Nobuo Uematsu dispensa (muitas) apresentações. O compositor da série Final Fantasy possui um legado e um respeito proporcionalmente equivalentes ao seu carisma e seu talento.

Japonês, nascido em 21 de março de 1959, é considerado uma espécie de “Beethoven” do gênero de músicas de videogame, afinal, aprendeu a tocar piano de maneira autodidata, dominando o instrumento aos 12 anos de idade; e tendo como maior influência Elton John e, mais adiante, bandas de rock progressivo.

Estudou na Universidade de Kanagawa onde conheceu a mulher com quem ainda hoje está casado, Reiko. E, apesar de ter sonhado em se tornar um lutador profissional, Uematsu se graduou em Inglês.

Depois disso, ainda tocou teclado em algumas bandas amadoras e criou algumas músicas para comerciais de televisão. Na época, ele também trabalhava em uma loja de aluguel de discos em Tóquio.

Então, em 1985, foi abordado por um funcionário da Square, que perguntou se Uematsu estaria interessado em compor músicas para videogames. Ele aceitou o convite, mas, se manteve cético quanto ao novo emprego… Tanto, que até mesmo permaneceu na loja por um tempo, passando a ter dois trabalhos paralelos.

Uematsu trabalha na indústria de videogames há pelo menos 35 anos
Uematsu trabalha na indústria de videogames há pelo menos 35 anos/Polygon/Divulgação

Na Square, Uematsu ainda trabalhou em alguns títulos menos conhecidos até, de fato, começar a compor as músicas da maior franquia de RPG da produtora, isto é, Final  Fantasy. O primeiro jogo da série foi um tremendo sucesso, o que resultou em inúmeras continuações e spin-offs.

Trilhando uma carreira brilhante

Ao lado do diretor Hironobu Sakaguchi e do artista Yoshitaka Amano, Uematsu completava o que muitos conheciam como a “trindade de ouro” da Square naquela época.

Ele também colaborou em 1994 com Yasunori Mitsuda na trilha de Chrono Trigger, além de ter ajudo nos rearranjos de Romancing SaGa. E dentre outros trabalhos menos conhecidos do compositor na década de 1990, está ainda Front Mission: Gun Hazard.

Uematsu também abocanhou prêmios e se manteve em topos de paradas musicais com suas composições. Em 1999, por exemplo, ganhou o Song of the Year (Western Music) do 14º Annual Japan Gold Disc Awards, marcando a primeira vez que uma composição de videogame levou tal prêmio.

Da esquerda para a direita: Nakano, Uematsu e Hamauzu
Da esquerda para a direita: Nakano, Uematsu e Hamauzu/Last.FM/Divulgação

No início dos anos 2000, porém, Uematsu começou a se sentir insatisfeito e sem inspiração. Dado isso; ele pediu ajuda aos compositores Masashi Hamauzu e Junya Nakano para, assim, criar a trilha sonora de seu último grande trabalho autoral dentro da Square (que passava a se chamar Square Enix): Final Fantasy X, em 2001.

O game marca o início de uma grande mudança dentro da Square Enix. Além de ser o primeiro game da série para PlayStation 2, completamente em 3D e com direito a dublagem; FFX também foi o primeiro jogo da franquia que Uematsu não compôs sozinho.

Desde o primeiro Final Fantasy, a composição das trilhas havia sido feita apenas por ele. A partir do décimo jogo numerado, todavia, Uematsu passou a colaborar com outros compositores da saga com mais frequência.

Explorando novos quadrados

Foi em 2004, porém, que Uematsu deixou a Square Enix. O principal motivo foi a decisão da empresa de mudar a sede principal de Meguro para Shinjuku. Desgostoso com a mudança, o compositor resolveu sair, fundando sua própria empresa, a Smile Please. Dois anos depois, também abriu sua gravadora e produtora musical, Dog Ear Records.

Ele também passou a trabalhar como freelancer na indústria de videogames, compondo até mesmo músicas para a Mistwalker, estúdio de desenvolvimento de seu antigo companheiro, Sakaguchi. Foi nessa época que Uematsu compôs as trilhas de Blue Dragon, Lost Odyssey e The Last Story, dentre outros.

