CS:GO: A importância de ter Gaules como aliado na cobertura da cena feminina

Cobrir o cenário feminino não é fácil e é importantíssimo ter grandes aliados nesta tarefa

Por Jairo Junior 30.08.2021 18H18

Cobrir o cenário feminino de Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) não é fácil. Propositalmente, esta é a primeira frase que os leitores terão contato neste texto e não à toa. Vou contar aqui a minha experiência como jornalista neste âmbito e é importante que isso fique claro do início ao fim. Outro ponto crucial que apresentarei é como a tarefa pode ser mais leve, caso aliados como Gaules apareçam cada vez mais nesta cena.

O início da minha história com o cenário feminino

Minha história profissional com os esportes eletrônicos começou em 2015. Porém, apenas em 2016 tomei conhecimento de que existiam não só equipes femininas, mas uma cena composta somente por mulheres. Desde aquela época me lembro de gabs, cAmyy, Showliana, fly, dinha, Erika, shAy, Santininha e mais competindo. Fica aqui a minha admiração por cada uma delas, já que até hoje a maioria ainda está ativa no cenário de alguma forma e, quem não está mais, deixou seu legado marcado.

Santos/Reprodução
Alientech/Reprodução

Nesta época, a minha primeira reação em relação aos times femininos foi estranhamento. Eu não entendia o porquê disso, já que não há diferenças comprovadas entre homens e mulheres que implicam ser necessário a existência de torneios exclusivos para elas.

Este é o mesmo argumento que leio em praticamente todas as matérias que faço sobre o assunto, e que gera uma dica valiosa: Se o assunto te interessa a ponto de questionar e opinar publicamente, pesquise a respeito dele antes de comentar com base em achismos e preconceitos.

Podemos achar que sabemos muito sobre diversas coisas, mas em questão de vivência, acredite, a teoria não supera a prática. Pergunte para quem vive aquilo diariamente, e não para quem está de fora.

A importância do cenário feminino

De forma resumida, eu descobri que a existência do cenário feminino se dá pela criação de um ambiente seguro para que mulheres joguem, se interessem e se desenvolvam. Não tem a ver com biologia, como muitos questionam, mas sim com sociologia. Porém, isso é apenas a ponta do iceberg.

Esqueçam o gênero e lembrem-se: estamos falando de mais players e fãs para o game e cenário que amamos. Quanto mais, melhor. Melhor para nossa jogatina, pois nada é pior que jogar um jogo esquecido pela maioria. Melhor para o cenário profissional brasileiro, que tem mais consumidores e também mais atletas tentando se desenvolver. Melhor para o esport em geral, que tem no CS:GO um dos seus vários tentáculos e, assim que um cresce, alavanca os demais. Vitórias no CS feminino também são no VALORANT feminino, ou no LoL, ou no Free Fire, e vice-versa.

Absolutamente ninguém tem a perder com a entrada das mulheres no cenário. Todas as pessoas, de fãs a profissionais, saem ganhando em cada âmbito existente.

A criação do cenário feminino nunca foi um capricho, mas sim uma clara necessidade. De forma otimista, gosto de pensar que trata-se de uma medida temporária. No momento em que cada vez mais mais mulheres entrarem, se interessarem, jogarem e competirem e este número se equiparar ao dos homens, é provável que a cena feminina não seja mais necessária, pois elas já estarão inseridas em todos os ambientes competitivos.

Os campeonatos sempre são mistos, mas a falta de oportunidades, estrutura e incentivo recorrente no cenário feminino faz com que os campeonatos sempre pareçam masculinos. Não é sobre exclusividade, é sobre igualdade de condições.

Como é cobrir o cenário feminino

É engraçado lembrar que o que chegou até mim como uma desconfiança, tornou-se uma paixão. Aos poucos fui conhecendo e me apaixonando pela cena feminina. Isso porque eu enxergo nelas a verdadeira essência do esporte… Força, resiliência, superação de obstáculos, paixão pelo que faz, competitividade e rivalidade. Muita rivalidade! Uma que eu realmente enxergo pouquíssimo na cena tradicional, por exemplo.

Mas Jairo, se você gosta tanto, por que é difícil cobrir esse cenário? Infelizmente por conta de parte da comunidade… É desanimador se esforçar para realizar uma grande cobertura e metade dos comentários serem um questionamento aleatório sobre o cenário que já foi respondido milhares de vezes.

Qual o sentido de contar uma história incrível de uma jogadora e as reações serem de desdém somente por se tratar de uma mulher jogando? Me dá uma vergonha enorme convidar uma mulher para compartilhar sua história, tentar mostrar algo legal para a comunidade e fazer aquela mesma pessoa ter que ler comentários totalmente desnecessários. Em vários momentos já pensei: “Era melhor não ter feito nada”. É revoltante.

No final, o amor por esse cenário e o senso de fazer dar certo prevalecem. Mas é triste que somente isso tenha que bastar. Se é triste pra mim, imagine pra elas, que são quem realmente sofrem na pele...

A importância de aliados gigantes pela causa, como Gaules

Mudar todo esse panorama que comentamos anteriormente é extremamente fácil e difícil ao mesmo tempo. É fácil porque as ações que a comunidade precisa para alavancar a cena feminina são extremamente simples de se fazer: Apoie. Engaje com o conteúdo. Assista aos campeonatos. Siga as jogadoras. Cobre de seus criadores e portais de conteúdo favoritos falarem sobre o cenário feminino. Se ainda assim não quiser, respeitar já ajuda e muito. Não é difícil fazer nem um e nem outro.

A parte difícil é que mudar atitudes que já estão entranhadas nas pessoas é algo muito complicado. Mudar a si mesmo já não é tarefa fácil, uma outra pessoa é ainda pior. E é aí que entra o papel mais importante dos influenciadores, que precisam levar ao pé da letra o nome da própria profissão e influenciar de forma positiva.

Um grande exemplo disso é Gaules, que é parceiro do Omelete e transmitiu no último domingo (29) a final do Grrrls League com uma média de 27.754 espectadores e um pico de 36.198. O bom nível das equipes e aquela rivalidade que mencionei antes impressionou a muitos que não conheciam este cenário mais de perto. Muito provavelmente estas pessoas foram influenciadas a consumir mais este tipo de conteúdo e consequentemente a ter mais respeito pelas mulheres que jogam.

Ter Gaules como um aliado na cobertura do CS:GO feminino seria uma ajuda e tanto. E quando digo isso, é em forma de pedido, direto e pessoal: Gaules, precisamos de suas duas facetas por aqui - tanto a do streamer que entretém, quanto a do influenciador que opina e tenta tirar o melhor das pessoas, exatamente como foi feito no final da live.

Além do pedido direto a Gaules para que torne sua presença no cenário feminino em algo diário e não se limite em apenas aparições, faço o mesmo convite a outros streamers, youtubers, jogadores e fãs. Ajudem nesta luta por uma comunidade maior, melhor e mais justa. Não se trata de “lacrar” ou qualquer besteira do tipo, e sim de engrandecer nossa paixão em comum, que são os esports.