A relação entre Liga NFA e LOUD se deteriorou ao longo das últimas semanas por divergências em relação à suspensão por tempo indeterminado de Thurzin, jogador de Free Fire emulador da Noise. Diante de indefinições públicas de ambos os lados, o The Enemy obteve acesso exclusivo a informações sobre o caso.

A organizadora de torneios de Free Fire emulador manteve uma postura firme oficialmente, mas teve discordâncias na hora de propor um acordo para retirar a suspensão do jogador. Já a organização acredita ter feito de tudo para resolver a situação, mas se enfureceu a ponto de desistir de participar da Copa NFA.

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Início das conversas

Desde a decisão da Liga NFA de suspender Thurzin das competições que organiza, no dia 2 de junho, pouco mais de 24 horas depois que o jogador havia sido afastado da Noise, as conversas entre a organizadora e a organização passaram a ser frequentes.

A comunicação entre as duas partes se intensificou quando a LOUD definiu que Thurzin faria parte do planejamento do novo time da Noise e passou a promover uma “força-tarefa” com mais de 15 funcionários e a liderança de Jean Ortega, sócio da organização, que assumiu a frente das conversas.

Em contato com pessoas da NFA que participaram das reuniões, há unanimidade em confirmar que a LOUD foi informada desde o início sobre a exigência de se posicionar e trabalhar o assunto externamente a fim de educar o público e não somente Thurzin - autor de um comentário com suposta injúria racial nas redes sociais no dia 31 de maio (entenda abaixo). Elas acreditam que o staff da organização não levou até Jean Ortega o que precisaria ser feito para entrar em acordo com a NFA.

A condição de externar o assunto, inclusive, foi o divisor de águas na busca por uma resolução da situação. Isso porque membros da LOUD, que também participaram das reuniões, são unânimes em negar que foram informados desde o início sobre a obrigatoriedade de exteriorizar o assunto por parte da NFA. Segundo eles, a organização vinha cumprindo todas as demandas da NFA, visto que existia otimismo para a retirada da suspensão de Thurzin.

O The Enemy teve acesso ao comunicado da Liga NFA, enviado exclusivamente à LOUD, com o passo a passo e as demandas do caso Thurzin. Confira abaixo na íntegra.

[SIC] “Com a participação do time, incluindo o Thur, será feita a revisão da suspensão dele, pois sempre fazemos a cada 1 mês de todos os jogadores suspensos da Liga, para avaliação do que foi feito após o ocorrido. Para formalizar a liberação, o processo funciona dessa forma:

- ele foi suspenso no dia 01 de Junho de 2022.

- a revisão é feita todo dia 05 de cada mês e os comunicados são feitos de liberação 2 dias úteis após a reavaliação.

- com a participação dele e dos jogadores da NOISE, levaremos em consideração tudo que foi feito por parte da equipe como tínhamos mencionado na reunião com a Alice [manager de Free Fire da LOUD] e o Knight [coach de Free Fire da LOUD] para avaliação no dia 05.

Teremos essa palestra sobre o caso ocorrido e diversos outros pontos (que não competem diretamente a Noise ou ao Thurzin em específico) que precisam ser abordados e tratados com todos os jogadores.

A competição iniciará na metade do mês de Julho, então até lá temos tempo hábil de fazer tudo rolar”. [SIC]

Envolvimento de diversas pessoas e novos fatores

Se por um lado a LOUD tinha uma equipe lidando com as conversas, na Liga NFA também não era diferente. A empresa contou com a condução dos fundadores Bernardo Assad e Marcelo Camargo, que tiveram dificuldades para entrar em acordo. Segundo apuração, Marcelo foi quem passou a ter mais influência no assunto e liderava as reuniões com a LOUD. No entanto, erros de comunicação internos na NFA dificultaram a clareza da empresa nas conversas.

Em contato individual com Jean Ortega, que publicou uma parte da conversa nas redes sociais, Marcelo Camargo sugeriu à LOUD a possibilidade da equipe inscrever quatro jogadores com exceção de Thurzin, já que ele seria liberado no início de julho após as duas partes entrarem em um acordo. Isso realmente aconteceu e a organização inscreveu Mito, Next, Leozin e Eltin.

Depois, ainda em contato individual com Jean Ortega, que também publicou uma parte da conversa nas redes sociais, Bernardo Assad comunicou à LOUD que não deveria ter problemas com a retirada da suspensão da Thurzin. A única dificuldade naquele momento era alinhar com a equipe da organizadora como seria feita a comunicação ao público sobre a decisão de liberar o jogador.

As conversas caminhavam bem para a liberação de Thurzin, que já havia participado da apresentação da Copa NFA e da roda de conversa sobre racismo com os demais jogadores da LOUD e de outras organizações no dia 4 de julho.

Em seguida, a NFA chegou a reavaliar oficialmente a suspensão do jogador no dia 5 de julho, conforme estava previsto por agenda interna e o The Enemy havia informado que aconteceria, mas um fator inesperado entrou em ação e mudou os rumos da situação.

