Das primeiras "cutscenes" em um videogame à introdução de mecânicas inovadoras, como furtividade, Pac-Man marcou a história dos jogos eletrônicos por ser pioneiro na exploração de elementos de gameplay que não existiam em games lançados até então.

A maior parte de seu sucesso, no entanto, se deve à mistura de uma jogabilidade simples, mas desafiador. Fácil de entender para quem estava começando, mas difícil de dominar – uma combinação perfeita para os entusiastas de arcades do começo dos anos de 1980, sempre em busca de uma pontuação maior.

Mas por mais que o trabalho de Toru Iwatani seja icônico e continue uma experiência divertida até hoje, é impossível negar que Pac-Man ainda é um produto de seu tempo, e que não é sem suas imperfeições – principalmente quando falamos das limitações técnicas de um jogo que acabou de completar 40 anos de idade.

Para os entusiastas de arcades, a mais notória destas falhas seria o infame glitch do nível 256, fase de Pac-Man em que o título de arcade "quebra" completamente, com a parte direita do mapa do jogo desaparecendo e sendo substituída por um emaranhado de letras e números coloridos e sem sentido. Veja abaixo:

Na prática, o glitch é um fenômeno conhecido como integer overflow, evento no qual uma operação tenta criar um valor que está fora do intervalo que pode ser representado pelo número de dígitos determinados por um programa – seja um valor acima ou abaixo o limite possível.

No caso do arcade da Namco, o overflow ocorre pois Pac-Man representava cada uma de suas fases através de três dígitos representados por sequência binária de oito bits – ou seja, uma sequência que pode ser representada como (00000000), (11111111) ou qualquer outra combinação de 0s e 1s. Com isso, o nível 001 de Pac-Man era representado pela notação (00000000), enquanto o nível máximo, 255, era (11111111).

Ao chegar ao nível 256, o jogador obrigava o game a colocar +1 bit na sequência binária, o que a forçaria a se tornar um (100000000) – no entanto, como um nono bit não existe, o jogo interpretava o resultado como (00000000), ou o inexistente nível 000. Esse nível 000, por sua vez, interferia nos cálculos do código do jogo para representar as imagens no display de fases, efetivamente quebrando metade do cenário.

Por conta do glitch, o nível 256 também marca o final de Pac-Man, já que o erro elimina algumas das bolinhas que estariam no mapa, o que impede que o jogador colete todas exigidas pelo jogo para avançar mais um nível. Assim, a pontuação máxima possível de Pac-Man é 3.333.360 pontos, atingível também no nível 256.

O glitch, é claro, é uma combinação das limitações técnicas do jogo clássico de arcade com erros de programação, mas, em tese, não deveria ser um problema para o jogo. Isso porque, com a dificuldade incremental de cada nível, com os fantasminhas ficando cada vez mais “espertos” na sua corrida contra Pac-Man, a expectativa é que jogadores perderam todas suas vidas muito antes do nível 255 – e a tela “game over” resolveria a situação antes mesmo dela virar o problema.

O que a Namco não contava, no entanto, é com os jogadores ávidos por Pac-Man que desafiariam essa dificuldade incremental até levar o sistema ao limite matemático – encontrando o temido nível 256 do jogo e tentando chegar à pontuação perfeita de 3.333.360 pontos.

De acordo com a plataforma Twin Galaxies, responsável por manter registro e verificar recordes ligados aos games, oito jogadores atingiram a conquista da pontuação máxima até hoje.

Apesar de toda mitologia por trás do glitch, poucos imaginariam que sua popularidade seria tanta a ponto de se transformar em um spin-off de Pac-Man – ainda por cima, com a benção da própria Bandai Namco.

Dessa ideia que surgiu Pac-Man 256, lançado em 2015 como parte das comemorações dos 35 anos de Pac-Man, um jogo que homenageia do antigo bug do título de arcade e o transforma em um jogo completamente novo.

Produzido pela Hipster Whale (do popular Crossy Road) em parceria com a 3 Sprockets, Pac-Man 256 mantém a essencia de Pac-Man tradicional: um Come-Come avançando por um cenário labiríntico, engolindo bolinhas e evitando fantasmas no caminho.

O jogo, no entanto, adota um mapa ao estilo endless runners e em perspectiva isométrica, além de contar com uma série de habilidades especiais para que o protagonista possa eliminar os fantasmas ao redor.

Para justificar o nome do jogo, enquanto o jogador persiste e avança no mapa infinito, é constantemente perseguido por um glitch eterno que avança sobre o mapa e devora tudo o que surge no caminho. Veja abaixo:

Originalmente lançado para iOS e Android como um título free-to-play, Pac-Man 256 conquistou uma base saudável de fãs e foi elogiado por jogadores e pela crítica especializada. Eventualmente, o jogo seria portado para PlayStation 4, Xbox One e PC pela Bandai Namco Studios Vancouver, recebendo novos conteúdos especiais.