Eu não sou um jogador de Microsoft Flight Simulator. Pelo menos não desde a minha infância, no cada vez mais distante final dos anos 90.

O que não significa que eu não admire profundamente a série e o esforço que a Microsoft e, nestes últimos anos, o Asobo Studio, que revitalizou a franquia de um jeito que até então era difícil de imaginar.

Parte do que fez essa revitalização dar certo foi o compromisso com o realismo da simulação, tanto na representação do próprio planeta e condições climáticas, quanto na física dos próprios aviões e helicóptero.

E o que talvez prove isso mais do que qualquer coisa é quando a equipe aplica o mesmo esforço, vontade e cuidado com uma libélula metálica de um filme de ficção científica.

Gratuita para baixar desde 13 de fevereiro, a expansão de Duna dá a chance de você pilotar um ornitóptero – especificamente, a versão imaginada e criada para os filmes de David Villeneuve, que tem uma estética bem mais peculiar do que qualquer avião ou helicóptero do mundo real.

Mas, aplicando a mesma filosofia que usam em qualquer outro veículo, mesmo em um terreno literalmente alienígena, o DLC ainda consegue se encaixar perfeitamente no estilo de outras missões que você encontra no hub do jogo.

É claro que este não é o primeiro crossover de Flight Simulator, nem mesmo o primeiro crossover com uma franquia de ficção científica, com o Pelican de Halo sendo um conteúdo especial para os 40 anos da franquia de aviação.

Microsoft Flight Simulator - Pelican
Microsoft/Divulgação

Mas o Pelican, apesar de fictício, é ao menos crível como um veículo aéreo. O ornitóptero dos filmes novos?

Nem tanto.

"Ele é basicamente uma libélula, e foi pensado desta forma", explicou Jorg Neumann, líder da equipe de Microsoft Flight Simulator, em entrevista ao The Enemy. De acordo com ele, a produção dos filmes de Villeneuve queriam um visual agressivo para as naves descritas por Frank Herbert, que acabou vertendo para algo parecido com o inseto.

"Para nós, o interessante é que nós temos helicópteros, planadores e aviões e tudo mais", continuou. "O modelo de física [do ornitóptero] precisava ser único. Porque literalmente só tem as asas reverberando em um ritmo absurdamente acelerado, e você pode guiar ela de jeitos malucos, né? Dá pra girar ela e fazer curvas incrivelmente retas."

Para solucionar esta questão, primeiro a equipe pensou em um modelo de movimentação semelhante ao helicóptero Osprey, mas perceberam que não estava funcionando.

"Nós colocamos um dos nossos melhores programadores de física [no projeto], e ele levou muito a sério para torná-lo realista", disse Neumann.

Esse cuidado é notável antes mesmo de você subir aos céus: ver as lâminas que servem como asas começarem a bater – primeiro lento, depois cada vez mais acelerado – durante o processo de decolagem é quase hipnotizante pela vista do cockpit.

E como Neumann disse, pilotar o ornitóptero é uma experiência complexa, mas recompensadora de várias formas. Se você não tomar cuidado, ele pode facilmente sair do seu controle, especialmente durante as curvas mais apertadas e intensas.

Mas quando você se está em sintonia com a máquina, dá para se sentir capaz de desviar de qualquer obstáculo, passar por qualquer buraco – por menor que seja – e sair intacto, e ir de uma velocidade extrema para um pouso rápido e gracioso em questão de segundos.

E é impressionante o quanto você pode ir de uma sensação para outra em um piscar de olhos.

A equipe também conseguiu implementar um dos elementos mais legais dos filmes no jogo: o mergulho, em que você pode desativar o motor e jogar o ornitóptero por uma queda, ativando-o rapidamente metros antes de uma colisão para atravessar certos territórios mais rapidamente.

É claro que, em uma das primeiras vezes que eu tentei isso, eu apertei o botão errado e fiz meu piloto desmaiar com a força G.

Novamente, como alguém que não é um jogador frequente de Flight Simulator há literalmente décadas, aprender o básico de pilotar uma máquina que teve seu modelo de física criado especialmente para este DLC foi um processo longo, mas me fez ter uma apreciação considerável do esforço por trás deste desenvolvimento, e o quanto ele

Arrakis. Duna. Planeta deserto.

O mesmo apreço do Asobo também se encontra nas próprias paisagens, que não representam algum deserto na Terra ou algo assim para os desafios, e sim uma versão parcialmente recriada de Arrakis pela equipe de desenvolvimento.

"Nós piramos muito fazendo Duna parecer Duna", disse Neumann. "Construímos uma parte gigante do planeta. Fizemos a Muad'Dib aparecer – a lua mesmo – e tentamos fazer o modelo de iluminação ser precisamente como o filme."

O processo, de acordo com ele, foi extremamente colaborativo com a produtora dos filmes, a Legendary – que inclusive foi a responsável pelo crossover, tendo entrando em contato com a Microsoft especificamente para trazer Duna a Flight Simulator.

"Dois caras da Legendary, Sam Rappaport e... Andre, eu acho... chegaram e falaram: 'ei, Jorg, somos grandes fãs de Flight Sim e temos sequência de Duna para sair, o que você acha?'", relembrou. "E respondemos 'lógico' sem nem pensar duas vezes."

A Legendary deu acesso sem precedentes para o pessoal do Asobo trabalhar nesta expansão: Jorg chegou até a viajar para Budapeste com o designer de produção do filme, Patrice Vermette, para estudar e analisar um modelo de ornitóptero em tamanho real criado para o set de filmagem.

Eles também receberam vários elementos da pesquisa do próprio time da Legendary, incluindo dados relacionados à movimentação da areia – que colocaram em bom uso no desafio final, quando você precisa resgatar seu instrutor e fugir de uma tempestade de areia gigantesca.

Esse tipo de colaboração é algo que Neumann sempre quer sentir destes tipos de crossover.

"Eu tenho isso com fabricantes de aeronaves", declarou. "Os melhores aviões que fazemos são os em que as fabricantes estão totalmente investidas na gente acertar elas. Quando eles dizem: 'você vai fazer nosso avião do jeito certo?', eu digo: 'Sim, nos dê as informações e vamos fazer do jeito certo.'"

"Quando eu sinto isso da produtora de cinema, faz toda a diferença do mundo."

Infelizmente, mesmo com o processo colaborativo, o Asobo acabou não implementando um dos elementos mais icônicos de Duna no DLC, o verme da areia, o que é definitivamente decepcionante tanto para mim, quanto para o próprio Jorg Neumann, que também queria trazer desesperadamente o bichão para o jogo.

"Bom, estão trabalhando em Messias de Duna, quem sabe na próxima."

Sobre futuras possibilidades de crossover, Neumann não entrou em muitos detalhes sobre possibilidades futuras, mas citou que um sonho de muitos fãs é de ver o helicóptero do filme (e série) Trovão Azul jogável, e que espera trazer isso em breve.

Não posso dizer que a expansão de Duna possa servir necessariamente como uma porta de entrada para um público em potencial para Flight Simulator, já que aprender a pilotar ela é uma tarefa bem complexa.

Mas, pelo menos no meu caso, me deu vontade de testar outros modos de jogo com naves mais tradicionais.

A expansão de Duna pode ser baixada gratuitamente para Microsoft Flight Simulator, que está disponível no PC e Xbox Series X e S, podendo ser baixado sem custo adicional por assinantes do Game Pass.

LEIA MAIS