Disputada do início ao fim, a Série de Acesso para a Liga Brasileira de Free Fire (LBFF) 6 foi marcada por histórias incríveis envolvendo as equipes que subiram da Série B para a elite. Entre os promovidos, está a Equipe X, que garantiu a vaga no detalhe, na nona e última queda. 

O elenco, apadrinhado pelas torcidas de Corinthians e Fluxo, não teve sua classificação comemorada à toa, afinal, não é sempre que um trio feminino garante vaga na Série A. Em meio a questionamentos sobre a força de um elenco que mistura homens e mulheres, a Equipe X quebrou mais uma barreira do cenário feminino com as promoções de Debbs, Ldiaas e Dri para a elite. 

O The Enemy conversou com o trio após a conquista da vaga e cada personagem contou a sua trajetória, ao mesmo tempo que repercutiu a classificação para a elite. Entre elas, a mais ovacionada nas redes sociais foi a suporte Debbs, que arrancou vários gritos dos narradores durante as transmissões da Série B e do Acesso. 

Em busca de igualdade - Debbs

Deborah Guimarães tem 19 anos e nasceu em Pontalina, Goiás. Depois de muita insistência do irmão, Debbs largou o Battlefield e se entregou ao Free Fire, onde passou a se dedicar ao competitivo, dando seus primeiros passos no cenário feminino.

Debbs começou a construir sua história na Game Over, onde ficou por um ano. Em seguida, passou por B4, SS e X5, onde teve uma das primeiras experiências com um elenco misto. Foi seu último time antes da Equipe X. Inspirada no rei - Bak - pela confiança que ele transmite dentro de campo e imensamente apoiada pelos pais, Deborah coloca a classificação para a Série A como o melhor momento da sua carreira até aqui.

Senti uma imensa gratidão, por ter passado por tudo o que passei e nunca ter desistido, mesmo tendo muito motivos para isso”, contou Debbs. 

Em meio à ascensão, ela lembra dos piores momentos de sua carreira, quando precisou lidar com as perdas do melhor amigo e do avô, discursos e atitudes desmotivacionais de empregadores, que a fizeram se sentir pior ou inferior em comparação a outros nomes do cenário.

Eu cheguei onde cheguei sem precisar de hype de org, sem marketing. Tive pessoas que confiaram em mim e me permitiram lutar pelos meus sonhos. Faço questão de ressaltar minha gratidão a todos que confiaram em mim e aos fãs que sempre me apoiaram”, continuou.

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Debbs é um dos grandes destaques individuais da Equipe X (Foto: Divulgação/Equipe X)

Debbs reconhece o que ela representa e a importância das suas conquistas para as outras mulheres que buscam um espaço no cenário. “Eu fico triste quando penso que somos minoria onde deveríamos ter igualdade”, refletiu. Isso, entretanto, aumenta ainda mais a vontade de fazer a diferença. 

Conheço várias meninas com um potencial imenso, que não se desenvolvem porque não têm oportunidade para isso”, comentou a jogadora, que desde que pisou na Série B prometeu “mostrar para todo mundo que gênero não define jogabilidade e lugar de mulher é onde ela quiser”.

Com esse discurso, Debbs conclui que a Equipe X chega para fazer a diferença na Série A da LBFF, que na última edição teve apenas duas mulheres inscritas - a técnica Croft, pela Team CodaSolid, e a jogadora Maellen, que foi anunciada como reforço do Santos Real, mas nem chegou a dar às caras.

Sinto um orgulho imenso em dizer que a org que eu represento vai chegar para mostrar que não existe nenhuma diferença [de gênero] dentro de jogo”, pontuou Debbs.

Lutando por representatividade - Ldiaas

Inspirada na ideia de evoluir e melhorar cada vez mais, e motivada a representar o cenário feminino da melhor maneira possível, Lucyana Dias, de Petrolina, Pernambuco, pensa bem parecido com a Debbs. Com 17 anos, a nordestina é a garota mais nova que já chegou na elite do Free Fire. Ldiaas conheceu o jogo na escola, onde brincava com os amigos na sala de aula. A entrada no competitivo se deu de forma natural, muito pelo espírito competitivo que sempre a rodeou. 

