Eu nunca fui uma pessoa apegada a jogos focados em furtividade, mas A Plague Tale: Innocence trouxe, em 2019, uma jornada emocionante e convidativa de dois irmãos que precisam se esgueirar entre soldados da Inquisição durante uma fuga na Europa do século XIV.

Agora, em 2022, A Plague Tale: Requiem chegou trazendo a sequência de uma profunda história de amizade, determinação e, finalmente, vingança.

Desenvolvido pelo Asobo Studio e distribuído pela Focus Home Interactive, A Plague Tale: Requiem traz todas as melhorias possíveis para os jogadores que estavam aguardando por essa sequência. Não apenas em termos de mais profundidade na história, mas também por crescer muito em termos de gameplay e liberdade.

Neste review, especificamente, não há suspense. Deixo claro que, do primeiro minuto até o último, A Plague Tale: Requiem se tornou um dos melhores jogos do ano para mim. E já adianto uma das melhores partes: Hugo agora é útil.

Recapitulando

Antes de falar da sequência, vamos recapitular rapidamente, sem spoilers, o jogo original. Em A Plague Tale: Innocence, conhecemos Amicia de Rune, uma garota francesa que presencia o início da praga de ratos e foge não apenas da praga como também dos soldados da Inquisição, junto do irmão Hugo, que é o principal alvo dos inimigos.

A jornada deles marca também o início da relação dos dois, que, até então, mal se conheciam, por conta de uma doença que Hugo tem, chamada Macula. Hugo vivia, principalmente, sob os cuidados da mãe, uma alquimista talentosa. 

Os dois, juntos, saem em busca de um local seguro e também da cura da Macula, que toma cada vez mais conta do corpo de Hugo.

Narrativa: Sangue nos olhos e aventuras pela França

A Plague Tale: Requiem se passa seis meses após a conclusão dos eventos de Innocence. Enquanto, no primeiro jogo, vemos o início da relação dos dois irmãos, na sequência, vemos uma conexão não apenas de sangue como de alma entre os dois. Agora, Amicia vive, mata e morre pelo irmão. Ele também criou uma conexão imensa com ela e quer protegê-la a qualquer custo. O jogo demonstra isso muito bem desde o início.

No trailer do jogo, vemos Hugo numa ilha não vista no primeiro game. No início da campanha, nos é mostrado um sonho que Hugo frequentemente tem com um local paradisíaco e distante, com uma fênix e o mais importante: uma lagoa cuja água teria propriedades curativas para tirar a Macula do corpo de Hugo.

imagem de hugo na ilha em a plague tale requiem
Asobo Studio

A jornada de Requiem gira em torno da busca por essa ilha, e eu gostei muito do processo por nos apresentar vários personagens novos durante a história e explorar ainda mais a relação da dupla principal. 

No primeiro jogo, eu não tinha apreço algum por Hugo, já que existiam momentos inconvenientes com ele. Já no novo game, eu fiquei encantada pelo garoto, o que é um milagre considerando a raiva que eu sei que não sou só eu que sentia dele. A proximidade dele com a irmã, assim como tudo pelo que eles passaram juntos, foi importantíssima para a evolução dele e compreensão da própria doença e seus perigos. 

Isso nos traz a um momento muito delicado e importante de Amicia. Ela quer vingança por cada pingo de suor que gastou fugindo dos diversos soldados da Inquisição junto do irmão. O jogo retrata um momento da vida de Amicia em que tudo que ela quer é massacrar soldados, o que também nos traz possibilidades novas no gameplay.

A narrativa que o diretor Kévin Choteau traz torna a experiência simplesmente única e nos deixa presos para querer saber o que vem em cada novo capítulo. A história segue em direções muito interessantes e inesperadas, oferecendo uma compreensão maior do mundo e mostrando como os inimigos podem se tornar aliados e vice-versa. Sobre os capítulos, inclusive, senti que estão mais longos nessa sequência, e o jogo como um todo é maior também. Enquanto o jogo original leva, em média, de dez a 11 horas para terminar, o novo game beira as 20 horas no decorrer de 17 capítulos.