Ainda como freelancer, Uematsu criou o tema principal de Super Smash Bros. Brawl, além de ter voltado a colaborar com a Square Enix, ocasionalmente.

Dos palcos para o mundo

Paralelo a tudo isso, pouco antes de sua saída da Square, mais especificamente em 2002, ele foi convidado pelos colegas Kenichiro Fukui e Tsuyoshi Sekito, a ingressar na banda The Black Mages, como tecladistas. A ideia era formar uma banda de rock que tocaria e reimaginaria as composições do Uematsu.

Embora ele tenha recusado a princípio, acabou cedendo após um show ao vivo e, junto dos Black Mages, Uematsu lançou três álbuns de estúdio, além de ter se apresentado em diversos lugares para promover os discos da banda.

The Black Mages, da esquerda para a direita: Arata Hanyuda, Fukui, Uematsu, Sekito, Keiji Kawamori e Michio Okamiya
The Black Mages, da esquerda para a direita: Arata Hanyuda, Fukui, Uematsu, Sekito, Keiji Kawamori e Michio Okamiya/Divulgação

Nos anos 2000, Uematsu também se apresentou em inúmeros concertos focados em Final Fantasy e em eventos de orquestra de músicas de games. Diversos de seus álbuns para a franquia de RPG da Square também foram arranjados e lançados em diferentes instrumentos. 

Após The Black Mages se separar em 2010, Uematsu fundou o The Earthbound Papas, mantendo a proposta de rearranjar suas composições para Final Fantasy, mas também, expandindo o repertório para trabalhos originais e produções de terceiros.

Principais influências

Uematsu afirma que as influências em suas composições são diversificadas, passando por música clássica e new-age até heavy metal e música eletrônica. Uma das maiores provas disso é uma de suas músicas mais conhecidas, One Winged Angel, de Final Fantasy VII.

Ela foi inspirada, a princípio, em Purple Haze, música de Jimi Hendrix. Todavia, Uematsu também tentou experimentar gêneros diferentes: “‘Como será que ficaria se tivesse músicas de rock do final dos anos 60 e início dos anos 70 se misturassem com uma orquestra completa?’, essa era uma das ideias”, conta. Ele também afirma que se inspirou no balé orquestrado Rite of Spring de Ígor Stravinski.

Para Final Fantasy IX, ele compôs cerca de 160 músicas e, destas, 140 foram colocadas no game. Ele conta em entrevista que, apesar de o jogo ter uma ambientação mais fantasiosa e medieval, se ele tivesse focado apenas nestes dois aspectos, a trilha sonora seria “desequilibrada” e até mesmo “um pouco chata”. Talvez por isso as músicas combinem diferentes instrumentos e estilos, como é o caso de Vamo Alla Flamenco.

Uematsu também admite que, apesar dos pesares, a trilha sonora de FFIX é favorita dele, além de ser o trabalho de composição que ele mais se orgulha.

Vale ainda citar que a esposa de Uematsu, Reiko, também tem um papel importante em suas composições. Ele conta que sempre que termina uma música, mostra à sua mulher primeiro. 

“Ela opinou fortemente em todas as últimas músicas, mas ela não se importou muito com ‘Suteki Da Ne’ [de FFX]”, revela Uematsu. “Fiquei um pouco desencorajado na época, mas quando a música foi lançada, chegou ao Top 10 das paradas musicais japonesas, então fiquei aliviado”.

As melodias da vida

No momento, a carreira de Uematsu está pausada
No momento, a carreira de Uematsu está pausada/Divulgação

Em setembro de 2018, Uematsu anunciou que iria pausar sua carreira para cuidar da própria saúde. Quando fez o anúncio em seu blog, o compositor não entrou em detalhes sobre a doença que o afligia, mas afirmou que estava vivendo uma rotina agitada por conta dos shows e trabalhos de composição.

Abaixo, você confere uma playlist especial com os trabalhos de Uematsu encontrados no Spotify. Algumas de suas composições ainda não estão disponíveis na plataforma, então a curadoria foca apenas nas principais obras de sua carreira.