Os últimos anos foram marcados por movimentos que revelaram ambientes de trabalho bastante problemáticos em grandes estúdios de jogos — o caso da Activision Blizzard, provavelmente, é o mais conhecido de todos. Agora, parece que o Undead Labs, da Microsoft, segue em caminho similar, guardadas as devidas proporções.

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Conforme publicado pelo Kotaku, o estúdio Undead Labs dobrou de tamanho desde a compra por parte da Microsoft, em 2018. Após o anúncio de State of Decay 3, entretanto, que ocorreu em 2020, a empresa parece não ter conseguido passar da fase de pré-produção, e os motivos podem ser preocupantes.

Personagem correndo em State of Decay.

Recentemente, surgiram alegações de que o ambiente de trabalho é marcado por burnout, problemas de gerenciamento diversos e misoginia. Algo que vai na contra-mão daquilo que o próprio Phil Spencer pregou durante participação no DICE Awards 2022.

"Falhamos quando deixamos de fornecer um ambiente seguro e inclusivo para todas as pessoas que trabalham em nosso setor", disse o líder da Xbox à época. "Falhamos quando toleramos abusos. Falhamos toda vez que alguém se sente indesejável em nossa indústria e em nossas comunidades."

Carro em State of Decay 2.

Em reportagem publicada na última quinta-feira (31), o Kotaku afirmou ter entrevistado 12 funcionários atuais e antigos do Undead Labs. Muitos se mostraram bastante positivos em relação a determinados aspectos do estúdio, mas problemas sérios foram mencionados.

Por incrível que pareça, os anos que sucederam a aquisição do estúdio se mostraram os mais problemáticos pela perspectiva de alguns dos funcionários. Aliás, parte dos entrevistados disse que os problemas surgiram dentro do próprio estúdio, mas que a Microsoft poderia ter ajudado em vez de ficar distante, mantendo uma abordagem de simplesmente permitir que a empresa funcione sem tanto controle.

Casa abandonada em State of Decay 2.

"Tínhamos medo de que eles entrassem e mudassem nossa cultura, mas nosso colapso veio de dentro e poderíamos ter usado a ajuda [da Microsoft]", disse um dos antigos desenvolvedores.

A reportagem do Kotaku aponta que o veículo tentou contato com a Microsoft repetidas vezes, com perguntas detalhadas sobre os acontecimentos. Em resposta, foram enviadas apenas algumas "estatísticas, breves comentários sobre o cenário" e uma declaração atribuída a Matt Booty, líder do Xbox Game Studios.

Ataque com martelo.

"Todos os estúdios da Xbox recebem recursos e orientação de que precisam para crescer em capacidade e cultura. O tipo de suporte varia de acordo com o estúdio, mas cada um tem uma conexão direta com os recursos de RH da Microsoft fora do que eles têm em sua equipe e a capacidade de trabalhar com outros estúdios e equipes de parceiros para aproveitar seus conhecimentos. Além disso, todos os funcionários da Microsoft, incluindo nossas equipes de estúdio, são obrigados a concluir regularmente nosso treinamento de Padrões de Conduta nos Negócios, que abrange tópicos como assédio, código de conduta do fornecedor e muito mais. Nos últimos anos, o Undead Labs passou por uma série de mudanças positivas e estamos confiantes na direção que a equipe está tomando State of Decay 3, um dos nossos jogos de mundo aberto mais ambiciosos em desenvolvimento", consta.

State of Decay 3 segue em pré-produção quase dois anos após o anúncio. De acordo com alguns dos entrevistados, isso se deve à expansão rápida pela qual o estúdio passou após ter sido vendido e liderança ruim, principalmente.

Mirando em State of Decay 2.

Um aspecto bem menos simples desses problemas pode ter relação com o fato apontado por 9 dos 12 funcionários anônimos entrevistados pelo Kotaku: o atrito entre equipes ou até mesmo determinados desenvolvedores envolvia preconceito contra "mulheres, pessoas não binárias e outros trabalhadores marginalizados."

"As opiniões das mulheres eram totalmente rejeitadas, mesmo para códigos extremamente básicos ou conhecimento de jogos", disse um dos funcionários. "Ninguém as ouvia, mesmo as mulheres em cargos de diretoria eram completamente ignoradas, cortadas e culpadas pelos problemas."

Personagens de State of Decay 2.

Outros comentários machistas incluíam frases como "você não está tão bonita quanto de costume hoje" e "estou surpreso que uma menina como você tenha esse trabalho", de acordo com as fontes do Kotaku.

Quando funcionários levaram as próprias reclamações até Philip Holt, chefe do estúdio, e Anne Schlosser, diretora de "pessoas e cultura" até 2021, eles teriam recebidos respostas vagas sobre as acusações de descriminação e bullying ou até mesmo culpado as vítimas. Ambos, entretanto, negam o descaso.

Plantas em State of Decay 2.

Em setembro de 2021, aliás, Schlosser deixou o estúdio sem nem sequer se despedir dos demais funcionários. De acordo com ela, tudo já fazia parte de uma reorganização do estúdio, mas não foram informados detalhes.

Por enquanto, não há como saber quando State of Decay 3 será lançado. Há até mesmo controvérsias em relação ao anúncio, já que, de acordo com a reportagem, o Undead Labs foi obrigado a mostrar o projeto antes da hora — embora a Microsoft tenha dito, em outra declaração, que a participação do estúdio na E3 era opcional.