A conclusão da história é emocionante. Algumas portas ficam abertas para mais um jogo da franquia, mas, apesar de eu gostar da série, Requiem traz uma finalização que é satisfatória para a jornada de Amicia e Hugo, exceto por uma ponte colocada no último momento, que traz a possibilidade de uma continuação.

Puzzles

Nos momentos em que você não está fugindo de soldados, ratos ou o que quer que queira matar Amicia e Hugo, você está resolvendo quebra-cabeças.  

imagem de hugo na ilha em a plague tale requiem
Asobo Studio

O jogo é criativo nos enigmas oferecidos, e alguns parecem ter muita inspiração em games populares de ação, como Uncharted. Entretanto, senti uma lentidão absurda que o título impõe para resolver cada um deles. Principalmente, aqueles que envolvem coisas pesadas que você precisa arrastar como carrinhos e caixas grandes, por exemplo.

É interessante como o jogo implementa novas mecânicas de gameplay por meio dos puzzles: alquimias que podem ser usadas tanto em combate quanto para resolver quebra-cabeças, por exemplo. Tudo o que é adicionado ao jogo durante a jornada, indo desde alquimias até armas novas, é utilizado nos puzzles de maneira muito inteligente.

Combate e furtividade

Falando em combate, A Plague Tale: Requiem é bem mais diverso do que o antecessor, permitindo maior liberdade para que jogadores escolham como proceder.

A furtividade é fundamental em A Plague Tale, mas Requiem, apesar de manter a essência do primeiro jogo, inclui possibilidades inéditas, permitindo que o jogador seja oportunista dependendo da situação para correr e até lutar com soldados. Agora, ao invés de morrer praticamente assim que um soldado reconhece sua presença, você tem a opção de contra-atacar, atordoando o adversário, e ganhando tempo para fugir, resolver outros problemas ou até apunhalar seu oponentes.

imagem de gameplay de a plague tale requiem
Asobo Studio

Uma adição que tornou o gameplay muito mais fluído foram as pedras infinitas. Agora, você não precisa mais buscar pedras pelo mapa para ferir ou distrair adversários. Não há limite de pedras e isso permite não apenas mais variedade no combate, mas também trouxe mais espaço para testes sem consequências muito severas em puzzles.

O jogo traz ainda uma árvore de habilidades com um sistema interessantecom três ramificações — Prudência, Agressividade e Oportunismo —, além de quatro níveis de melhorias dentro de cada uma dessas ramificações. A evolução nessa árvore não depende de um sistema em que você gasta pontos, mas que evolui automaticamente de acordo com o modo como você age durante o combate. 

A mesa de melhorias de equipamento, alquimia e instrumentos expandiu bastante também, e agora todas as melhorias dependem das peças e ferramentas que você encontra no mapa, principalmente, nos baús maiores. Quanto a isso, aliás, é difícil não perceber a lentidão. Apesar dos três níveis de melhoria para cada ramificação, elas exigem uma quantidade imensa de peças cada uma, o que acaba tornando o sistema um pouco frustrante, apesar de trazer melhorias bem mais vastas do que no primeiro jogo.

Como mencionei no início, um milagre aconteceu: Hugo agora é útil e até demais. Foi adicionada uma mecânica em que, quando há ratos por perto, Hugo cria uma conexão com os ratos e consegue ver os soldados por trás das paredes para facilitar a vida na furtividade. Além disso, o jogo permite, com essa função, mirar numa horda de ratos e controlá-los, usando-os para matar soldados sem tochas ou iluminação próxima.

O jogo traz agora mais liberdade até para a Alquimia, que pode ser usada não somente na atiradeira como também em potes, mãos e com a besta que chega como uma bênção para os jogadores que queriam um pouco mais de liberdade na hora de matar os inimigos. Além disso, foi implementada uma espécie de botão de emergência para quando os ratos nos alcançam.

