Há exatos cinco anos completados nesta terça-feira (19) – e depois de um leve atraso estratégico por problemas no desenvolvimento –, The Witcher 3: Wild Hunt chegava oficialmente ao mundo em versões para PlayStation 4, Xbox One e PC.

Produzido pelo estúdio polonês CD Projekt Red, o título se apresentava como um ambicioso RPG de mundo aberto, dando sequência à já então popular série de jogos inspirados nos contos de fantasía de Andrzej Sapkowski – autor celebrado na Polônia, mas ainda relativamente desconhecido para leitores de outras partes do mundo.

Para fãs dos jogos anteriores da franquia, o lançamento de Wild Hunt era um evento a ser comemorado: quatro anos depois de The Witcher 2: Assassins of Kings, jogadores poderiam novamente acompanhar a jornada de Geralt da Rívia, mas agora em uma nova geração de consoles e com a promessa de um universo ainda mais expansivo através de um mundo aberto inédito na série.

É difícil dizer, no entanto, se algum destes entusiastas da série teria sido capaz de prever o quanto o jogo seria bem-sucedido. Ou ainda, qual seria, anos depois, o tamanho do impacto que ele teria na indústria dos games.

Com 28 milhões de cópias vendidas desde seu lançamento, conforme revelado pela publisher CD Projekt em abril, hoje há poucas dúvidas que The Witcher 3: Wild Hunt conquistou seu lugar ao Sol dentro do panteão dos videogames.

Bem recebido por jogadores e por críticos, o título da CD Projekt Red foi celebrado ao redor do mundo por sua complexidade narrativa, história ramificada e personagens carismáticos. Uma série de bugs e mecânicas desajeitadas de combate estavam entres os defeitos do jogo, mas não chegavam ao ponto de atrapalhar a experiência envolvente de Wild Hunt, e não tiravam em nada o nível de imersão que seu mundo aberto trazia aos jogadores.

Naquele ano, a CD Projekt Red levaria para casa dezenas de indicações e premiações por conta de The Witcher 3, incluindo os troféus de Jogo do Ano e de Melhor RPG do The Game Awards, considerado uma espécie de “Oscar” dos games. E a produtora, é claro, não parou por aí.

Com Cyberpunk 2077 no forno, a desenvolvedora polonesa ainda pegaria carona no sucesso de The Witcher 3 por mais algum tempo, produzindo outros títulos inspirados no game, como os spin-offs Gwent e Thronebreaker: The Witcher Tales. No ano passado, a produtora se tornaria a segunda desenvolvedora de games mais valiosa da Europa, atrás apenas da Ubisoft.

Isso sem contar, é claro, o sucesso continuado de The Witcher 3 que levaria a Netflix a se interessar por uma adaptação da franquia para uma série em live-action – tão bem recebida por assinantes do serviço de streaming que retroalimentou o sucesso do jogo, trazendo uma nova leva de jogadores para The Witcher 3. Até hoje, o título registra com frequência um índice acima dos 20 mil jogadores simultâneos no Steam.

Mas quais foram exatamente os motivos que levaram The Witcher 3: Wild Hunt a esse sucesso? E quais foram os impactos dele na indústria como um todo ao longo dos últimos cinco anos?

Um mundo aberto e imersivo

Apesar do sucesso comercial e de crítica, vale lembrar que, nos idos de 2015, nada do que a CD Projekt Red fez se propunha fazer com The Witcher 3: Wild Hunt era particularmente inédito ou pouco explorado no mundo dos games.

Procurando um bom RPG de mundo aberto? Anos antes, The Elder Scrolls V: Skyrim já havia marcado presença como a grande referência do gênero. Prefere um jogo com história ramificada e influenciada por suas decisões? Não se preocupe, a BioWare te salvaria com Mass Effect 2. Ah, seu negócio é um jogo de ação em terceira pessoa com combate sólido? Deixe com Middle-earth: Shadow of Mordor – e ainda leve, de quebra, o fantástico mundo adaptado das obras de J. R. R. Tolkien.

O grande mérito de The Witcher 3: Wild Hunt vem da maestria com a que a desenvolvedora polonesa conseguiu compor todos estes elementos em um só jogo, amarrados todos eles com uma narrativa envolvente e recheada de missões imersivas e personagens carismáticos o suficiente para prender a atenção do jogador por horas e mais horas.

Em The Witcher 3, a exploração de seu vasto mundo aberto se mostrava recompensadora de uma forma que poucos jogos faziam até então. Andando por uma das cidades ou vilas do jogo, NPCs desconhecidos podem chamar a atenção de Geralt e dar início à uma missão paralela que levaria horas para ser concluída e teria implicações complexas no mundo do jogo.

