Uma obra de arte fala muito das inspirações de seu criador. Tarsila do Amaral, por exemplo, é conhecida mundialmente por suas obras como Abaporu, Operários e O Manacá. Ela teve como inspiração Pablo Picasso e Fernand Léger, pintores que conheceu pessoalmente. Picasso, por sua vez, se inspirou na arte africana tradicional antes de criar o cubismo.

Trazendo essa analogia para o mundo dos videogames, vira e mexe a gente vê um jogo que se inspira em outro e, com isso, vai criando um movimento de evolução. Antes de The Legend of Zelda: Breath of The Wild mudar radicalmente os games de mundo aberto, outros vieram para inspirá-lo, como Skyrim.

Por vezes, os produtos resultantes das inspirações não conseguem alcançar aquilo que estava como objetivo, mas chega bem perto e até cria uma identidade própria. É nesse ponto em que se encontra Genshin Impact, que faz claras as suas referências a Breath of The Wild, mas ao mesmo tempo mostrando a sua própria personalidade.

Tower of Fantasy também se inspira em diversas fontes e faz questão de mostrá-las. Temos um amálgama de Genshin Impact, Dr. Stone, Bayonetta e Honkai Impact - sendo esse último até mais simbioticamente ligado a ele. Entretanto, me parece que faltou aquele apego aos detalhes que diferencia uma obra de arte de algo estritamente comercial.

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Não entenda mal, Tower of Fantasy tem sim seus pontos positivos que saltam aos olhos. O mundo de Aesperia, por exemplo, é vivo e colorido, mesclando a ideia de um universo futurista com o selvagem. Porém o que eu mais gostei foi do sistema de batalha.

A ideia do game é fazer combos entre as armas que seu personagem usa e explorar as fraquezas de seus inimigos. A variedade é bem vasta e vai desde o primitivo arco e flecha, a canhões de energia e revólveres laser. 

Esse é o ponto onde Tower of Fantasy tem sua principal força: o sistema de combate. Cada arma possui uma variedade de usos e combos próprios e se você conseguir dominar a arte de se esquivar na hora certa, vai conseguir criar um campo de velocidade reduzida para criar mais combos (como o Witch Time, de Bayonetta).

Os golpes são rápidos, poderosos e ficam ainda mais bonitos com os efeitos vibrantes e explosivos. Atacar no meio do salto inicia combos aéreos que drenam a resistência, aumentando a dinâmica da batalha. Logo você se acostuma pular de um inimigo para o outro, independentemente da arma que estiver empunhando, fazendo combos incríveis.

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Outro fator interessante é o sistema de Ressonância que permite que você ganhe bônus ao equipar certo tipos de armas. Por exemplo, equipar duas ou mais armas do tipo DPS ativa o bônus de ataque, o que aumenta seu dano, enquanto usar duas ou mais armas do tipo suporte aumenta sua taxa de cura. Este não é um recurso integral, mas adiciona um bom incentivo para pensar na sua build.

Cada arma tem um poder especial e é pensando nos combos e como eles se mesclam com os poderes especiais que você cria um estilo de jogo que se encaixa com o seu jeito de jogar. E isso é muito divertido.

Porém, minha maior crítica a Tower of Fantasy está em sua narrativa, contextualização e aprofundamento do lore apoiado em pilhas de clichês e pontas soltas. Um grande exemplo disso é a velha desculpa de dar ao jogador um personagem amnésico que precisa aprender tudo novamente sobre seu mundo e seus poderes latentes. 

Após uma curta cena de abertura, você vai ser apresentado ao belo mundo de bela Aida, onde você se vê cercado por rostos amigáveis que vão contando um pouco sobre o mundo do jogo. 

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O título se passa no futuro, no mundo de Aida, uma colônia espacial da Terra estabelecida no ano de 2516. A humanidade estava próxima de um novo ápice tecnológico e a descoberta de um cometa que possui Omnium, uma fonte de energia quase inesgotável, possibilitaria avanços científicos por séculos.