Antes do Free Fire eu jogava vôlei e a sensação de jogar algo importante sempre dá um frio na barriga que é muito bom! Sempre fui uma pessoa competitiva”, contou Ldiaas. 

Através de uma amiga, Dias começou a escrever sua história em uma guilda apelidada de CBA, onde disputou vários treinos e se destacou o suficiente para chamar atenção da Golpistas. Lá, Ldiaas ficou um ano e disputou vários campeonatos femininos, além do Campeonato do Alok e da primeira temporada da Série B da LBFF. 

Quando saiu da Golpistas em novembro do ano passado, Dias passou a defender a Game Over, onde conheceu Reiner, atual técnico da Equipe X - com quem assinou após disputar um campeonato da NFA com a GPS. Lucyana foi chamada para a equipe pela Manager Adriane que a convidou para fazer um teste - este, concluído com sucesso pela jogadora, que classificou como “única e maravilhosa” a sensação de estar na Série A. 

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Ldiaas disputou a Série B pela Golpistas no final do ano passado (Foto: Divulgação/Equipe X)

Assim como Debbs, Ldiaas se enxerga no melhor momento da sua carreira, principalmente pelas dificuldades que passou no final do ano passado, quando se viu sem proposta nenhuma na mesa até janeiro. A falta de contato se deu muito pela decisão que a jogadora tomou quando decidiu abandonar o cenário feminino e focar em treinar para a LBFF. 

Dias acertou em cheio, e não à toa, hoje está entre os melhores do cenário brasileiro. Ao ser questionada sobre o pilar da classificação na Série de Acesso, ela exaltou a união e amizade que, digo com toda certeza, são sinônimos de Equipe X. 

Nós nunca abaixamos a cabeça, independente da situação, esse foi um dos pilares da nossa classificação, além é claro da nossa amizade e união”, completou.

O ponto de equilíbrio - Dri

A união e amizade exaltada por Ldiaas tem dedo de outra protagonista na conquista da Equipe X, a Manager Adriane Miranda, ou só Dri. A carioca de 23 anos tomou conhecimento do battle royale por causa das irmãs que jogavam o dia inteiro. Adriane se interessou pelo jogo, mas precisou trocar de celular para instalar e jogar, uma vez que o seu, naquele momento, tinha todo o espaço tomado pelos conteúdos do pré-vestibular que prestava. 

Dri se encontrou no Free Fire, e uma das suas primeiras amizades foi Mob, que na época já fazia parte da LOUD. Através da amizade com o influenciador, ela foi se aproximando cada vez mais do cenário, conhecendo as pessoas “de cima para baixo”. No processo, Dri percebeu que “existia uma diferença entre meninas e meninos”, sendo que as meninas sempre ficavam separadas dos meninos, que por sua vez desfrutavam de mais oportunidades. 

Não satisfeita com o que a rodeava, Dri correu atrás de fazer diferente, e com a missão de movimentar o cenário feminino, se juntou com uma amiga, que hoje trabalha na Garena, mas antes foi seu braço direito na luta pelo crescimento do competitivo feminino de Free Fire. As duas organizavam treinos, auxiliavam as meninas no dia a dia, ajudavam com indicações, contatos, campeonatos, e tudo o que fosse necessário para dar visibilidade aos talentos femininos da cena. 

A partir daí, Adriane se viu cada vez mais próxima do cenário, e percebeu que poderia fazer mais para diminuir a diferença gritante em relação às portas que são abertas para os homens e para as mulheres. Depois de passagens por ADR, X5 - onde se viu mais próxima da Debbs - e Medellin, única organização onde não esteve envolvida com o competitivo, Dri abraçou a Equipe X, onde é a responsável por colocar ordem na casa, organizando o time e mantendo o elenco preocupado apenas em jogar. 

Além disso, a Manager também incentiva muito os seus jogadores, o que ela acredita ser tão importante quanto a construção de uma boa relação entre todos que fazem parte da equipe. 