Exploração

Apesar de manter uma história linear, Requiem traz mais liberdade na hora de explorar as áreas pelas quais a dupla principal e os demais passam. Você também pode encontrar salas ou interagir com ambientes que liberam diálogos especiais entre Amicia e companheiros, enriquecendo mais os relacionamentos, personagens e o mundo em que eles vivem.

imagem de gameplay de a plague tale requiem
Asobo Studio

Há mais liberdade de exploração agora, com áreas significativamente grandes da metade do jogo em diante, mas ainda é uma liberdade bem limitada quando você precisa procurar algo específico em um território maior. Nesses momentos, senti falta de um mapa, nem que fosse apenas daquelas áreas maiores.

Gráficos e performance

Se Innocence já tinha gráficos surpreendentes, Requiem traz uma fidelidade gráfica absurda não só nos personagens como nas paisagens, construções e detalhes ao redor do mapa. Por ser um jogo principalmente focado na nova geração, a Asobo teve menos limitações e mostrou isso muito bem. Sobre isso, vale ressaltar que a versão de Switch é via cloud.

Os efeitos de alquimias que usamos durante o combate e quebra-cabeças tem uma fidelidade gráfica admirável, principalmente os efeitos de fogo. Os momentos mais “gore”, com carcaças e todas as nojeiras envolvendo os ratos e seus ninhos, são extremamente gráficos e parecem ter inspiração na obra de H.R. Giger.

imagem de gameplay de a plague tale requiem
Asobo Studio

Por outro lado, a performance do jogo deixa a desejar em alguns momentos bem específicos, com leves bugs quando há muita informação na tela. Passada a primeira metade, o jogo teve momentos de loading estranhamente demorados. Às vezes, uma simples cutscene levava a um loading similar ao de avanço de capítulo, o que gera uma confusão porque é só uma tela branca com uma fumacinha, mas traz principalmente um incômodo enorme na visão por durarem até 15 segundos em alguns casos. Nesse momento, vale ressaltar que eu joguei em um PlayStation 5 com SSD.

Os loadings estranhos já aconteceram durante o gameplay também, com casos em que eu precisava da ajuda de um NPC para algo e ele demorava tempos e tempos pra vir ajudar.

Som e imersão

A Plague Tale: Requiem é um jogo para jogar com fones de ouvido. O som é digno de prêmio, e eu já deixo minha torcida registrada para ele no TGA deste ano.

Melhorando o que já era excelente no primeiro jogo, Requiem traz o som dos ratos de uma maneira que nos deixa com ainda mais medo desses demônios. A qualidade dos efeitos de som nas alquimias também é muito rica e única para cada uma delas.

O jogo não tem dublagem em português, apenas legendas e texto. Joguei com a dublagem em inglês nos dois jogos e gostei muito mais da dublagem neste jogo. No primeiro, sentia um sotaque francês meio forçado. Já agora, senti um sotaque britânico na dublagem em inglês, de uma maneira bem mais natural.

Um ponto rápido sobre as legendas é que, apesar de não desfalcar muito da experiência, às vezes, você vai encontrar alguns erros de tradução ou digitação nas legendas durante os diálogos. Nada muito drástico, mas é um ponto a se colocar.

A trilha sonora também não deixa nada a desejar, sendo colocada de forma que coincide com os acontecimentos do jogo, trazendo tensão ou emoção quando necessário.

imagem de gameplay de a plague tale requiem
Asobo Studio

Considerações finais

A Plague Tale: Requiem mostra um crescimento imenso em termos de gameplay. É uma sequência que mantém a essência do jogo e o expande, trazendo uma experiência com narrativa que vai para lugares inimagináveis como no primeiro jogo, isso além de gameplay que introduz novos elementos a cada capítulo. 

O jogo está disponível no catálogo do Xbox Game Pass a partir do seu dia de lançamento, 18 de outubro. Definitivamente vale a pena jogar.


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A Plague Tale: Requiem
  • Lançamento

    18.10.2022

  • Publicadora

    Focus Home Interactive

  • Desenvolvedora

    Asobo Studio

  • Censura

    16 anos

  • Gênero

    Ação/Aventura

  • Testado em

    PlayStation 5

Nota do crítico