Para os dias de hoje, um jogo com mecânicas stealth, protagonista marcante e inimigos poderosos, que eliminam rapidamente o jogador, não é nenhuma novidade. Nos anos 80, entretanto, conceitos como esses eram inovadores, e foram reunidos em apenas um título: Pac-Man.

Lançado em 1980, o tradicional game da bolinha que come tudo o que vê perdura até hoje, com adaptações 3D e dezenas de jogos espalhados por quase todas as plataformas imagináveis.

Apesar da grande magnitude, tudo começou com um game bem simples: basta coletar todas as bolinhas de um labirinto enquanto foge de fantasmas para avançar.

Mesmo com tanta simplicidade, Pac-Man já destoava em uma época em que jogos de nave dominavam a indústria. O clássico Asteroids foi disponibilizado um ano antes, em 1979; Space Invaders, outro grande exemplo, é de 1978.

A bolinha amarela ganhou destaque por exibir um protagonista carismático, que tinha uma imagem própria e não era apenas uma nave ou um humano genérico. Pac-Man tinha nome, rosto e identidade própria, algo que foi só evoluindo ao longo dos anos.

Reprodução/Hanna-Barbera

O sucesso do personagem era nítido; anos antes de Mario e Sonic assumirem seu papel como os maiores mascotes do mundo gamer, Pac-Man teve seu próprio desenho animado em 1982, produzido pela Hanna-Barbera - a mesma de Flintstones, Jetsons e tantos outros.

A franquia foi utilizando essa imagem como um de seus alicerces de crescimento. Um protagonista marcante abria espaço para vários produtos multimídia e também para colecionáveis, pelúcias e coisas do tipo.

Claro, o saudoso Come-Come não é mais a grande referência de personagem. O encanador e o ouriço azul tomaram o seu lugar de assalto, juntamente com outros nomes menores como Alex Kidd. Ainda assim, Pac-Man mostrou que era possível criar um produto multimídia por meio dos games.

O início das cutscenes

Pac-Man é normalmente citado como o primeiro jogo a usar animações. Por mais simples que sejam, as cenas animadas não faziam parte da jogabilidade em si, trazendo um momento de respiro ao jogador.

Claro, as cutscenes de 1980 eram bem simples, mas ainda assim traziam uma fortíssima originalidade e até mesmo um elemento cômico - algo que, possivelmente, auxiliou o protagonista a ganhar o status de fenômeno da cultura pop.

Dito isso, é praticamente impossível imaginar como seriam os games de hoje em dia sem suas cutscenes. Grandes aventuras narrativas, como Final Fantasy VII e o mais moderno Death Stranding simplesmente não fariam sentido sem suas animações.

Gameplay simples e inovador

Não foi apenas nas multimídias que a bolinha amarela ganhou destaque. Seu gameplay era bastante inovador para a época, principalmente por trazer um protagonista frágil e que raramente está pronto para o combate.

Até os dias de hoje, games se dividem entre aqueles cujo protagonista está sempre pronto para o perigo - como um Devil May Cry, por exemplo - e os que tem um personagem principal não tão poderoso, ou, ao menos, mais fraco do que seus inimigos.

O segundo gênero foi praticamente fundado por Pac-Man que, naturalmente, é derrotado apenas ao encostar nos fantasmas que o perseguem.

O game também introduz uma mecânica básica de power-ups, as bolinhas maiores que permitem a caçada contra os fantasmas. Há ainda o início de uma jogabilidade stealth, afinal de contas, é importante que os fantasmas não te encontrem.

Na verdade, o game é tão pioneiro no gênero stealth que já chegou a ser citado por Hideo Kojima como uma das inspirações para o primeiro Metal Gear, de 1987. O game possui uma espécie de labirinto repleto de policiais que estão correndo atrás de Snake.

Completando 40 anos de idade, Pac-Man já trazia ideias bastante à frente de seu tempo - não à toa, é uma franquia enorme até hoje. Mesmo que tenha surgido como um simples game 2D, o Come-Come revolucionou a indústria, e não é exagero dizer que ajudou a moldar os games até os dias de hoje.