No dia 4 de maio celebramos o Star Wars Day, dia em que a comunidade de fãs escolheu para lembrar e homenagear o universo que começou com a ópera espacial de George Lucas, mas que logo se expandiu de tal forma que extrapolou praticamente todas as expectativas, sendo elevada a uma das obras de fantasia mais cultuadas no mundo.

O universo dos jogos de Star Wars, desde os arcades da década de 80 e passando por praticamente todas as plataformas de jogos já feitas, sempre tiveram como principal apelo fazer com que os fãs, de alguma forma, se sentissem dentro daquele universo fantástico. 

Divulgação / Steam

Ainda assim, em meio a mais de uma centena de jogos, se somarmos todos os títulos, alguns em especial guardam um lugar de destaque tanto na história da franquia quanto na memória dos fãs, e é exatamente este o caso de Star Wars: Knights of The Old Republic.

Por isso, para celebrar este Star Wars Day, nada mais justo que celebrar também o legado de KotOR e seu impacto na indústria de jogos como um todo.

Lançado em 2003, Knights of the Old Republic foi desenvolvido pela Bioware, que na época encontrava-se no auge de seu prestígio após o sucesso e impacto de seus jogos anteriores, Baldur’s Gate e Baldur’s Gate 2 - e, não à toa, acabaram criando uma das narrativas mais memoráveis da franquia até os dias de hoje.

Reprodução / Dark Horse Comics

Passando-se milhares de anos antes dos eventos dos filmes, KoTOR já puxa muito do próprio Universo Expandido original da série (hoje em dia conhecido como Legends após a compra da Lucasfilm pela Disney), tendo como base principalmente na série de HQs Tales of the Jedi - mas ainda conseguindo apresentar esta diferente era da Galáxia de uma maneira simples e engajante.

Jogos anteriores a KotOR já haviam colocado o jogador no papel de um protagonista carismático e uma narrativa envolvente, como Kyle Katarn em Dark Forces 2: Jedi Knight, mas sempre de forma linear, com pouquíssimas (ou nenhuma) possibilidade de escolha entre os caminhos durante o percurso.  

Reprodução / Star Wars - Dark Forces 2: Jedi Knight

Knights of the Old Republic fez exatamente isto ao dar aos jogadores o controle de um personagem “tabula rasa”, em branco, com toda uma história a ser escrita em que as decisões tomadas ao longo da jornada, tanto em diálogos quanto no seu desenvolvimento, afetam diretamente a jogabilidade e o desenrolar da narrativa e com diálogos 100% narrados, algo que era praticamente inexistente na época.

Essa liberdade de escolha influenciando o final do jogo foi um dos primeiros marcos importantes de KotOR nos RPGs ocidentais, junto com a possibilidade de romances entre o protagonista e outros membros do grupo.

(É claro, e sem dar spoilers, quem jogou o jogo sabe que certas coisas sobre seu protagonista sejam pré-definidas)

Ainda que o jogo tivesse apenas três finais, dar ao jogador o controle de como chegar a cada um deles foi um elemento que virou o padrão para todos os RPGs da Bioware a partir dali, sendo cada vez mais explorado e evoluído em títulos futuros da empresa como Dragon Age e Mass Effect - o último sendo quase um sucessor espiritual de KoTOR, tendo o mesmo diretor, Casey Hudson, e o roteirista-chefe Drew Karpyshyn.

A escolha de um período milhares de anos antes dos primeiros filmes deu aos roteiristas a mesma liberdade poética de George Lucas ao introduzir sua saga com a icônica frase “Há muito tempo atrás numa galáxia muito muito distante…”, sendo possível desenvolver a narrativa para absolutamente qualquer desfecho sem que isso causasse estranheza ou rejeição, possibilitando que os personagens criados ali fossem abraçados por seus feitos, e não por suas ligações com o que já havia sido estabelecido. 

Divulgação / EA

Dessa liberdade nasceram Darth Revan e Bastila Shan, ponto central da narrativa do primeiro KotOR, apenas citados na sequência que, apesar de ser um jogo mais competente nos elementos estabelecidos em KotOR, não conseguiu ter muitos personagens memoráveis. 

A história de Knights of the Old Republic 2: The Sith Lords, de 2005, é de maneira geral mais envolvente e melhor desenvolvida, e apesar da maioria dos personagens passarem batido o jogo evoluiu muito as técnicas de narrativa e o efeito das escolhas, principalmente a liberdade de criação e desenvolvimento das classes do jogo, sendo um RPG muito mais competente que o anterior e extrapolando para influenciar diretamente a mitologia em torno desses diversos tipos de classes, mas principalmente dos Jedi. 