Um dos principais exemplos disso está na área inicia, White Orchard, onde é possível descobrir uma missão opcional que começa com uma frigideira perdida, mas pode levar à um enredo escondido sobre uma tentativa de assassinato ao Rei. As missões paralelas de The Witcher 3 são as grandes responsáveis por dar vida e cor ao jogo, costurando a aventura de Geralt (e, consequentemente, do jogador) ao mundo do game.

Não à toa, missões opcionais como Towerful of Mice, Return to Crookback Bog e The Last Wish são lembradas até hoje por jogadores como algumas paradas moralmente obrigatórias para Geralt – mesmo que não façam parte da história central do jogo. Não importam as decisões feitas no caminho, a sensação é de que cada uma das quests é única, seja ela pequena ou grande, e isso estabeleceu um novo parâmetro de qualidade para mundos abertos para jogos futuros.

A densidade do mundo de The Witcher e sua consistência narrativa, é claro, impressionaram outros produtores de jogos tanto quanto jogadores, e logo fizeram do título da CD Projekt um novo benchmark em termos do que jogos futuros deve se esforçar para alcançar.

Um dos exemplos do impacto de The Witcher 3 veio de Mike Laidlaw, ex-diretor criativo da franquia Dragon Age, que elogiou abertamente as missões e ritmo do jogo da CD Projekt pouco tempo depois de deixar a BioWare – classificando-o, inclusive, como uma experiência superior à de seu próprio jogo, Dragon Age: Inquisition, lançado um ano antes de Wild Hunt.

"Adoro o modo como The Witcher 3 coloca missões de história mais pesadas e missões mais cinematográficas nesses mundos abertos, a fim de equilibrar o ritmo e fazê-lo de uma forma que os jogadores responderam de forma super positiva", disse em uma entrevista ao Eurogame em 2018. "Se eu pudesse voltar atrás, tenho certeza de que olharemos mais perto de The Witcher 3 - em retrospecto do que vi The Witcher 3", completou.

Um das maiores produtoras de games da atualidade, a Ubisoft também se viu obrigada a rever alguns do conceitos de uma da suas séries mais populares, Assassin's Creed, desde a chegada de The Witcher 3.

Antes focada em aspectos mais simples de ação e exploração, a franquia começou a ensaiar a adoção de elemento de RPG a partir de Assassin's Creed Origins, e expandir a relevância destes elementos com Assassin's Creed Odyssey – incluindo diferentes opções de diálogo para os protagonistas, algo inédito na série até então.

Scott Phillips, diretor de Assassin's Creed Odyssey, também falou sobre o tema em uma entrevista para o GameSpot na ocasião do anúncio do jogo, colocando The Witcher 3: Wild Hunt ao lado de jogos como The Elder Scrolls V: Skyrim e Fallout como uma das influências do título e da direção para qual a Ubisoft Quebec queria levar a franquia Assassin's Creed.

"Se você olhar para esses jogos, eles oferecem aos jogadores muitas opções. Para nós, era isso que queríamos colocar em Assassin's Creed como uma franquia: mais opções para o jogador", afirmou à época.

Mesmo após cinco anos, estes elementos presentes em The Witcher 3 ainda parecem ser um aspecto essencial para qualquer novo jogo que busque estabelecer um mundo aberto que engage o jogador. Um dos últimos grandes lançamentos exclusivos do PlayStation 4, Ghost of Tsushima é exemplo disso – em uma série de entrevistas com a imprensa nesta semana, Nate Fox, diretor criativo do jogo, tem falado frequentemente sobre como o jogador deve prestar atenção aos arredores para encontrar missões secretas espalhadas pelo mundo de Tsushima. Segundo Fox, a ideia é reminiscente de jogos como Red Dead Redemption, mas não é difícil ver um dedinho de The Witcher 3 por trás da ideia.

A ideia de um mundo recheado de conteúdos que podem ser explorados livremente pelo jogador, dando mais cor aos universos virtuais de videogames deve ser carregada para o próximo grande jogo da CD Projekt Red, Cyberpunk 2077. Através de cenas de gameplay e detalhes da história, a produtora já deixou claro que jogadores podem esperar um mundo aberto que reagirá às suas ações conforme as decisões que você tomar no caminho, de uma forma bem similar ao que The Witcher já fez.

Se a CD Projekt será capaz de repetir seu feito, ou até mesmo de superá-lo com seu próximo título, no entanto, só saberemos daqui cinco anos.

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The Witcher 3: Wild Hunt
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  • Lançamento

    19.05.2015

  • Publicadora

    CD Projekt Red

  • Desenvolvedora

    CD Projekt Red

  • Censura

    16 anos

  • Gênero

    None