Personagens diferentes. Poderes novos. Ambientação inédita. Cada jogo da série Life is Strange se passa em um contexto específico, mas todos compartilham alguns elementos fundamentais. True Colors, inclusive, talvez seja a combinação mais poderosa dos conceitos que tornaram a franquia aquilo que é hoje.

A Super Empatia

Alex descansando.

Prazer, Alex Chen.

No review que publiquei quando o jogo foi lançado, lembro-me de abrir o texto com as palavras "super empatia". O motivo é muito simples: esse é o super poder mais Life is Strange de todos os tempos. Afinal, empatia em relação aos personagens é o que define a série. Surpreendentemente, aliás, esse foi o primeiro aspecto de True Colors a ser pensado pela equipe.

"O super poder foi a primeira coisa em que pensamos, antes mesmo dos aliados, da história e tudo mais, porque nós amamos ouvir os fãs dizendo que, depois de Before the Storm, os sentimentos deles em relação a Chloe mudaram apenas por jogarem como ela", disse a Roteirista Sênior da Deck Nine Games Felice Kuan ao The Enemy. "Então, queríamos meio que pegar essa ideia e transformar no principal, trazendo uma personagem que também consegue entrar nas vidas das pessoas [pelas perspectivas delas]."

Alex ajudando Eleanor.

Uma das melhores partes do jogo.

Apesar de super poderes sempre despertarem o encanto das pessoas comuns, não é raro ver personagens com habilidades extraordinárias tendo de aprender a lidar com o aspecto negativo dessa condição ímpar. Inclusive, quando falei que eu queria muito ter esse poder de entrar na cabeça das pessoas e entender o que elas estão sentindo ou pensando, foi a atriz da Alex Chen, Erika Mori, quem trouxe uma outra perspectiva para o debate.

"Você precisaria ter um núcleo de aço para sempre ouvir a verdade sobre o que as pessoas pensam de você", afirmou. "Acho que eu ficaria totalmente fechada, porque não tenho um núcleo de aço. E, sabe, pensar na possibilidade de ter o poder da Alex e como isso me afetaria me faz respeitar Alex ainda mais por continuar se expondo, mesmo com esse poder empático."

Alex como barista.

Alex no antigo emprego de Gabe, irmão dela.

Katy Bentz, a voz de Steph Gingrich, também se mostrou relutante em relação à ideia de ter esse super poder, que levaria à honestidade irrestrita de todos os que estão ao nosso redor.

"Como jogador, você é colocado nesse papel em que, bom, será que estou me metendo demais com a emoção de outras pessoas? Eles dão muitas oportunidades para você decidir se chegou no limite ou não. No final, sabe, você consegue ver as pessoas se colocando do seu lado porque você ajudou ou se manteve afastado das emoções pessoais delas", acrescentou Bentz.

Personagens humanos

Alex fazendo Air Guitar.

Aquele Air Guitar que geral já fez.

Discussões que nos colocam no lugar dos personagens principais são fundamentais para que Life is Strange passe aquela sensação maravilhosa de identificação, algo fundamental em qualquer história tão focada nos componentes humanos da narrativa. Nas palavras de Felice Kuan, tratar os personagens como seres humanos é exatamente o que faz de Life is Strange a franquia que conhecemos.

"A ideia de tratar cada personagem como um ser humano é bem, bem diferente de simplesmente fazer com que eles sejam simpáticos. Acho, particularmente, que explorar as emoções deles dá a você uma chance única de enxergar como se conhecesse todos os lados de alguém", disse.

Alex tocando violão.

Ela sabe tocar de verdade também.

Histórias marcantes se mostraram fundamentais para a indústria nas últimas duas décadas, especificamente. Se jogos, um dia, foram sobre quem conseguia fazer mais pontos em menos tempo, hoje, o valor de muitos títulos está em quanto cada jogador se identifica com os personagens, com as situações vividas por eles e com as discussões levantadas durante a obra.

