A lista de filmes e séries inspirados em Resident Evil é imensa. Além da saga cinematográfica dirigida por Paul W.S. Anderson e estrelada pela atriz Milla Jovovich, existem os filmes animados canônicos, a série animada da Netflix, uma série live-action também da Netflix e até mesmo um reboot dos filmes live-action chamado Bem-Vindo a Raccoon City. Com esse longo histórico, é de se esperar que existam alguns grandes sucessos apreciados pela maior parte dos fãs, mas... Digamos que não é bem o caso.

Seja em análises individuais de veículos especializados ou pontuações em agregadores como o Rotten Tomatoes (que reúne análises dos principais sites do mundo sobre determinada série ou filme e mostra a porcentagem de críticos que os recomendam), os filmes de Resident Evil costumam ser detonados pela crítica e raramente os fãs se dão ao trabalho de defender as obras. A suposta falta de qualidade técnica, entretanto, não impediu as adaptações de gerarem muito dinheiro (os filmes de Paul W.S. Anderson chegaram a arrecadar mais de um bilhão de dólares em bilheteria).

Claire em Resident Evil: No Escuro Absoluto.

Esse não chega a ser um dado tão surpreendente. Embora algumas pessoas até opinem sem ter assistido, grande parte do público se dá ao trabalho de pagar e assistir antes de comentar. Sabemos como são os fãs: mesmo que eles estejam convencidos de que uma adaptação será ruim, não ha motivo para se recusar a assistir quando a oportunidade surge. Certo? Tanto que Resident Evil 6: O Capítulo Final teve a maior bilheteria mundial da franquia (US$ 312.242.626). Todos que a conheceram queriam saber como seria o fim da história de Alice, mesmo que poucos estivessem realmente preocupados (ou será que todos estavam?). De uma forma ou de outra, a curiosidade falou mais alto.

O sucesso comercial desses filmes, assim como de qualquer outro produto, é excelente para que a Capcom perceba, por meio de uma resposta mercadológica, quão valiosa a série Resident Evil continua sendo. Isso significa, naturalmente, que mais jogos serão lançados e os fãs não serão esquecidos tão cedo. Não há motivo para torcer pelo fracasso das adaptações, já que, ao menos em um ponto, todos os fãs da franquia devem concordar: ainda queremos muitos outros produtos para aproveitar esse universo pelo qual nos apaixonamos, seja na forma de jogos ou outras mídias (como os livros de S.D. Perry, por exemplo, que podem ser divertidos para quem estiver disposto a relevar alguns pontos).

Nemesis em livro de Resident Evil.

Ao mesmo tempo em que existe o lado positivo das adaptações, é difícil não sentir certo receio sempre que ouvimos falar em um novo filme ou série de Resident Evil. Enquanto consumidores, muitos só querem se sentir satisfeitos com o que está sendo exibido e, infelizmente, essas pessoas tendem a sair extremamente frustradas ao fim da experiência. Isso vai muito além de "quão fiel" a adaptação é ao material original ou qualquer coisa do tipo. Tem a ver com o excesso de galhofa presente em absolutamente todas as histórias inspiradas nos jogos. Tem a ver com não existir nem um elemento sequer que funcione realmente bem.

Você pode pensar: "mas as histórias dos jogos também são meio toscas." Verdade. Contudo, os jogos contam com um fator importante: interatividade. Mesmo que você não se interesse pelos arquivos de texto (não os ignore, por favor), que ajudam a contextualizar cada game, ou nem saiba os nomes dos personagens, o fator de interatividade, que é o que caracteriza um jogo, está lá. Mais do que isso: os jogos funcionam muito bem. Ao menos na jogabilidade, a Capcom costuma acertar quando novos Resident Evil são lançados. Resident Evil 7, Resident Evil 2 Remake, Resident Evil Village; todos esses jogos são muito elogiados pelos críticos e pelos fãs. Resident Evil 3 enfrentou maior resistência, mas isso teve mais a ver com questões relacionadas ao fato de ser uma recriação de um game extremamente icônico e também com o fato de que era similar demais a Resident Evil 2 Remake.

Resident Evil Vendetta.

Quando o fator interatividade é removido, algo precisa ser feito. Então, o que as séries e filmes fazem? Capricham um pouco mais na história? Criam encontros entre personagens que nunca vimos juntos? Desenvolvem relacionamentos de maneira que os jogos de terror não permitem tão bem? Acrescentam informações legais à mitologia da série? Não. Fãs são "presenteados" com cenas de ação bizarras, histórias com nível semelhante ou inferior ao dos piores jogos e personagens que parecem ainda menos interessantes do que nos games.

Tudo bem, sabemos que galhofa vende. Velozes e Furiosos está aí para mostrar que essa continua sendo uma verdade absoluta. Mas será que essa precisa ser a resposta para literalmente todos os filmes e séries? Não rola variar pelo menos um pouco? No Escuro Absoluto tinha potencial para ser um reencontro memorável entre Leon e Claire, por exemplo, mas os dois mal se encontram ao longo da história. E por que colocar vilões megalomaníacos no centro do enredo? Por que não seguir com a abordagem de Resident Evil 7, por exemplo, levando os personagens de volta para um ambiente mais intimista e, naturalmente, mais aterrorizante (caso decidam seguir com o terror)?

Claire e Leon em Resident Evil Degeneração.

Evidentemente, essas decisões não são tomadas sem motivo. Pode ser que os executivos da Capcom tenham decidido que os filmes e séries seriam arriscados demais se resgatassem o terror ou dedicassem muito tempo aos personagens. De qualquer forma, é triste não ter pelo menos um exemplo de como seria uma adaptação de Resident Evil que respeitasse os próprios protagonistas e a própria mitologia.

Por enquanto, só nos resta continuar sonhando.