No Brasil, é quase impossível não lembrar do PlayStation 2 sem associá-lo diretamente à pirataria.

Os preços baixíssimos dos DVDs colaboraram para que o console estourasse em vendas no país e no mundo, marcando a última geração em que o mercado alternativo de jogos teria grande influência na indústria.

Lançado em 2000, o PS2 só iria enfrentar a pirataria algum tempo depois, com a ascensão do famigerado chip Messiah. Por mais que a data de criação do componente seja incerta, uma rápida pesquisa aponta que ela aconteceu um ou dois anos depois do console chegar aos mercados.

Já em 2002, a Sony se defendia das investidas feitas pelo Messiah: a empresa foi indenizada em 60 mil libras após vencer processo contra a Channel Technology, empresa que fabricava o chip.

A Channel Technology alegava que o chip era legal, pois acabava com a restrição regional do console - jogos NTSC poderiam rodar em consoles com configuração PAL, e vice-versa. Entretanto, o júri acreditou que o Messiah abria precedentes para espalhar a pirataria.

Como todos já sabem, esses 60 mil dólares passaram longe de serem suficientes para frear a pirataria do console: além do Messiah - que chegou a ganhar uma segunda versão, o Messiah 2 -, existiam os chips Thunder, Matrix, Murano, Mars, Ghost2, Magic e vários outros nomes, todos com diferentes modelos e até mesmo suas próprias falsificações.

O estrago já estava feito; controlar um mercado que ganhou vida própria se tornou praticamente impossível para a Sony. A empresa até venceu um outro processo em 2004, dessa vez contra o civil David Bell, acusado de vender mais de 1500 unidades de chips de modificação para o console, mas a pirataria do PlayStation 2 já era uma epidemia.

Muitos jogos e com várias versões

Por mais que o primeiro PlayStation também tenha sofrido com pirataria, a maior abrangência da internet banda larga no Brasil pode ter sido um dos fatores para expandir esse fenômeno no PS2. A facilidade de se encontrar e baixar arquivos na web pode ter ajudado a espalhar os games ilegais pelo país.

No auge do console, era rotineiro encontrar pacotes de 5 games vendidos a 10 ou 15 reais - quiçá até menos. Há ainda aqueles que preferiam gravar os próprios jogos, baixando os arquivos pela internet e depois gravando em uma mídia virgem.

Com o barateamento absurdo, era fácil ter bibliotecas extremamente grandes, mas quase impossível de se comprometer em zerar essa vastidão de jogos. Pérolas como God of War, GTA San Andreas, Shadow of the Colossus e Kingdom Hearts surgiram nesse meio e conseguiram destaque para sobreviver, cada um de sua forma, até os dias de hoje.

Ao mesmo tempo, os clássicos “jogos de filme” também infestavam as lojinhas da época: Os Incríveis, Homem-Aranha e até mesmo G.I. Joe: The Rise of Cobra ganharam suas versões em video-game, chegando às coleções dos jogadores e sendo quase sempre esquecidos.

Além de praticamente obrigar os jogadores a ter um enorme porta-CDs, a pirataria permitia também que a cultura dos mods chegasse ao PS2. Quem não lembra das inúmeras versões de GTA San Andreas que permeavam os camelôs? GTA Rio de Janeiro, GTA BOPE e tantos outros também marcaram época no PlayStation 2.

Para os fãs de Guitar Hero, também era possível modificar as músicas que estavam dentro do game. Daí, surgiram títulos como Anime Hero, Guitar Hero Brazucas e até mesmo o Guitar Hero Gospel.

Vendas lá em cima

A pirataria certamente foi um fator para que o PlayStation 2 tivesse, possivelmente, a vida útil mais longa da história dos consoles. O aparelho foi fabricado durante doze anos, e o suporte da Sony ao console chegou a incríveis dezoito anos, sendo encerrado apenas no dia 7 de setembro de 2018.

Não obstante, o PS2 lidera com folga a lista de consoles mais vendidos de todos os tempos: o analista Daniel Ahmad afirma que, em 2012, o aparelho já havia vendido 155,1 milhões de unidades. Desde então, o número exato de vendas é bem impreciso, mas algumas estimativas não oficiais arriscam números que se aproximam dos 160 milhões.

O Nintendo DS fica um pouco atrás, com 154 milhões de unidades vendidas, mas quando a briga é apenas com consoles de mesa, a disparidade fica mais cara: em julho de 2019, Daniel Ahmad afirmou que o PlayStation 4 alcançou as 102,8 milhões de unidades, chegando ao segundo lugar na lista de consoles de mesa mais vendidos da história.

O impacto nas outras gerações

Com a chegada do PlayStation 3, a Sony puxou o freio de mão da pirataria, reduzindo muito a incidência de aparelhos que rodavam jogos piratas. Eles até existiam, mas em menor quantidade graças aos recursos que eram perdidos ao modificar seu console.

Nós fizemos pesquisas sobre isso. Muitas pessoas sabem da possibilidade da pirataria, mas também sabem o que você pode perder indo por esse caminho”, disse Atindriya Bose, gerente nacional da Sony Computer Entertainment India ao IndianVideoGamer em 2011, afirmando que o impacto da pirataria no PS3 não “chegou perto” do sofrido pelo PS2.

Você perde a experiência online e conectada, assim como os benefícios de novos firmware. Há um segmento de jogadores que seguiram o caminho da pirataria, e enquanto isso não impactou significativamente as vendas dos jogos de PS3, não deixou de abaixar a taxa de crescimento que nós estávamos vendo”, completou.

Ainda que a pirataria tenha marcado presença em praticamente todas as iterações do PlayStation, é fácil reconhecer que o PlayStation 2 sofreu muito mais com ela do que seus consoles irmãos. Por bem ou por mal a história dos jogos falsificados praticamente se confunde com o console mais prolífico de todos os tempos.