Foi lá no primeiro Life is Strange, como lembrou Katy Bentz, que esses valores foram estabelecidos, mas é evidente que a franquia se desenvolveu bastante desde então. De acordo com ela, a equipe de roteiro é composta por autênticos fãs do primeiro Life is Strange. Portanto, as histórias contadas continuam em boas mãos.

Erika Mori adicionou que "com Life is Strange 2, a Dontnod estabeleceu uma barra realmente alta. Conforme a série evolui, assim como Katy disse, aquela experiência da humanidade precisa ser explorada de maneiras diferentes, e há tanto material por aí."

Alex Chen preocupada.

Será que Alex jogaria Life is Strange?

Jogos com escolhas tendem a fazer com que alguns jogadores se perguntem até que ponto estão tomando decisões que o personagem controlado apoiaria. Esse dilema se faz presente tanto na vida de quem apenas joga quanto na de quem trabalhou no próprio jogo, acredite se quiser.

"Eu não sabia o que esperar. Então, ouvir as pessoas falarem com suas comunidades [ela assistiu às lives de Katy Bentz] sobre como, bem, 'Alex não faria isso' ou 'Alex é esse tipo de pessoa' e realmente ouvir e ver as pessoas entrarem no lugar dela foi incrível", disse Erika Mori. Bentz adicionou: "no final da minha primeira jogatina, quando todos me defenderam, era como se eu tivesse acertado. Então, eu recomecei, sabe, joguei uma segunda vez com diferentes escolhas em que eu basicamente não tinha ninguém do meu lado [no final]."

A Alex que não pudemos conhecer

Alex refletindo.

Momentos de reflexão típicos de LiS.

Como qualquer outro jogo, Life is Strange: True Colors passou por mudanças consideráveis entre o início do desenvolvimento e a versão lançada para os jogadores. Originalmente, por exemplo, Alex Chen seria uma personagem muito mais pessimista, algo que passa longe de ser o caso quando a conhecemos.

"No começo, [Alex] era uma pessoa bem mais frágil. Sabe? Bem mais desgastada pela vida", disse Felice Kuan. "Não acho que seja fácil deduzir o fato de que ela é uma pessoa com as próprias paredes e um tanto fechada. Ao mesmo tempo, ela é tão atraente, e acho que tem muito a ver, especificamente, com o que Erica trouxe para a expressão dela, sabe? O tom de voz, e o que ela faz com o rosto, por exemplo. Então, ambas as personagens [Alex e Steph] mudaram muito ao longo do desenvolvimento do jogo."

Steph na loja de discos.

Steph na loja de discos.

"Me lembro de chegar a pensar que Steph ia ter apenas uma pequena participação especial. Eis que eles continuaram me chamando de volta. Tipo, claro, vamos lá. E, um dia, eles disseram, tipo, 'então, achamos que Steph vai ser uma opção romântica.' E eu disse 'legal, vamos fazer isso', sabe? Então, definitivamente, se desenvolveu ao longo do tempo e se tornou algo incrível."

"Também foi legal ver como alguns personagens com os quais começamos não deram certo ou como os outros personagens realmente evoluíram", comentou Mori. "Da minha perspectiva, pelo menos, Gabe foi quem permaneceu mais próximo de como era inicialmente; da maneira como ele foi explicado para mim originalmente. Acho que muito disso se deve ao fato de que Han [Soto, voz de Gabe] é o Gabe. Ele é aquele tipo de figura de irmão. Aquele brincalhão. A pessoa que testa os limites das coisas. E isso foi tão legal de ver."

Alex e Gabe juntos.

Gabe abraçando Alex.

É difícil não querer saber mais a respeito dos personagens que não conhecemos ou da versão de Alex que havia sido imaginada no início. De qualquer forma, o jogo entregue aos fãs em 2021 foi absolutamente incrível — e Alex permanece como minha protagonista favorita da franquia. Se você quiser conhecê-la, jogue Life is Strange: True Colors, que está disponível para PS5, Xbox Series, PS4, Xbox One, Nintendo Switch e PC.