Para capturar o cometa e sua fonte de energia, a Tower of Fantasy foi construída em 2659, mas apenas 5 anos depois uma explosão irradiou toda a colônia de Aida com radiação Omnium, devastando a civilização quase por completo. O Omnium acaba se tornando uma desgraça para o povo de Aida e transformando as pessoas em seres descontrolados, que atacam tudo ao seu redor. 

É nesse mundo que você é apresentado para o seu personagem, porém essa história nem ao menos é apresentada dentro do game. Tudo isso que você leu nos parágrafos anteriores foi extraído do site oficial.

No geral a narrativa é apressada e em um piscar de olhos acaba sendo soterrado por termos complexos, tabus, crenças, preconceitos e subtramas. Porém, o roteiro que mais me interessaria seria: “quem diabos sou eu?”. Entretanto, quando o nosso personagem tem a oportunidade de buscar mais informações sobre si mesmo, acaba deixando isso de lado e vai fazer outra coisa mais importante, tipo… pegar frutas podres no chão.

Mas além de uma premissa insossa, ToF peca por ter pressa em fazer com que o jogador se vicie no sistema de gatcha, nem se dando ao trabalho de criar algo que faça você desejar os Simulacros e suas armas. Os Simulacros são personagens poderosos e que suas armas são únicas e muito especiais. 

Isso é até compreensível quando jogos têm em suas mãos franquias famosas, como o recente Cavaleiros do Zodíaco. No caso de ToF me questiono “o que faz Samir ser mais especial do que a Hilda?”. Quando você se toca que os Simulacros, no fim das contas, acabam sendo apenas “Skins” para seu personagem e o que importa mesmo são suas armas, a fantasia acaba na hora.

Senti que ToF tem mais pressa em fazer com que o jogador gaste seu rico dinheirinho do que criar um motivo para desejar esses personagens além do poder bruto de suas armas e isso me incomoda bastante.

Por sorte o jogo é bem generoso em dar Cristal Negro, a moeda que você pode fazer os sorteios de armas e itens. Porém você vai precisar saber bem o que busca antes de sair gastando. O The Enemy já fez uma lista com as melhores armas/Simulacros e que pode ser um bom ponto de partida. Além disso, tem alguns códigos que você pode usar e chegar melhor preparado.

Além disso, eu fui cego pensando que esse seria um “Genshin futurista”, como foi amplamente divulgado na rede. Mas não é. Em certas partes, Tower of Fantasy se parece muito mais com um RPG online. Em Genshin você consegue jogar 99% do jogo sozinho. em ToF a divisão não é assim - fica em 70%, mais ou menos.

Os chefes de mundo, por exemplo, precisam ser encarados com pelo menos mais um amigo. Além disso, existem diversas atividades que envolvem outros jogadores, como o modo PVP ou caçadas em dungeons mais avançadas. Se você for um jogador solo, como eu sou, provavelmente vai abandonar o game depois de um tempo.

No fim das contas, Tower of Fantasy tem um grande potencial e seu universo está apenas sendo apresentado. É um bom jogo em questões mecânicas, mas é importante que você não pense nele como um “matador de Genshin”, como muito se falou nas semanas anteriores ao seu lançamento.

A inspiração em Genshin é clara e se faz presente a cada passo que você dá no mundo de Aesperia. Porém Tower of Fantasy se esforça para fazer com que essa sensação seja apenas transitória. Pra mim não foi e o déjà vu se tornou constante.  

Agora cabe à Level Infinite conseguir fazer com que Tower of Fantasy se torne um jogo único e não uma sombra de sua inspiração. O game tem espaço para criar uma comunidade bastante engajada. Não bateu comigo, mas talvez com você a história seja diferente.

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Tower of Fantasy
  • Lançamento

    10.08.2022

  • Publicadora

    Perfect World Entertainment

  • Desenvolvedora

    Perfect World Entertainment, Hotta Studio, Level Infinite

  • Gênero

    MMORPG/Ação

  • Testado em

    PC

  • Plataformas

    PC iOS Android

Nota do crítico