LoL: Flamengo deixa modalidade com vitória no jogo após derrotas nos bastidores

Legado deixado pela gestão Simplicity nos bastidores briga com título do CBLOL 2019 e grandes ídolos do cenário

Por Bruno Pereira 09.08.2022 17H21

O dia 07 de agosto de 2022 ficará na história do Flamengo Esports assim como o dia 19 de fevereiro de 2018. Nesta data, pouco mais de cinco temporadas e meia atrás, o rubro-negro carioca disputava sua primeira partida oficial no cenário de League of Legends, na Primeira Etapa do Circuito Desafiante. Muitos jogos, finais, ídolos e polêmicas depois, o Flamengo disputou sua última partida no domingo (7) de CBLOL, uma vitória contra uma paiN Gaming que sempre brigou pelo posto de maior torcida do Brasil na modalidade.

Analisar a passagem de quatro anos do Flamengo no LoL brasileiro não é tarefa fácil, mas este fim provavelmente só chegou pelo desastre que foi a gestão Simplicity nos bastidores da equipe, que começou no final de 2019, após o único (mas marcante) CBLOL conquistado pelo Time da Massa.

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Imagem: Bruno Alvares/Riot Games

O impacto Flamengo no League of Legends

Diferentemente de qualquer outro clube tradicional que chegou ao cenário de LoL, o Flamengo realmente deu certo. Antes, tivemos o Corinthians (em parceria com a RED Canids) e o Santos (que disputou uma vez o CBLOL em três anos de operação, ficando mais pelo Circuitão); e mais tarde o Cruzeiro, que ficou apenas um Split nas franquias antes de se separar da E-Flix.

Com o nome Flamengo não se brinca, e ainda bem que Fred Tannure e outros dirigentes responsáveis pela entrada do time no LoL sabiam disso. A operação foi montada com nomes respeitados no cenário e a vinda do principal ídolo brasileiro no jogo, brTT. Flamenguista de coração, era impossível não sentir em Felipe Gonçalves o quanto a mudança significava para alguém que realmente entende o que o clube representa.

Foram quatro Etapas disputadas e quatro finais. Na primeira, derrota surpreendente para a IDM no Circuito Desafiante, mas o acesso para o CBLOL veio de qualquer maneira ao baterem a Team oNe por 3-2 na Série de Promoção. Já no primeiro CBLOL, na Segunda Etapa 2018, derrota em Porto Alegre por 3-2 para a KaBuM de TitaN e Ranger que dominou o ano inteiro na elite do campeonato.

A troca de Jisu e esA por Robo e Luci de 2018 para 2019 criou um dos times mais fortes que o Brasil já viu. Foi o Flamengo que venceu 23 de 24 jogos rumo à final da Primeira Etapa, quando foi surpreendido pela INTZ de Tay, Shini, Envy, Mills e RedBert na final, novamente por 3-2. Criava-se ali uma “zica” em finais e rivais citando o famoso meme do “cheirinho” que só seria superada por algo verdadeiramente especial.

Imagem: Riot Games

O Brasil de vermelho e preto

Já era o começo da Segunda Etapa 2019 quando a Riot Games anunciou a final do CBLOL na Jeunesse Arena, no Rio de Janeiro. Não demorou muito para a já apaixonada torcida flamenguista se imaginar lotando a arena em sua própria cidade para apoiar seu clube de coração rumo ao primeiro título de sua história.

Dentro de jogo a pressão era imensa, e os jogadores sabiam. Três finais disputadas, três vices e muita encheção de saco da torcida. Os famosos pedidos para brTT aposentar, o famoso choro de Shrimp, tomado pelos rivais como um coreano muito bom, mas que tiltava em finais. Imagina essa mistura toda num caldeirão lotado de flamenguistas?

A fase de pontos passou voando. O Flamengo conseguiu o primeiro lugar no desempate contra a KaBuM, já que na tabela ficaram ambos 16-5. Na semifinal, atropelo contra a Uppercut Esports (que viraria FURIA em 2020) por 3-0 e passaporte carimbado para a final em sua casa contra… a mesma INTZ que tirou o título dos rubro-negros na Primeira Etapa.

TUM TUM

VAMOS FLAMENGO

VAMOS SER CAMPEÕES

VAMOS FLAMENGO

Imagem: Riot Games

No caldeirão da Jeunesse Arena, formado por torcidas organizadas flamenguistas, o grito ecoava. De quem jogava LoL, de quem torcia pra LoL e de quem nem sabia direito o que LoL era, mas sabia desde sempre o que era Flamengo. Uma paixão que empurrou a equipe a buscar duas vezes a INTZ no placar para forçar um quinto e último jogo.

Na bacia das almas, na raça e na paixão, do jeitinho Flamengo mesmo.