O método de trabalho “X” que superou as adversidades e descrenças

A Equipe X já existe há bastante tempo, desde sempre nós tínhamos o desejo de disputar a LBFF, e faz dois meses que montamos essa line-up que subiu agora. Se eu falar que foi fácil, estarei mentindo, mas graças às ideologias que trabalhamos juntos, nunca abandonamos o projeto, e foi isso que fez a gente chegar até aqui hoje. Todo mundo precisa estar à vontade para jogar, sem pressão. Se você assistir os vídeos de bastidores da equipe, vai ver sempre um incentivo partindo de mim e do meu coach. Me preocupo muito em deixar os jogadores livres, e a convivência com certeza faz diferença. Sei que em muitas lines o trabalho não funciona porque há uma energia ruim, e isso atrapalha o rendimento. Nosso jeito de trabalhar faz toda a diferença”, exaltou Dri.

Nós fazemos várias coisas juntos. Vamos ao cinema, jogamos bola, UNO, mímica, e isso tudo foi importante para a construção da relação, boa convivência e entrosamento do time. Também tenho muito orgulho do Reiner, ele é um coach excepcional e tenho muito orgulho do trabalho dele”, completou.

As dificuldades que a Equipe X passou, relata Dri, nunca foram por falta de apoio, nem mesmo financeiro. Nitidamente aliviada pelo time ter conseguido a promoção para LBFF 6, ela lembra que várias situações dentro e fora de jogo, coisas que não dependiam da equipe, sempre atrapalhavam. Até poderia parecer exagero, mas aí a gente que na semana da Série de Acesso, a Equipe X viveu um dilema com a falta de internet, que atrapalhou na preparação da equipe. No final, o time precisou se hospedar na GH do Corinthians, de onde disputou o Acesso. Se olhar o histórico da Série B até aqui, nada nunca foi fácil para a Equipe X, e muito menos para os torcedores, afinal, não é fácil torcer para um time que sempre está vivendo o tudo ou nada na última queda.

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Equipe X deixa em evidência a importância de uma boa relação fora dos campos (Foto: Divulgação/Equipe X)

Além de lidar com a falta de sorte e os perrengues momentâneos, havia ainda uma descrença por uma parte da comunidade, que não acreditava que um elenco com duas jogadoras fosse capaz de chegar na Série A: “Só que isso eu já estava meio que acostumada porque eu vim do cenário feminino, as pessoas achavam que as meninas não conseguiriam, que elas não são nada, mas aqui elas são muita coisa”.

Inspirações e importância da figura feminina

A inspiração para fazer um bom trabalho vem de grandes figuras do cenário de Free Fire. Dri lembra de Ge, Diretor do Fluxo, mas destaca que se inspira principalmente nas figuras de Bianca (ex-Manager da Los Grandes) e Alice (Manager da LOUD).

Adriane acredita que a figura feminina faz toda a diferença em uma organização. Para dar o pontapé no assunto, tomei como referência a Dona, ex-Manager da Dragões, que dominou o cenário de Free Fire emulador no primeiro semestre do ano e faturou alguns dos principais títulos da cena, como Liga NFA, Copa Nobru (CPN) SuperLiga GrandSlam.

A figura feminina faz total diferença, nós pensamos em coisas que às vezes passam batido pela figura masculina, e isso pesa na hora de um momento importante. A Dona é uma pessoa super gentil, tive um contato breve com ela, mas tenho certeza que a gentileza dela motivou escolhas que foram essenciais para a chuva de títulos da Dragões, ainda mais se tratando de um time formado por jogadores que são menores de idade, eles precisam da figura de uma mulher por perto”, comentou Dri.

O que o futuro reserva para a Equipe X?

Em meio a vários boatos em volta da Equipe X e seu futuro, ao final da entrevista, questionei Adriane sobre isso. Dando a entender que o elenco não sofrerá mudanças até a LBFF 6, que estreia no dia 28 de agosto, Dri revelou que há uma organização por trás da Equipe X e o anúncio será feito muito em breve.

As pessoas acham que não, mas nós sempre tivemos o suporte de uma organização. No início do projeto, um amigo meu, que hoje é nosso chefe, apostou na gente, então sempre fizemos parte de uma org, com contratos, salários e todo suporte necessário. A organização será lançada logo e vamos revelar tudo. Nós estaremos de cara nova para vocês na LBFF 6”, pontuou Dri, que concluiu deixando claro que a Equipe X chega na Série A com muita atitude para brigar pelo título.