O reboot de Saints Row parece realmente não ser o que os fãs esperam. A convite da Deep Silver Volition, o The Enemy assistiu cerca de 45 minutos de gameplay do novo game em uma sessão hands-off. Do que foi apresentado na experiência, o novo Saints Row parece divertido e caótico, com uma variedade surpreendente de opções de customização. Porém, o título deve desapontar os fãs com seus gráficos aquém da nova geração e seu humor infantil. 

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Feio e colorido

Na experiência hands-off, a Deep Silver informou que a versão apresentada do game representa as etapas finais do desenvolvimento, visto que o time está lapidando o jogo para o lançamento em agosto. Pois bem, fica o receio de que não haja tempo hábil para polir Saints Row de forma que fique a par da 9ª geração de consoles. Os gráficos da versão apresentada parecem feios e não polidos, de qualidade inferior a outros títulos AAA do PS5 e Xbox Series, como os recentes Horizon Forbidden West e Elden Ring

Imagem de divulgação de Saints Row
Deep Silver/Volition

Em geral, as feições dos personagens ainda são muito aéreas e uma boa quantidade de detalhes carece atenção - em uma cena de luta em bar, por exemplo, Boss aparece com os cílios descolados dos olhos, quase encostando nas sobrancelhas. O personagem controlado pelo jogador também se movimenta de forma desengonçada pelo mundo, deslizando desnecessariamente pelo chão nas sequências de luta. Como um bom Saints Row, o game é repleto de destruição e explosões, mas a física dos elementos nesses momentos é especialmente estranha. Mesmo em sequências cinemáticas, vemos texturas não finalizadas, reflexos opacos, sombras serrilhadas e veículos que parecem não encostar no chão ao se movimentar. 

Ainda sim, a estética do jogo é marcante. É nítido o caminho que o time de desenvolvimento quis seguir com o reboot, com uma Santo Ileso repleta de cores vibrantes, luzes neon e prédios deteriorados. É como se fosse uma Las Vegas meio acabada, desgastada pelo deserto que a cerca e pelo constante conflito do crime organizado da cidade. Corroborando para o visual colorido e divertido, as telas de carregamento são compostas por lindos grafites que remetem à cultura mexicana. O México, aliás, parece muito presente no jogo, pois há menção às telenovelas, bandeiras adornam as ruas e algumas das localizações de Santo Ileso levam nomes em espanhol. 

Imagem de divulgação de Saints Row
Deep Silver/Volition

Customização até onde os olhos alcançam

Neste momento, o que mais chama atenção no novo Saints Row é a quantidade surpreendente de customização à disposição do jogador. Do dedão do pé ao topo da cabeça, da arma ao veículo de sua preferência, tudo pode ser alterado em cor e aparência. 

Que tal usar um taco de beisebol adornado por luzes de natal como arma? Ou senão, colocar assentos no estilo cadeira gamer e luz neon abaixo do carro para maior conforto e finesse? Seja nas diferentes lojas e estabelecimentos espalhados pela cidade (e aqui temos o retorno da clássica oficina Rim Jobs, que agora leva o nome Jim Robs) ou no QG dos Saints, o jogador poderá gastar horas customizando seu Boss e acessórios com os formatos, texturas, cores e adornos que bem desejar. O próprio QG dos Saints, uma igreja abandonada no meio da cidade, pode ser decorado com os colecionáveis que forem adquiridos na aventura, sendo possível adicionar estátuas no saguão e letreiros na parede.  

O modo de edição de personagem, inclusive, pode ser facilmente acessado a qualquer momento e de qualquer lugar pelo celular de Boss, que serve como menu do game. Nele, o jogador tem acesso ao mapa, objetivos, side quests, perks, seleção de ataques, upgrades de arma e mais.  

Imagem de divulgação de Saints Row
Deep Silver/Volition

Divertido e caótico

A variedade de personalização também está presente no próprio combate, mostrando-se central para o gameplay, que parece divertido e caótico. Com o celular, é possível adaptar o estilo de jogo a qualquer momento em prol do líder de crime organizado da sua preferência. O jogador pode selecionar até quatro habilidades especiais - dispostas nos botões X, Y, A e B, no caso do Xbox -, que podem ser alteradas a qualquer momento. Além disso, pode-se ativar até três níveis perks, facilitando a adaptação às diferentes situações de combate. Por exemplo, em uma sequência em que Boss invade a sede de Los Panteros, o uso de uma perk que garante resistência ao fogo foi útil para o sucesso da missão. Quanto ao armamento, o extenso arsenal pode ser aprimorado com upgrades de habilidades, aumentando o dano causado. 

