Warzone, o battle royale de Call of Duty completou um ano nesta quarta-feira, 10 de março, e nesses primeiros 12 meses, deu o chacoalhão que a franquia de tiro em primeira pessoa precisava, revitalizando a marca, aumentando o interesse do público nos seus outros jogos e se estabelecendo no disputado pódio dos principais jogos do gênero. Se alguém pensava que o jogo seria fogo de palha, Warzone fechou 2020 com 85 milhões de jogadores ativos.

Um ano atrás, eu escrevi aqui no The Enemy que Warzone apontava a direção do futuro de Call of Duty e gosto de pensar que essa análise se concretizou, tanto nos aspectos positivos quanto negativos. Warzone hoje faz parte não só de um, mas de dois jogos da franquia: Modern Warfare e Black Ops Cold War, títulos diferentes desenvolvidos por estúdios com estilos próprios, mas unidos pelo battle royale. É uma experiência nova e um tanto quanto bagunçada para a Activision, que sempre tratou cada COD como um produto isolado e com tempo de vida bem definido: cada ano é dedicado a um jogo, até o lançamento do próximo. Agora isso mudou e muita gente ainda joga o multiplayer de Modern Warfare em paralelo com Warzone, mesmo com a crescente base de jogadores do novo Black Ops.

Questão de gosto, ou de bolso mesmo. Não é barato comprar o COD do ano no lançamento. Muitos jogadores podem preferir pegar o dinheiro e investir em COD Points para comprar pacotes de skins, armas ou mesmo uma subida de escalão no passe de batalha. Porém, não ter o COD anual coloca o jogador em desvantagem, não só por ficar mais limitado em modos de jogo, mas porque muitas vezes é mais rápido cumprir os desafios para desbloquear uma nova arma superpoderosa jogando algumas partidas rápidas de mata-mata em equipe do que nas partidas de Warzone.

Warzone completa um ano: é hora do jogo deixar Call of Duty para trás?

Personagens clássicos de Modern Warfare, como Ghost, eram as estrelas das primeiras temporadas.

Activision/Divulgação

Explico: uma metralhadora leve que pede por 70 abates com tiros na cabeça usando outra metralhadora será desbloqueada muito mais rápido por um jogador no multiplayer de Black Ops Cold War, que vai colocar os jogadores para trocarem tiros freneticamente em mapas apertados do que por outro que dependa de encontrar 70 oponentes, se aproximar o bastante e acertar o disparo na cabeça, em partidas de longa duração. O que demora poucas dezenas de minutos num COD tradicional, pode levar dias para ser feito em Warzone. E o jogador de Cold War que desbloqueou a arma pode levá-la para suas partidas de Warzone e aproveitar a vantagem.

Fora outras situações: O balanceamento das armas é diferente em Modern Warfare, Black Ops Cold War e Warzone. Ou deveria ser. Muitas vezes um novo equipamento entra no jogo e causa um estardalhaço, para dali uns dias ser "nerfado" por estar apelativo de mais em uma das modalidades - mas acaba ficando inútil na outra. É o tipo de problema que não deveria existir se os jogos fossem separados. Nos últimos tempos o jogo passou a tratar as armas de forma diferente em cada jogo, como foi o caso da DMR 14, que teve ajustes no Warzone mas permaneceu intocada no multiplayer de Black Ops Cold War. O lado ruim disso é para quem joga os dois games e vai estranhar quando pegar sua arma favorita do multiplayer no battle royale.

A real é que a cada novo Call of Duty, a adição de novas armas e acessórios no Warzone, feita por estúdios diferentes, vai repetir e aumentar a confusão. Já temos os itens originais dos tempos de Modern Warfare, as novas armas da era Cold War e no final de 2021, com certeza teremos uma nova enxurrada de itens que vai acompanhar o próximo e inevitável jogo da série.

Warzone completa um ano: é hora do jogo deixar Call of Duty para trás?

Black Ops Cold War foi revelado no evento "Conheça sua História", dentro de Warzone

Activision/Divulgação

Há também a questão do tamanho: um ano atrás, o jogo ocupava cerca de 170 GB, volume que eu considerei um absurdo. Ah, seu eu soubesse onde as coisas iriam chegar.  De lá para cá, o jogo só ficou maior e ocupa um espaço enorme para quem quer manter tudo instalado e atualizado. Sim, é possível desinstalar pacotes que não são utilizados, mas fazer quem baixa apenas a versão gratuita de Warzone ter que desinstalar partes de Black Ops Cold War ou de Modern Warfare que nem deveriam estar ali é, no mínimo, mancada.

A coisa já chegou ao ponto em que o Call of Duty "completo" não cabe em um PS4 com HD de 500 GB. Nos consoles de nova geração PS5 e Xbox Series X/S é preciso escolher entre mante-los num HD externo e sacrificar os benefícios do carregamento rápido no SSD, ou remover muitos outros jogos da biblioteca para jogar apenas Call of Duty.

Separar Warzone dos jogos tradicionais da franquia seria a melhor solução e permitiria ao battle royale evoluir para uma experiência mais dinâmica, leve e pensada 100% para o formato de jogo gratuito. Isso seria ótimo para os jogadores e também para a Activision: só em 2020, a publisher recebeu mais de US$ 500 milhões em microtransações dentro de Warzone. Imagine quanto o jogo renderia se os jogadores não tivessem que comprar também um outro COD no mesmo período.

Warzone completa um ano: é hora do jogo deixar Call of Duty para trás?

Os Call of Duty tradicionais se encontram em Warzone.

Activision/Divulgação

Mas aí é que está o motivo para essa mudança não acontecer. Ao manter Warzone associado aos outros jogos, a Activision impulsiona suas vendas. Black Ops Cold War foi o jogo mais vendido da série e um dos grandes campeões de vendas de 2020. Além daqueles US$ 500 milhões em microtransações dentro do Warzone, Call of Duty como um todo rendeu outros US$ 2,5 bilhões para a publisher. Por mais problemática que seja, a combinação de Warzone com os outros jogos deu muito certo para Call of Duty.

O sucesso de Warzone fez dele o palco para os outros jogos e deve continuar assim por um bom tempo: Black Ops Cold War foi revelado com um evento dentro do battle royale e o mesmo deve acontecer com o COD deste ano. Vai ser interessante ver a série dar a volta completa quando a Infinity Ward anunciar o próximo Modern Warfare e ele "nascer" dentro de Warzone da mesma forma que o battle royale veio do Modern Warfare anterior.