
Esqueça exclusivos: a próxima geração do Xbox é sobre ecossistemas de serviços
A Microsoft se afasta cada vez mais da ideia de exclusivos, mas está marcando sua presença em várias outras frentes
Por muito tempo, a disputa entre Sony e Microsoft poderia ser sintetizada pelos títulos exclusivos de cada empresa. God of War e The Last of Us angariaram uma base enorme de fãs, da mesma maneira que Gears of War e Halo, por exemplo.
A próxima geração de consoles, representada, por enquanto, pelo PlayStation 5 e Xbox Series X, dá indícios de que poderá ser diferente. O foco parece se deslocar cada vez mais para o ecossistema de serviços fornecido por cada uma das empresas, e não apenas nos títulos disponíveis para seus consoles.
Mat Piscatella, analista da indústria de games no NPD Group, já disse que a exclusividade parece estar acabando: “No fim da década, eu duvido que alguma empresa irá amarrar conteúdo exclusivamente a um dispositivo. Hardware especializado será algo legal de se ter, e não que é necessário ter”.
O exemplo máximo disso é a própria Microsoft: todas as notícias que rodeiam o anúncio do Xbox Series X corroboram com a hipótese de que a empresa quer abraçar os jogadores com seus produtos, e não necessariamente vender consoles sob o apelo de um ou dois jogos.
Serviços, não consoles

Disponível tanto para PC quanto para Xbox One, o Game Pass se estabeleceu como referência ao criar uma espécie de Netflix dos video games. O serviço por assinatura traz um catálogo vasto e repleto de títulos consagrados, além de não abusar dos consumidores em seu preço.
A Microsoft acredita piamente no potencial desse produto, e demonstra isso ao disponibilizar seus principais títulos no Game Pass assim que eles são lançados. Exemplos disso são Gears 5, o Crackdown 3 e até mesmo The Outer Worlds, que apesar de ser multiplataforma, é feito por uma desenvolvedora abarcada pelo Xbox Game Studios.
A presença do serviço no PC denota ainda mais a intenção da Microsoft: a ideia não é que o jogador tenha, necessariamente, o console mais novo da empresa, e sim de que ele jogue enquanto usa seus serviços.
Em outra frente, há ainda o Project xCloud, serviço de streaming prometido há muito pela Microsoft. A plataforma não precisará de um console para funcionar e rodará os games diretamente em aparelhos mobile; entre os títulos que estarão no xCloud, vale mencionar, estão nomes como Gears 5.
A casa dos indies vem do Japão

Surpreendendo bastante gente, Cuphead chegou para Nintendo Switch em abril de 2019; Ori and the Blind Forest seguiu o mesmo caminho e chegou à plataforma em setembro daquele ano.
Além de serem títulos desenvolvidos, inicialmente, como exclusivos do Xbox One e PC, os dois possuem sua envelopagem indie como outro fator em comum. O formato em 2D e os traços fora do convencional trazem toda a identidade de um estilo que se consagrou em outra plataforma dessa geração: o Switch.
O console japonês se consolidou como a casa dos jogos independentes por uma série de fatores, entre eles estão a sua portabilidade e o tato da Nintendo ao negociar com desenvolvedores menores.
Percebendo que seus jogos poderiam ser melhor aproveitados em outra plataforma, a Microsoft não hesitou em ceder os games para o Switch. Cuphead, inclusive, chegou a figurar em Super Smash Bros. Ultimate, como uma das skins disponíveis para o Mii Gunner.
Tá, mas e os exclusivos?

Desde 2018, a Microsoft adotou uma estratégia agressiva de adquirir novas desenvolvedoras para agregar ao repertório do Xbox Game Studios. Encabeçando esse grupo de aquisições está a Obsidian, conhecida à época por Fallout: New Vegas e posteriormente voltando aos holofotes com The Outer Worlds.
Dadas as estratégias seguidas em outros setores, é possível argumentar que os jogos feitos pelo Xbox Game Studios cumprem a função de dar mais repertório ao ecossistema criado pela Microsoft.
Claro, alguns deles seguirão como exclusivos de console, mas à essa altura do campeonato, isso parece mais uma consequência do que um foco da empresa. Afinal, os exclusivos do Xbox, há algum tempo, são todos disponibilizados para PC.
Considerando que a Sony também se aproxima dos computadores, com fortes indícios de Horizon: Zero Dawn chegando à plataforma, faz cada vez menos sentido ter os jogos exclusivos como principal fator de venda de um console.
Assim, é possível ver a próxima geração do Xbox como a escolha prática para quem prefere uma máquina pronta e que tenha acesso a todo o ecossistema gerido pela Microsoft. Hellblade 2 e Halo Infinite, portanto, não devem ser vendidos como títulos do Xbox Series X - ou seja lá como a Microsoft queira chamar seus consoles - e sim como títulos da própria Microsoft, sem distinção de plataformas.
No fim das contas, a mensagem que a empresa parece querer passar é: jogue o que quiser e fique à vontade para escolher entre Xbox e PC, mas use uma de nossas plataformas para acessar seus games.