Preocupados com a conscientização do público sobre o tema de racismo nos esports, os casters da NFA, Cabelo e Brunao, informaram à empresa, entre os dias 11 e 12 de julho, que não se sentiam confortáveis em participar das transmissões se Thurzin fosse liberado para jogar a atual edição do torneio. Ambos queriam que a LOUD também se posicionasse externamente com o alcance que a organização possui, e não somente os jogadores de maneira interna, pedido corroborado pela NFA.

A NFA então comunicou à LOUD, dias depois, sobre o posicionamento dos dois casters. A equipe foi pega de surpresa, entendeu que a empresa não havia aceitado o auxílio interno prestado ao jogador e tentou contornar a situação com as sugestões de conversar com ambos os casters e realizar um anúncio nas redes sociais no dia 14 de julho.

Os casters não se sentiram confortáveis para dialogar com a LOUD, e a organizadora, por sua vez, julgou ter pouco tempo para definir uma campanha pública em conjunto com a organização naquele momento, já que faltavam somente dois dias para a estreia da Noise na Copa NFA.

Dia D

No dia 16 de julho, data em que a Noise iria estrear na Copa NFA, a LOUD tentou a última cartada para concretizar a retirada da suspensão de Thurzin e apresentou o progresso do plano “LOUD ESG”, que já havia sido passado à Liga NFA no dia 1º de julho. Nele, o objetivo era educar a comunidade de Free Fire emulador em seis etapas, mas somente as três primeiras haviam sido concluídas.

Foi a partir disso que a organizadora exigiu a conclusão das outras três etapas do “LOUD ESG” para retirar a suspensão de Thurzin e bateu novamente na tecla de que a organização precisava se posicionar e trabalhar o assunto externamente a fim de educar o público, e não apenas o jogador.

Irritada ao supostamente ter ciência dessa demanda a poucas horas do início da Copa NFA, a LOUD não deu resposta e emitiu um comunicado à imprensa no qual informou que havia sido suspensa do torneio e que Thurzin havia tido a suspensão revogada.

Horas depois disso, em nota também enviada à imprensa, a Liga NFA contestou as informações reveladas no comunicado da LOUD e reiterou que a organização estava liberada para participar da atual edição do campeonato com os jogadores que haviam sido inscritos previamente.

Posicionamentos

Procurados pelo The Enemy, a Liga NFA, Bernardo Assad, Marcelo Camargo, Cabelo e Brunao informaram que não têm “nada a declarar”. Já Jean Ortega afirmou que não vai se posicionar, enquanto a LOUD confirmou a existência do "LOUD ESG", não negou o conteúdo desta reportagem e informou que seguirá tratando o assunto internamente antes de torná-lo público.

Confira na íntegra o comunicado da LOUD enviado exclusivamente ao The Enemy:

"A LOUD informa que segue aplicando - e priorizando - em sua estrutura interna um programa com o propósito de trabalhar para eliminar todo e qualquer tipo de preconceito, em prol de um ambiente de eSports tão inclusivo e saudável, quanto vibrante e capaz de transformar vidas. Em andamento, há um projeto interno focado em ESG e ainda a possibilidade de ações direcionadas à comunidade pois, para a organização, neste momento, mais importante do que ir à público para educar, é garantir que as mudanças internas sejam validadas e apresentem resultados sólidos em um trabalho contínuo, propagado por seus integrantes e colaboradores. Por fim, a LOUD reitera que sua cultura é - e sempre será - de transparência com a comunidade, parceiros e toda a sociedade".

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Publicação de Thurzin em resposta a Moreno no Twitter (Foto: Reprodução/Twitter)

Entenda o caso Thurzin

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Pet Brabuíno do Free Fire (Foto: Reprodução/Free Fire)

Thurzin foi afastado da Noise, suspenso de todos os eventos da Liga NFA e retirado dos jogadores verificados pela Garena no Free Fire após realizar um comentário nas redes sociais com uma suposta injúria racial contra Moreno. Na ocasião, ele chamou o jogador de “brabuíno” em referência ao pet presente no jogo. A publicação ocorreu na noite do dia 31 de maio e foi apagada minutos depois.

No caso, Moreno publicou uma imagem, no Twitter, em que vence uma partida do modo 4v4 contra quatro jogadores da LOUD. Alguns minutos depois, Thurzin respondeu a publicação com a seguinte frase: "ta se achando é brabuino". O termo "brabuíno" tem ligação com o pet Brabuíno, que é inspirado em um babuíno (espécie de macaco) dentro do jogo.

Em seguida, o jogador da Noise apagou a resposta e voltou a comentar na publicação de Moreno, mas com a frase "vem agr malandro". Diante da repercussão negativa e acusações de injúria racial, Thurzin pediu desculpas no Twitter e revelou ter ficado chateado com a situação, já que não teve a intenção de ofender.

*Matéria atualizada às 10h45 com o posicionamento da LOUD