Lá na época do Atari, entre os anos 1970 e 1980, um desenvolvedor produzir um jogo sozinho era a regra. Design, programação, música e até a história, quando havia algum enredo, eram feitos por uma única pessoa. Só que os games naqueles tempos não eram tão complexos quanto os de hoje em dia.

Por esse motivo, é sempre impressionante quando descobrimos um jogo atual cheio de mecânicas, recursos e, às vezes, até visual rebuscado que foi feito por um só desenvolvedor. Abaixo, o The Enemy listou cinco games criados por uma única pessoa que são absolutamente incríveis.

Cave Story | Daisuke “Pixel” Amaya (2004)

Jogos independentes eram algo ainda muito mais raro em 2004 e, praticamente, inexistentes em consoles. Nesse ano, um japonês chamado Daisuke Amaya — conhecido também por "Pixel" — lançou gratuitamente no PC Cave Story, um jogo que havia sido inspirado por Mega Man, Super Mario e Metroid — e impressionou com uma jogabilidade polida e uma história bacana.

O projeto foi desenvolvido no tempo livre de Amaya ao longo de cinco anos. Ele sozinho projetou, programou, escreveu a história e até compôs a música. Por ser um freeware de ótima qualidade, Cave Story foi ficando popular na internet até chegar, anos depois, aos consoles.

Rolaram ainda os lançamentos de uma versão aperfeiçoada, chamada Cave Story+, que hoje é a versão que você encontra no Steam, e de um remake com gráficos em 3D pro Nintendo 3DS, que foi feito pela equipe do estúdio Nicalis. Essas duas edições completam 10 anos em 2021. Cave Story é um dos precursores dos jogos indies de um único desenvolvedor no mainstream.

Braid | Jonathan Blow (2008)

E por falar em precursor de jogos independentes, Braid esteve entre os primeiros games da chamada nova onda indie da sétima geração. O desenvolvedor Jonathan Blow lançou uma primeira versão mais simples do jogo para PC, em 2005. Ali, ele projetou e programou tudo sozinho. Mas em 2008 sairia outra versão de Braid. Blow se juntou ao artista David Hellman, que refez a arte do game e deixou ele muito mais agradável visualmente para o lançamento no Xbox 360.

Braid fez um sucesso imenso na plataforma e saiu no ano seguinte para o PS3 e novamente para PC, com essa estética nova. Com o jogo caindo no gosto popular, muitas pessoas que nunca jogaram um game indie começaram a prestar atenção nesse nicho e vários outros desenvolvedores se sentiram inspirados a trabalhar em seus próprios projetos nos anos seguintes. Depois disso, Jonathan Blow ficou sete anos desenvolvendo The Witness, mas, dessa vez, apesar de ter se ocupado de boa parte das funções, ele trabalhou com uma equipe.

Minecraft | Markus “Notch” Persson (2009)

E como falar de jogos feitos por uma única pessoa sem mencionar o jogo mais vendido da história, né? Minecraft, pra quem nunca soube direito do que se trata, é um jogo sandbox de sobrevivência e de criação composto por pequenos blocos. O visual é diferente porque ele é feito de voxels, que são, a grosso modo, o equivalente 3D dos pixels.

Tudo começou quando o programador sueco Marcus Persson, também conhecido por “Notch”, começou no seu tempo livre a desenvolver Minecraft, que era um clone do jogo Infiniminer — aliás, você sabia disso? Que Minecraft é um clone de outro game que não chegou a fazer sucesso?

Em 2009, ele lançou a versão de acesso antecipado de Minecraft e, nos meses seguintes, dezenas de recursos foram adicionados. Em 2010, Notch fundou a empresa Mojang e contratou um equipe enquanto continuava a fazer upgrades no jogo. Depois, em 2014, a companhia e a propriedade intelectual foram compradas pela Microsoft — que expandiu Minecraft e mantém ele vivo até hoje.

Notch virou "persona non grata" na internet por fazer declarações machistas, homofóbicas e potencialmente racistas ao ponto de a Microsoft tirar o nome dele do menu do jogo em 2019… E os fãs decidirem que o jogo foi feito, na verdade, pela estrela digital japonesa Hatsune Miku.

Stardew Valley | Eric "ConcernedApe" Barone (2016)

Stardew Valley é um simulador de fazendinha em que você faz várias atividades rurais, cozinha, pesca, cria ferramentas e coleta recursos numa pegada mais RPG que conta também com combate.

O jogo foi criado pelo estadunidense Eric Barone, que teve a ideia de trabalhar em um jogo que continuaria o legado dos bons Harvest Moon — já que pra ele os Harvest Moon ficaram ruins depois do quinto. Mas aí surgiram outras inspirações como Animal Crossing, Terraria e Minecraft e o projeto ficou ainda mais ambicioso. Tanto que Stardew Valley foi anunciado em 2012, mas só foi sair quatro anos depois.

Barone disse, no início de 2020, que até ali o game havia vendido 10 milhões de cópias, fazendo dele um dos indies de maior sucesso comercial na história. O jogo ainda ganhou, no final do ano passado, uma atualização gigante trazendo mais lugares, novos eventos, minigames, missões e muito mais.

Bright Memory | Xiancheng Zeng (2019)

Para fechar, temos um jogo que, mesmo tendo sido feito por uma única pessoa, tem cara de AAA. Bright Memory é um FPS inspirado em Call of Duty que tem um visual bem impressionante, mas que tem também uma jogabilidade e uma história que não ficam muito atrás.

O projeto é do chinês Xiancheng Zeng, que estudou animação 2D e 3D quando concluiu o colégio, chegou a trabalhar em um estúdio de games e resolveu desenvolver sozinho seu próprio jogo mesmo sem saber programar. Pra isso, ele usou um recurso chamado "Blueprint", no motor gráfico Unreal, que cria alguns atalhos e assim ele conseguiu automatizar boa parte do processo.

Bright Memory vendeu 200 mil cópias em sua primeira semana de acesso antecipado, o que foi muito mais do que seu desenvolvedor esperava. Depois de cinco anos em produção, o lançamento da versão 1.0 aconteceu em março de 2020, mas Zeng não parou de trabalhar no jogo.

Uma versão mais completa e mais polida ainda vai ser lançada em 2021 para PC e para o Xbox, sem custos adicionais pra quem comprou a primeira versão.