A onda rubro-negra conquistou o CBLOL.

Imagem: Riot Games

O projeto que deu errado

Após o Mundial 2019 de LoL, no qual o Flamengo foi eliminado no desempate contra os turcos da Royal Youth, um baque pegou de surpresa todo o cenário de LoL: a Simplicity, empresa americana com operações de esportes eletrônicos, substituiria a operação da Go4It dos rubro-negros nos esports, e teria a ajuda da Team oNe no processo. Pouco tempo depois, brTT anunciou sua saída da equipe após divergências com a nova staff, dizendo que “não acreditava no projeto” da nova empresa.

A frase ficou marcada no cenário, e até hoje é vista como um meme da comunidade, mas na época foi uma ferida grande para todos os flamenguistas, ainda mais vindo de um dos maiores deles, o próprio brTT. Com as saídas de Shrimp e Robo, só permaneceram os ídolos Goku e Luci, que lideraram os rubro-negros rumo a um vice-campeonato truculento na Primeira Etapa 2020, o início da pandemia global de COVID-19.

Mesmo antes de chegar a final, diversos assuntos já batiam às portas do Flamengo anunciando problemas de bastidores: atrasos salariais de jogadores e comissão técnica, demissão de reservas e jogadores da base, gargalos financeiros e de comunicação com a Team oNe, enfim. Problemas que custavam a paciência do torcedor flamenguista, a despeito de quem só queria ver o circo pegar fogo…

ou o dinheiro pegar fogo, como foi o tweet de Jed Kaplan, que comandava a Simplicity dos Estados Unidos.

Imagem: Riot Games

Este foi o primeiro de muitos momentos em que o cartola agiu de maneira polêmica no cenário. Tempos depois, Goku afirmou que, nesta época, os jogadores tiveram que atuar de sua casa por problemas contratuais com a Team oNe, e o próprio mid-laner que arcou com os custos. “Era uma situação que ou a gente se virava ou não ia treinar e nem jogar”, comentou Djoko, técnico do time na época, no mesmo podcast.

Em matéria investigativa feita pela ESPN no final de 2021, o site conta que diversos outros problemas começaram a aparecer: desavenças internas motivada por investimentos, falta de apoio da Simplicity para a operação brasileira (que ficava a cargo de poucas pessoas sem poder de decisão, e que acabavam levando a culpa aos olhos da torcida), espionagem interna e até mesmo falta de estrutura básica para a equipe Academy em 2021.

Neste meio tempo, o Flamengo acumulou resultados ruins ou aquém do esperado em campo: sexto lugar na Segunda Etapa 2020, terceiro lugar na Primeira de 2021, quinto na Segunda, nono lugar na Primeira Etapa 2022 e finalmente oitavo lugar na Segunda.

Um triste fim para uma história que se divide claramente entre a gestão Go4It e os anos de 2018 e 19, e os anos Simplicity, entre 2020 e 22.

Imagem: Riot Games

Afinal, o Flamengo foi um sucesso no League of Legends?

Pelas polêmicas acumuladas nos últimos anos, a discussão do sucesso do Flamengo no League of Legends é extensamente debatida.

Em minha opinião, ainda podemos considerar a passagem do rubro-negro como marcante para a modalidade. Foram quatro vice-campeonatos, um do Circuitão e três do CBLOL, além do título de 2019 e participação no Mundial. O Flamengo ou “reviveu” ou colocou em destaque grandes jogadores, como Goku, Shrimp e Luci (brTT e Robo já eram nomes consagrados ou em grande fase quando entraram na equipe).

Mas mais importante do que títulos e ídolos, o Flamengo foi a porta de entrada para milhares de jogadores no mundo dos esports e do League of Legends. Já perdi a conta de quantos comentários vi de torcedores que não sabiam o que era LoL antes do seu clube do coração começar a jogar o CBLOL. Muitos dos quais certamente ficarão sem uma casa “definitiva” para torcer, mas que talvez ainda continuarão a apreciar assistir ou jogar LoL. O impacto na comunidade foi imenso, tanto em torcida quanto rivalidades criadas. Flamengo é polarizante, ou se ama, ou se odeia, poucos times tem uma relação tão forte assim com os ânimos do público, e os esports viveram isso de maneira intensa enquanto o rubro-negro carioca esteve no CBLOL.

Claro, para o Flamengo enquanto marca, a gestão Simplicity tornou a permanência no cenário insustentável e foi um baque no cenário. Considerando que para retornar para o CBLOL o clube precisaria formar nova parceria ou tentar adquirir um lugar no Sistema de Franquias, acho impensável um retorno futuro do Fla ao LoL, mas certamente no futuro continuaremos a falar da época em que o Time da Massa explodiu o engajamento da liga e mostrou uma verdadeira paixão pelos esportes eletrônicos.