Em seu histórico de lançamentos anuais, Assassin’s Creed segue uma certa lógica no que diz respeito à evolução da saga: a partir da era Ezio (onde o game de fato se estabeleceu como uma franquia de sucesso), os jogos sempre passam por mudanças estruturais profundas após um período de quatro anos.

Sendo assim, chegamos ao quarto ano da recente era de Assassin’s Creed, em que o jogo se converteu como RPG de ação. Naturalmente, Assassin’s Creed Valhalla já tenta se antecipar à própria lógica e, embora mantenha boa parte da estrutura herdada de AC Origins e AC Odyssey, tem modificações sutis - algumas funcionam, outras não.

Essa é a impressão deixada após três horas testando o game, em uma sessão via streaming organizada pela Ubisoft antes do evento digital Ubisoft Forward. Obviamente, três horas são pouco para se ter uma noção plena de um jogo com potencial de centenas de horas de gameplay, mas é possível ter uma noção de suas mecânicas mais básicas.

Assassin's Creed Valhalla
Divulgação/Ubisoft

No discurso, Assassin’s Creed Valhalla tenta se livrar de alguns elementos de RPG de seus antecessores, prometendo uma facilidade maior de assassinatos instantâneos com a lâmina oculta e abolindo os níveis de personagem (substituídos por árvores de habilidade) ou a estrutura de missão principal e secundária, enquanto promete um sistema de acampamento que evolui como grande novidade.

“Queremos que o jogo sempre dê algo para atiçar a curiosidade do jogador. Colocamos muitas surpresas. Acho que será bem diferente a maneira como o jogador se relaciona com o mundo, e isso trará momentos inesperados”, pontua o diretor de jogo Eric Baptizat.

Na prática, pouco disso pôde ser testado durante as três horas de gameplay. O ponto forte do segmento colocado à disposição pela Ubisoft realça outra característica associada aos vikings que protagonizam Valhalla: sua capacidade de invadir e guerrear.

Combate

Assassin's Creed Valhalla
Divulgação/Ubisoft

Valhalla se passa em um cenário em alta na cultura pop após Vikings e The Last Kingdom: a ocupação dos territórios que hoje correspondem à Inglaterra pelos clãs nórdicos que entraram para a História como o Grande Exército Pagão. “Esta era uma época na qual eles eram o único povo a conseguir navegar em barcos grandes num rio. Então, você tem esse navio que pode ser usado para atacar qualquer localidade”, detalha Baptizat.

Em toda a aventura, você terá à disposição um grupo de vikings capaz de auxiliá-lo em investidas contra bases inimigas. Você pode convocá-los a qualquer momento (assim como o seu barco). Ainda existe a possibilidade de uma abordagem mais furtiva - e o retorno da lâmina oculta é o maior símbolo disso - mas o jogo te convida a não andar sozinho.

Foi uma boa oportunidade para testar o combate, e onde as mudanças propostas me deixaram com sentimentos conflitantes. Nas invasões, a maior parte dos combates mostrava uma câmera mais afastada dos inimigos, o que dificulta enxergar os seus golpes e os movimentos do oponente.

Por outro lado, a mecânica de combate vai na direção oposta, exigindo mais atenção do que em Odyssey e Origins. O jogo traz maior variedade de inimigos, com padrões de ataque diferentes e uma barra de estamina dita o que você pode fazer, no melhor estilo Dark Souls. “Um elemento importante é aumentar o desafio e forçar o jogador a experimentar”, diz o diretor Baptizat.

Assassin's Creed Valhalla
Divulgação/Ubisoft

A mistura dessas duas decisões tornou as lutas mais chatas. Durante o teste, até tivemos um chefe ou outro para dar um pouco de emoção, mas o restante foi uma sucessão enfadonha de derrubar soldados rasos. Certamente o jogo oferecerá mais desafios, como as batalhas de chefe fantasiosas que já experimentamos em Odyssey, mas a impressão inicial não foi boa - me aproximando ao final das 3 horas, me vi repetindo ataques especiais de Eivor (no mesmo estilo dos golpes sobre-humanos de Odyssey) apenas para derrotar inimigos mais rápido.

Exploração e história

Ação à parte, Valhalla agradou no lado mais RPG da coisa. O teste girava em torno do resgate e da coroação do rei Oswald em East Anglia, um dos vários territórios invadidos pelos vikings no final do século IX. A ascensão de Oswald ao trono é vital para o frágil equilíbrio de alianças entre o clã viking do qual Eivor faz parte e os anglo-saxões.

É um pedaço de história pronto para Assassin’s Creed brilhar, com guerras, mortes, intrigas políticas e mais, ainda que o teste não tenha mostrado nada relativo à guerra entre assassinos e templários - aqui, ainda conhecidos como Ocultos e a Ordem dos Anciões, respectivamente.

Assassin's Creed Valhalla
Divulgação/Ubisoft

Mas a demo também mostrou que o jogo pode mostrar momentos de leveza, como o casamento do rei Oswald com a viking Valdis, em uma festa na qual você pode beber, engatar romances e até mesmo testar sua habilidade com o flyting, uma espécie de “batalha de rap viking” na qual você precisa combinar insultos com rimas.

Como mencionamos acima, Valhalla vai evitar a estrutura tradicional de missão principal e atividades paralelas, mas isso será compensado com uma série de eventos aleatórios espalhados pelo cenário, o que ajuda a dar vida ao mundo, como por exemplo ajudar uma inocente criança viking a encontrar seu gato de estimação.

Nova geração

Assassin’s Creed Valhalla vai cruzar a fronteira da atual geração de consoles. Nosso teste foi realizado no PC por meio de streaming, mas aproveitamos a oportunidade para perguntar sobre os desafios de produzir um game para PlayStation 5 e Xbox Series X.

“Algo que as pessoas prestam pouca atenção é que o jogo está em desenvolvimento ao mesmo tempo que o console”, explica Baptizat, ressaltando que Valhalla deve aproveitar duas características-chave da nova geração: o tempo de carregamento mais rápido devido ao uso de SSDs, e o potencial de gráficos proporcionado pelo hardware superior em relação a PS4 e Xbox One.

“É sempre difícil, no começo, definir qual elemento vai se destacar (em consoles novos). Sempre pensamos no desempenho da máquina, que é importante, mas às vezes (o destaque) pode vir de uma funcionalidade social ou de acessibilidade que muda tudo, ou o cross-play… vamos ver o que vai mudar quando os novos consoles saírem”, conclui Baptizat.