A cartinha que acompanha The Witcher 3: Wild Hunt já seria razão suficiente para a aquisição do game. Nela, a CD Projekt Red explica que, em respeito ao apoio de seus clientes, fornecerá gratuitamente nada menos que 16 downloads de aprimoramentos e expansões.

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É um atestado de confiança ousado e extremamente seguro. Romântico até, já que vai na contramão de toda a indústria de videogames hoje. E especialmente forte se considerarmos que a empresa polonesa opera com uma fração dos recursos de uma Bethesda, de uma Rockstar ou de uma BioWare. Em um momento em que jogos saem banguelas (Evolve, estou falando com você) ou imperfeitos, a produtora europeia dá uma aula de atenção aos seus consumidores e apreço à arte dos games com a decisão de não cobrar por DLCs.

Como se isso fosse necessário. A mera extensão do game já faria valer a compra. O RPG The Witcher 3: Wild Hunt é vasto, repleto de missões e situações, com uma história caprichadissima, bastante elaborada e contada por meio de belas sequências animadas.

A história acompanha o Witcher (classe de caçadores de recompensas criados através de mutações alquímicas) Geralt de Rivia em uma jornada que começa em busca de mulheres de seu passado. Primeiro Yeniffer, amor antigo. Depois Ciri, sua pupila em perigo graças aos poderosos integrantes espectrais da Caçada Selvagem, que a desejam pelo sangue mágico.

Aos poucos, o belo game vai se tornando mais entranhado em política e um sem-fim de interessantes personagens passam pela tela. A CD Projekt Red sabe como usar seus recursos no que realmente importa.

Entre uma missão principal e outra, Geralt se depara com quests secundárias que são a verdadeira alma do game. Diferente da maioria dos jogos, tais objetivos contam aqui uma história paralela instigante. A cada breve missão, fragmentos da história local são contados, usando animações ou - mais sutilmente - o ambiente, conectando-se a trechos de outros momentos. A história completa dessas aventuras paralelas é pouco relevante para a trama central, mas estofa o atribulado mundo de The Witcher 3, sua guerra civil e as vítimas da devastação que herdaram. Explora-se assim a estrutura social desse lugar e suas mudanças regionais.

Nessas paragens desoladas, o protagonista vaga em um verdadeiro atoleiro de opções. Há tanto o que ver e fazer que é frequente a sensação de talvez existam oportunidades melhores do que perseguir um contrato específico. Ainda que muitas vezes tais quests estejam entre as mais divertidas possibilidades do game.

Esses contratos para caçar monstros, afinal, formam a base da profissão do protagonista e tais objetivos são divididos entre diversas fases. Há que se investigar circunstâncias, identificar o tipo de ameaça, estudá-la e se preparar para o embate, já que cada monstro exige um tipo específico de magia, óleo, poção ou bomba - e preparar cada uma delas pode tomar tempo, dinheiro e paciência. E, quem sabe, exigir um upgrade ou outro antes do enfrentamento. Mas tudo isso de maneira mais simplificada em relação a Witcher 2, certamente visando uma expansão de público - o que deve irritar os puristas.

De qualquer forma, a árvore de aprimoramentos de personagem continua colossal, com um sistema interessante de "mutágenos". Nele, Geralt pode amplificar habilidades físicas, mentais ou atributos ao combinar cores de cada ramo a dotes específicos. As possibilidades são, como a extensão dos mapas, gigantescas.

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Graficamente, o mundo de Witcher 3 acompanha o esmero do roteiro. A história também está nos detalhes, na qualidade da decoração e no visual das vilas arrasadas, dos fortes protegidos ou das masmorras abandonadas. O jogo é lindo, digno da nova geração, ainda que tenha problemas de colisão e de câmera.

Mas, se tais erros costumam ser perdoados em jogos de mundo aberto de grandes produtoras, não há nem o que dizer dessa abusada empresa polonesa, que conquistou um verdadeiro Everest com 200 funcionários. Muitos problemas serão resolvidos em atualização - e o produto que já está nas lojas já saiu melhor acabado do que o de muitas megacorporações por aí.

Pouco importa também que, em termos de jogabilidade, quase todas as ideias em The Witcher 3 já tenham sido encontradas em outros grandes games. É a atenção ao detalhe, a qualidade narrativa e a riqueza do mundo que tornam este RPG uma das melhores aquisições possíveis para a atual geração de consoles.

The Witcher 3: Wild Hunt está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC. A versão testada foi a de PlayStation 4.

Nota do crítico