É provável que nada na última década tenha deixados os jogadores tão esperançosos quanto Cyberpunk 2077. Após o absoluto sucesso de The Witcher 3: Wild Hunt, as expectativas em torno do próximo grande jogo da CD Projekt eram imensas. Entretanto, você sabe muito bem como essa história acaba.

Keanu Reeves e V em Cyberpunk 2077.

Criticado por uma infinidade de bugs, além de oferecer uma história com menos nuances do que se imaginava, o lançamento de Cyberpunk 2077 entrou para a história como um dos mais desastrosos de todos os tempos — na minha experiência cobrindo a indústria, foi o pior, com certeza, embora a trilogia definitiva de GTA chegue bem perto.

Para acalmar um pouco o público, que estava devastado com o produto entregue, a CD Projekt prometeu uma série de melhorias que seriam lançadas com o tempo. Um ano depois, boa parte dessas atualizações foi entregue. No entanto, será mesmo que as alterações foram suficientes?

Um novo começo

Prédios de Cyberpunk 2077.

O primeiro pensamento de quem iniciar Cyberpunk 2077 em 2021 será, provavelmente, positivo: existem muito menos bugs. Digo isso por experiência própria: quando joguei pela primeira vez no PS4, lá em dezembro de 2020, foi surpreendido com uma quantidade inacreditável de falhas, além do fato de que o jogo simplesmente parava de funcionar às vezes.

Um ano depois, no PlayStation 5, a performance é muito mais estável. Inclusive, tudo que eu disser neste texto é sobre a versão de PS5.

V deixou de ficar presa em pontos completamente aleatórios do mapa, em que ela jamais deveria ter sequer entrado. Corpos pararam de explodir quando V os soltava no chão pacificamente. Todos os gatilhos das missões passaram a funcionar normalmente em vez de simplesmente não acontecerem.

V observando Night City.

Há correções em praticamente todos os aspectos de Cyberpunk 2077, portanto, se esse era o principal problema que as pessoas tinham com o jogo, uma segunda tentativa tende a ser menos frustrante agora.

No entanto, é óbvio que ainda existirão coisas bizarras acontecendo, como pessoas atravessando objetos, NPCs ignorando completamente determinados acontecimentos ou se assustando por simplesmente verem um carro se aproximando; Cyberpunk 2077 passou por correções fundamentais, mas ainda parece um jogo inacabado.

Experimente jogar GTA 5, um jogo de quase 10 anos atrás, e comparar o nível de sofisticação da inteligência artificial entre ambos os jogos. Chega a ser inacreditável que um produto da Rockstar de 2013 é tão absurdamente superior a Cyberpunk 2077 em praticamente todos os sentidos, com exceção de iluminação e visual — jogar Cyberpunk 2077 em um PC que rode o jogo no Ultra é mágico.

Correções bastam ou é preciso ir além?

Judy em Cyberpunk 2077.

A princípio, muitos jogadores podem pensar que Cyberpunk 2077 é uma obra-prima escondida em um amontoado de falhas que, uma vez removidas, trarão à superfície uma experiência única. Bom... Digamos que isso não é exatamente verdade.

Com certeza existem muitas qualidades quando pensamos na maneira como Cyberpunk 2077 funciona. Há muitos ataques especiais desbloqueáveis por meio dos chips de V que podem ser modificados, existem personagens aos quais nos apegamos (Judy, principalmente), temos núcleos completamente diferentes em regiões diferentes do mapa, grupos sobre os quais podemos aprender cada vez mais. Imersão não é, nem nunca foi, um problema em Cyberpunk 2077.

Distrito oriental em Cyberpunk 2077.

Quando falamos de jogabilidade, entretanto, parece que ainda falta muita coisa. A Neurodança Cerebral, por exemplo, em que jogadores podem observar o passado de maneira absurdamente detalhada, foi vendida como um recurso que seria importante no jogo, mas acabou sendo utilizada somente em alguns poucos enigmas nada complexos.

O mesmo pode ser dito sobre as escolhas. Em tese, as decisões de V mudam completamente o destino dela e daqueles ao redor. Isso até é verdade, mas as possibilidade são bem limitadas. V tem um desfecho negativo e outro menos negativo em cerca de três contextos diferentes, independentemente do que o jogador faça.

Carro em Night City.

As opções românticas trazem algumas nuances a mais, mas também estão longe de ser o bastante. Além disso, seria tão melhor se alterar acontecimentos verdadeiramente impactantes fosse possível, como aquelas cenas que nos deixam com a pulga atrás da orelha nos perguntando: será que dá pra mudar isso aqui?! Aí, você vai ver e... Descobre que não dá.

É óbvio que toda história precisa de acontecimentos fixos, mas existem tantas oportunidades perdidas em Cyberpunk 2077 que chega a ser triste.

Atenção aos detalhes? Quase zero

Praça vazia em Cyberpunk 2077.

Talvez muitos jogadores nem se preocupem com isso, mas o mundo de Cyberpunk 2077 oscila constantemente entre o dinamismo de paisagens vivas e a monotonia de habitantes mortos. A arquitetura de Night City é simplesmente maravilhosa, com prédios totalmente diferentes uns dos outros, bairros super diversificados e cenários maravilhosos — principalmente, na chuva.

Entretanto, os NPCs de Cyberpunk 2077são tão, mas tão sem graça. Muitos vendedores de barraquinhas, por exemplo, são posicionados em pontos totalmente aleatórios e apenas encaram o vazio, sem sequer mexer o corpo ou a cabeça quando nos aproximamos. O mesmo vale para quando eles supostamente falam com V: não há qualquer sinal de vida.

Carro derrapando em Night City.

Cadáveres ambulantes. Pode ser que essa seja a melhor definição para os NPCs utilizados apenas para preencher Night City. É algo absurdamente triste, quando pensamos, por exemplo, em GTA 5, novamente, jogo no qual gatilhos diferentes despertam reações diferentes na maior parte dos cidadãos.

A completa ausência de nuances no comportamento dos demais componentes humanos de Nighty City já foi mais grave, embora continue sendo um problema considerável quando pensamos em quão mais amigável seria aquele mundo se V estivesse rodeada por NPCs mais bem pensados — e mais numerosos, já que a versão de PlayStation é, muitas vezes, completamente deserta.

Vale a pena?

V masculino em Night City.

Que pergunta difícil.

Se você tem dinheiro e está disposto a ver como o jogo funciona, agora que existem menos bugs, vá em frente. De forma geral, ainda é um RPG digno em muitos aspectos, mesmo que esteja distante de ser aquela obra revolucionária pela qual tantas pessoas esperavam.

Agora, se você realmente quer experimentar Cyberpunk 2077 somente quando o jogo estiver próximo do estado ideal, ainda terá de esperar por muito tempo. Talvez até dezembro de 2022 a CD Projekt consiga mostrar tudo de que Cyberpunk 2077 é capaz. Antes disso, é absolutamente improvável.