A associação das cores de cristais Kyber à diferentes tipos de Jedi, esboçada no primeiro jogo, tomou proporções ainda maiores, bem como o desenvolvimento das classes não-Jedi, e esses elementos de liberdade criativa  foram extremamente bem recebidos pelos jogadores, deixando a comunidade ansiosa por uma sequência. 

E essa continuação de fato chegou, mas não da maneira que todos esperavam.

Crédito: Divulgação / Sar Wars The Old Republic

Em paralelo ao sucesso de Knights of the Old Republic, World of Warcraft estava completando alguns meses e desbancando o MMORPG Star Wars Galaxies da Sony Online Entertainment, que apesar de extremamente divertido era também muito burocrático em sua progressão de classes por ser contextual demais, enquanto WoW trazia um sistema mais direto e intuitivo, como a de KotOR. 

Provavelmente por conta dos números decrescentes de de SW: Galaxies, o projeto Proteus, MMO para consoles que supostamente seria Knights of the Old Republic 3 acabou sendo cancelado e alguns de seus assets e artes conceituais foram utilizados para um outro projeto.

O anúncio da sequência de KotOR veio em 2008 com o promissor Star Wars: The Old Republic. A proposta era juntar toda a experiência de narrativa, diálogos narrados, escolhas que afetam a progressão da história, criação de personagens KotOR2, aos ensinamentos de World of Warcraft, que já despontava como maior MMORPG, e Star Wars: Galaxies que lutava para manter uma base de usuários ativa. 

Por não se tratar de uma sequência direta, mas de uma nova história dentro de um período próximo de tempo, aproximadamente 300 anos após The Sith Lords, não havia a necessidade de reaproveitar diretamente personagens - mas o legado estava estabelecido, com nomes conhecidos como Satelle Shan, descendente da Bastila do primeiro jogo. 

Divulgação / Star Wars: The Old Republic

Outra das principais promessas do MMORPG era o combate mais dinâmico que dos jogos principais da série, pouco dinâmico e focado em ações pré-determinadas podendo pausar o combate entre elas. Os primeiros vídeos mostravam animações de ataques e bloqueio, similares às que a Ubisoft entregou anos depois em For Honor, mas que foram deixadas de lado por serem complexas demais para o que os motores gráficos da época conseguiam entregar.

Apesar disso, o resultado final foi extremamente satisfatório, muito por ser praticamente o mesmo formato utilizado em World of Warcraft com o qual as pessoas já estavam acostumadas.

Star Wars: The Old Republic foi lançado em dezembro de 2011, e extremamente bem recebido pela crítica e público no primeiro momento. A já então estabelecida tradição de diálogos 100% narrados foi e até hoje permanece como um dos pontos mais distintos e impecáveis do jogo, mas elevou muito o custo e tempo de produção. Este elemento, associado a problemas principalmente com o motor gráfico e dificuldade em liberar conteúdo rapidamente, infelizmente levaram o jogo a ter uma queda de popularidade que forçou a Bioware a mudar a estratégia de negócios, passando de assinatura para free-to-play com algumas limitações, tornando a assinatura opcional e monetizando internamente com itens 100% estéticos. 

The Old Republic ainda é um excelente MMO, que não deixa em nada a desejar no quesito narrativo se comparado a seus antecessores. Até hoje o jogo recebe atualizações e expansões frequentes, entregando sempre mais aventuras, tramas e personagens extremamente marcantes. 

Reprodução / SW: Galaxy of Heroes

Uma dessas expansões,inclusive, trouxe de volta Revan, que esteve preservado em uma espécie de estado criogênico por 300 anos. Por ser uma das figuras mais conhecidas dessa era de Star Wars, ele foi importante e impactante o suficiente até ter direito a uma participação em voz em um momento icônico de Star Wars: A Ascensão Skywalker, último filme principal da série (por enquanto). 

Ainda que a aquisição da franquia de George Lucas pela Disney tenha removido Knights of the Old Republic da cronologia oficial, a relevância do jogo é tamanha que a maioria dos elementos que o jogo estabeleceu no universo continuam sendo utilizados em praticamente todas as produções atuais, de séries animadas aos novos jogos, e muito provavelmente, sem KotOR e o amor que ele inspira na comunidade de Star Wars, a história desse universo como um todo seria bem diferente.

Crédito: Divulgação / Star Wars

E agora, se considerarmos os rumores de que um remake do primeiro jogo está em produção, existe a possibilidade de apresentar a toda uma nova geração uma das maiores obras primas da Galáxia Muito Muito Distante, além de uma das fases mais populares entre os fãs entre para o cânone atual.