É oficial: a E3 2021 vai acontecer entre os dias 12 e 15 de junho.

Após a edição de 2020 ser cancelada devido à pandemia de COVID-19 que na época começava a assolar o mundo, a feira de games retorna, agora em formato totalmente digital, já que... a pandemia de COVID-19 continua a assolar o mundo.

Talvez seja difícil de lembrar - considerando que a noção de tempo perdeu o sentido neste último ano -, mas na época em que a E3 2020 foi cancelada a percepção é de que estávamos vendo o último suspiro de relevância do evento.

Afinal, no ano anterior, a Sony - uma das principais empresas da indústria - não participou do evento, e não tinha planos de estar na edição de 2020 mesmo com o PlayStation 5 no horizonte.

A saída da Sony foi grande, mas era apenas a culminação de anos de perda de apoio e "descentralização" da feira. A esse ponto, nem a EA ou a Activision tinham uma presença direta na E3, preferindo fazer seu próprio evento ou participar por meio de intermediários.

Não só isso, existia uma percepção - ao menos entre quem cobria ou acompanhava o evento de perto já há algum tempo - de que a feira parecia cada vez mais ultrapassada, um elemento vestigial dos anos 90 e 2000 que, por mais que tentasse com medidas como abertura para o grande público, nunca conseguia acompanhar tendências mais modernas.

Pelo menos tivemos Keanu Reeves em 2019

A ESA (Entertainment Software Association), organização responsável pelo evento, também não é exatamente a figura mais querida do planeta, com a percepção geral de uma entidade incompetente e quase irrelevante, com seu papel de lobby da indústria no âmbito político questionado e vários problemas incluindo vazamento de dados de analistas e membros da mídia que participaram de E3 passadas.

Por isso, mesmo com várias incertezas, a não-realização da E3 em 2020 poderia ser um momento da indústria de games de tentar algo diferente, menos centralizado em um único evento, mas ainda trazendo o hype por jogos novos pelo qual o público clamava, especialmente agora em isolamento.

Os resultados foram... mistos?

Summer Game Fest/Divulgação

Diversas empresas e organizações criaram seus próprios eventos especiais com vários dias - ou semanas ou meses - dedicados a anúncios e revelações de vários títulos durante o terceiro trimestre.

Entre os principais envolvidos estavam: Geoff Keighley, apresentador e organizador do The Game Awards - que teve seus próprios desentendimentos com a ESA - criou o Summer Game Fest, que foi de maio até agosto; o IGN com o seu Summer of Gaming; a editora britânica Future e seu Future Games Show e o PC Gaming Show; entre outros.

E não é como se estes eventos não tivessem mostrado coisas interessantes, com o Game Fest trazendo Tony Hawk's Pro Skater 1+2 e a demo da Unreal Engine 5 no PS5, ou o Summer of Gaming chocando antigos membros do The Enemy com o retorno de Alex Kidd...

Mas, talvez pela combinação de tantas coisas acontecendo simultaneamente e por um período mais longo de tempo, o foco e interesse do público foi se perdendo. Não só isso, quem acompanhou vários eventos durante aquelas semanas certamente se lembra de ter visto vários dos mesmos jogos de novo e de novo, com quase sempre as mesmas informações sendo repetidas.

(O fato de um evento se chamar Summer Game Fest e outro ser Summer of Gaming também cria um nó de intensidade variável na cabeça)

IGN/Reprodução

Já as apresentações das grandes empresas talvez tenham perdido seu impacto em meio a tudo isso. O showcase da Microsoft tem como principal legado o gameplay de Halo Infinite que virou meme da pior forma possível, e o jogo foi adiado não muito tempo depois; já a Sony fez um bom trabalho com a revelação do PS5 e mais tarde com o State of Play com a data e preço da plataforma, mas ambos foram a exceção de uma campanha de marketing meio perdida nos meses levando ao lançamento do console.

Obviamente isso acabou sendo uma primeira tentativa sob circunstâncias inesperadas, e lições devem ter sido aprendidas - a edição deste ano do Summer Game Fest, por exemplo, vai se limitar apenas a junho -, mas talvez seja preciso de algo central para dar o tom a tudo o que está sendo divulgado e apresentado.

E agora a E3 2021 pode ser isso, especialmente ao manter um cronograma mais enxuto de 3 dias.

A questão maior é: será que a ESA aprendeu alguma coisa neste hiato?

As empresas confirmadas até agora nesta nova edição continuam sendo pesos-pesados da indústria: Microsoft, Nintendo, Capcom, Konami, Ubisoft, Take-Two Interactive, Warner Bros. Games e Koch Media.

(A Sony, pelo visto, ainda prefere ficar de fora e fazer sua própria parada)

Mas de que forma a organização pretende utilizar essas empresas e seus futuros jogos para o evento? Com um formato totalmente digital, que tipo de integrações poderão ser feitas com o público?

Antes, os espectadores eram limitados às grandes conferências, um ou outro jogo ou demonstração e, mais tarde, as impressões da mídia especializada (seja por sites como o The Enemy quanto por alternativas como youtubers) de certos jogos demonstrados no local.

Agora, paradoxalmente, pelo fato de a E3 não ter um local físico, o público pode ter a oportunidade de ter uma experiência mais próxima com os jogos em si.

Christian Petersen / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

A questão é se a ESA, que não fez nada do tipo até hoje e que é conhecida por ser um tanto disfuncional, é capaz de fazer algo do tipo.

Idealmente, uma E3 bem-feita pode ajudar a criar e fortalecer um ecossistema de eventos e anúncios, com grandes eventos contrapondo e reforçando apresentações mais de nicho e com público mais específico.

E, se a ESA não for a entidade capaz de realizar este evento em todo o seu potencial, o ideal é que a indústria como um todo - das publishers aos desenvolvedores à mídia, que criaram vários destes eventos descentralizados - pense em uma solução para isso.

De qualquer forma, devemos ver a resposta mais clara no meio de junho. E, quem sabe, possamos ver algo que junte as forças de eventos digitais e presenciais em uma possível E3 2022.

Se, é claro, a pandemia de COVID-19 tiver deixado de assolar o mundo.