resident Evil 6, que fazia o mesmo que RE5, mas maior, mais barulhento e mais bonito. Eram três campanhas cooperativas, cada uma com mecânicas levemente distintas, interfaces diferentes e suas próprias duplas de protagonistas.

Como Resident Evil se reinventou nos últimos 25 anos
Capcom/Divulgação

Para os fãs de "longa data" (no caso, aqueles que chegaram em RE4), a Capcom acenava com o retorno de Leon Kennedy, em uma aventura mais “aterrorizante” do que as outras. Eu mesmo joguei o começo dessa missão no dia em que o jogo foi anunciado e sai com a impressão de que seria uma “volta ao survival horror”: Leon e sua nova parceira, Helena Harper, começam a aventura lidando com um ataque bioterrorista em uma convenção política em Tall Oaks, com a presença do presidente americano e tudo, que estava lá para expor a verdade sobre o incidente de Raccoon City. Claro que deu tudo errado.

A campanha de Chris era o oposto, uma aventura digna dos jogos de tiro e ação militar tão em voga na geração PS3/Xbox 360. Enquanto Chris é o legítimo herói de ação sem medo de ir pra cima dos inimigos, seu parceiro é o metódico Piers Nivans, um atirador de precisão da BSAA. Por fim, o terceiro par jogável conta com Sherry Birkin (não mais uma garotinha) e o recém-chegado Jake Muller, que é filho de Albert Wesker e de forma resumida, tem super poderes mutantes. O auge da coisa toda era o alardeado confronto entre Chris Redfield e Leon Kennedy, um encontro sonhado pelos fãs durante muitos anos e foi tão legal (e rápido) quanto se poderia imaginar.

Como dá para notar, tinha muita coisa acontecendo em Resident Evil 6. Se fosse feito hoje, certamente não seria como um único jogo ou pelo menos, não seria lançado todo de uma vez. O game foi um sucesso de vendas (Chris e Leon frente a frente? Todo mundo queria ver isso), mas foi ali que a Capcom se afastou dos fãs mais antigos -  e era preciso mudar de novo.

Como Resident Evil se reinventou nos últimos 25 anos
Capcom/Divulgação

Imersão no horror

A Capcom sabia que precisava fazer diferente em Resident Evil 7: Biohazard se quisesse reconquistar sua base de fãs mais hardcore. Porém, ao invés de simplesmente voltar ao formato clássico, a produtora seguiu a linha dos jogos de horror mais recentes e adotou uma câmera em primeira pessoa para o novo game.

O novo ponto de vista não foi a única mudança: RE7 coloca o jogador no controle de um personagem inédito, Ethan Winters, em uma fazenda no interior da Louisiana, habitada por uma família muito esquisita e assustadora. Durante quase todo o tempo, a ação dá lugar aos puzzles e perseguições, uma referência aos jogos antigos. A franquia ganhou uma vida extra com Biohazard e a Capcom soube aproveitar, ampliando a trama via DLC para encaixá-lo de forma mais clara na cronologia da franquia.

Algo que Resident Evil 7 fez muito bem foi construir uma atmosfera de horror mais intimista e pessoal e a visão em primeira pessoa dá ao jogo o clima de isolamento, enquanto o novo motor gráfico da Capcom fornece a imersão “realista” e os sustos bem posicionados para prender a atenção do jogador. A versão do game para realidade virtual é uma experiência realmente assustadora.

Remasters, remakes e releituras

Ao longo dos anos e principalmente depois do sucesso de Resident Evil 7, a Capcom revisitou os jogos clássicos. Enquanto Resident Evil 4 vira e mexe é relançado para alguma plataforma, ao soprar a poeira e reviver os jogos originais, a produtora optou para explorar outras possibilidades: RE e RE: Zero HD Remasters são versões com gráficos melhores do primeiro jogo e do prólogo lançado originalmente para Game Cube. Já Resident Evil 2 e 3 são releituras dos clássicos do PSOne, com gráficos refeitos na engine de RE7, novas falas e cenas, controles similares aos de Resident Evil 6, lutas de chefe redesenhadas para funcionarem com estes novos controles e assim por diante.

Esses remakes são ótimos para apresentar a franquia para os jogadores mais novos, principalmente aqueles que começaram no sétimo jogo. Há muito o que explorar em Resident Evil para quem está chegando agora - e isso que nem entramos no campo dos derivados, como Revelations e outros, ou nos diferentes games e modos multijogador - Mercenaries merece um texto só para ele.

Como Resident Evil se reinventou nos últimos 25 anos
Capcom/Divulgação

Daqui pra frente...

Resident Evil Village promete novas mudanças para a franquia, e talvez consiga agradar tanto os fãs dos jogos antigos quanto os dos games mais recentes: o jogo adota uma visão em primeira pessoa (RE7), mas com ambientação que remete ao saudoso quarto episódio. Há uma boa quantia de puzzles e ainda mais ação e combate, além de um mercador excêntrico e misterioso. E para inovar, ao invés de um vilão brutamontes e feioso, o novo Resident Evil terá como chefe recorrente a enorme e sexy de um jeito perigoso Lady Dimitrescu.

Nesses 25 anos, a Capcom nunca teve medo de implementar ideias diferentes na série, desde os controles de tanque e mecânicas de quebra-cabeça até o tiroteio cooperativo e o horror pessoal. Manter Resident Evil sempre mudando e se reinventando é, sem dúvida, um dos segredos do sucesso da franquia de horror.