Toda a customização disponível é justificada pelo fato de que aprimorar e adaptar o estilo de jogo será importante para a sobrevivência em Santo Ileso, pois cada uma das três facções inimigas possui habilidades e características próprias. Los Panteros, por exemplo, são mais brutos, recorrendo à força física e ataques corpo a corpo. Algo interessante é que, em certas missões, uma espécie de mini-boss da facção pode aparecer para lhe dar uma surra. Na sequência de invasão do QG de Los Panteros, a mini-boss era uma mulher alta e musculosa que causa um dano assustador com o uso de um martelo. 

Cenas de perseguição em veículos também estão de volta com o reboot, e aqui elas parecem brilhar. Em especial, as sequências de carros se destacam, sendo possível subir acima do veículo para poder mirar melhor nos adversários. Contudo, caso opte por isso, o jogador ficará mais exposto aos tiros e explosões. 

Na sessão de perguntas e respostas da apresentação, a equipe da Deep Silver explicou que o co-op para dois jogadores estará disponível durante todo o game. Porém, pouco foi mostrado do modo fora um trecho em que o segundo jogador usa o guincho de seu helicóptero para ajudar a transportar o carro do companheiro de jogo. 

Imagem de divulgação de Saints Row
Deep Silver/Volition

Seu próprio império do crime

Assim como em jogos anteriores, o objeto principal do reboot de Saints Row é construir e expandir seu império do crime. Quanto mais avançar pela campanha, completar missões secundárias e criar estabelecimentos, mais seu império subirá em nível. No QG dos Saints, o novo recurso war table (ou “mesa de guerra”, em tradução literal para o português) permite que você administre seu domínio pela cidade ao construir e aprimorar estabelecimentos criminosos, que vão de bares à lojas como Jim Rob’s Garage. Cada estabelecimento oferece ganho em dinheiro, experiência, desbloqueia novos itens e personagens e proporciona atividades nos arredores, como as chamadas “mayhems” - que, como o nome em inglês sugere, são feitas de “bagunça” ou “desordem”. Nelas, o jogador inicia uma destruição sem freio no cenário, explodindo carros, objetos e até NPCs em troca de dinheiro. 

Outra boa forma de faturar dinheiro e adquirir experiência é por meio das side hustles - as missões secundárias do game. São dezenas espalhadas pelo mapa, e cada uma delas oferece uma variedade diferente de recompensas, que vão a novos modelos de carro, colecionáveis e aumento de notoriedade. As side quests também servem para o jogador interagir e conhecer melhor o elenco de personagens, principalmente o círculo de amigos de Boss, formado por Nina, Eli e Kevin. 

Fortnite do crime organizado?

Por mais que possua ideias criativas e divertidas, o novo Saints Row destoa muito em tom em relação ao restante da franquia - e é aqui que os jogadores de longa data devem torcer o nariz. O humor adulto e ácido pelo qual Saints Row é conhecido aqui foi suavizado consideravelmente, chegando a ser um contraste gritante em relação à realidade de crime e violência de Santo Ileso.   

Nesse quesito, a inspiração em Fortnite é nítida. O novo Saints Row possui emotes, que podem ser usados para interagir com outros jogadores e personagens. Os gestos vão de dancinhas, atirar dinheiro no ar e até mesmo de sacar um violão e começar a tocá-lo, fazendo os NPCs ao seu redor dançarem. Ao dirigir um carro, é possível usar uma saída de emergência para ser propulsionado no ar e sair planando pela cidade. Nesses momentos, o jogador pode fazer um mergulho rasante em direção a um NPC para ser ricocheteado no ar, ganhando impulso e voltando a planar novamente. Outro recurso que mostra o tom mais “cartunesco” do reboot é o explosivo Frost Buster, uma espécie de geleca azul que gruda nos adversários e os faz sair rodopiando pelo ar ao explodir. 

Imagem de divulgação de Saints Row
Deep Silver/Volition

O próprio protagonista, inclusive, possui animações que beiram a um humor mais infantil. Por exemplo, toda vez que lança um explosivo em direção do inimigo, Boss executa um pulo desengonçado (e desnecessário) no ar. Também foi notável a ausência de sangue e palavrões nos trechos apresentados, tirando um pouco da credibilidade de que os Saints são, de fato, lordes do crime organizado.   

Por fim, à primeira vista o reboot de Saints Row vem para adicionar diversão, personalização e diversidade à franquia, mirando acertar um novo público de jogadores. Porém, principalmente diante do tom escolhido, fica a preocupação de que ele não só errará o alvo, como perderá parte dos fãs de longa data.