Pode parecer só clichê ou brincadeira, mas dizer que Chrono Trigger é uma obra atemporal é a melhor maneira de definir o jogo. E óbvio que não digo isso apenas pelo fato de a aventura ter viagem no tempo e explorar diversas eras diferentes, mas sim pois mesmo 25 anos depois do lançamento ela continua atual, divertida e envolvente.

Chrono Trigger saiu em 11 de março de 1995 para o Super Famicom, no Japão, e ao longo dos anos ganhou diversas adaptações (algumas melhores, outras piores). Desenvolvido pela então Squaresoft, é fruto de uma união improvável que ganhou o título de ‘Dream Team’, o Time dos Sonhos: as principais mentes de Dragon Quest e Final Fantasy se uniram para criar um game original.

O resultado impressiona pela originalidade e competência em pinçar os melhores aspectos de cada uma dessas séries lendárias e combinar de forma coesa. De um lado temos toda a desenvoltura técnica de Final Fantasy, representada por Hironobu Sakaguchi, em especial no sistema de combate, que refinou o sistema de barras ATB e apresentou duelos que acontecem no próprio cenário da ação e um engenhoso sistemas de habilidades especiais em equipe.

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Por sua vez, do time de Dragon Quest e o produtor Yuji Horii veio a criação de um mundo cativante e coeso, do início ao fim, através do tempo e todas as eras - e até além disso. Naturalmente, muito disso vem também do icônico design de personagens, monstros e máquinas de Akira Toriyama, já na época aclamado como o lendário criador de Dragon Ball.

Em meio a tantos talentos consagrados, brilhou também a estrela de um novato com vontade de mostrar seu talento. Após trabalhar como engenheiro de som em títulos da Squaresoft, Yasunori Mitsuda pediu a Sakaguchi a chance de compor a trilha completa de um jogo e recebeu a missão de cuidar de Chrono Trigger.

O resultado é um trabalho impecável, sensível e marcante, que embalou perfeitamente as aventuras de Crono e os outros através do relógio, mas cobrou um preço caro: Mitsuda mergulhou tão fundo no projeto que teve úlceras no estômago e precisou ser hospitalizado. Para terminar o trabalho dele veio ninguém menos que o também lendário Nobuo Uematsu, o compositor dos primeiros Final Fantasy.

Em toques inesquecíveis de originalidade, o Dream Team ajudou também a apresentar e consolidar o conceito de New Game+, quando você terminar o jogo e pode recomeçar a jornada com os equipamentos e habilidades já obtidos. Em Chrono Trigger não era só isso: o New Game+ era o caminho para obter os muitos finais diferentes planejados pela equipe.

Ao reiniciar a aventura era possível enfrentar o chefão final a qualquer momento, o que rendia resultados diferentes dependendo do momento da trama em que isso era feito. De fato, isso foi expandido anos depois na versão para Nintendo DS (e adaptações subsequentes) com a adição mais um final, traçando uma conexão mais clara (ou não, vai ao gosto do freguês) com a subestimada continuação Chrono Cross, misto de sequência direta e espiritual, de tão inovadora e original também, que saiu em 1999 para o primeiro PlayStation.

Pena que o legado da série Chrono fique restrito a adaptações do game original, lembranças de um clássico perdido do PS1 e Radical Dreamers, um título obscuro de Super Famicom que ficou restrito ao Japão - e inspirou Cross. Durante algum tempo a Square foi dona da marca Chrono Break, acendendo expectativas para um novo episódio da franquia, mas não passou de fogo de palha e o sonho morreu.

Oficialmente, nem Square Enix e nem os envolvidos nos títulos anteriores comentam detalhes ou eventuais dificuldades para haver um novo jogo, restringindo-se a dizer apenas que seria complicado.

Um fragmento desse sonho chegou a se cristalizar em um trailer fenomenal feito por Simon Stafsnes Andersen, criador do aclamado Owlboy. Além disso, alguns dos conceitos originais planejados para Chrono Break foram reaproveitados no game mobile Final Fantasy Dimensions II que, verdade seja dita, vale apenas pela curiosidade e não tanto pela qualidade geral do game, infelizmente.

Seja como for, sonhar é de graça e nada é impossível - que o diga a série Mana, que de franquia obscura da Square passou a receber mais carinho da produtora nos últimos anos, inclusive no ocidente, e neste ano vai ter Trials of Mana, um promissor remake 3D de um game que durante décadas foi oficialmente exclusivo do Super Famicom, no Japão.

Quem sabe o aniversário de 25 anos de Chrono Trigger não mexa com as emoções dos diretores de alto escalão da Square Enix e resulte no retorno da série em grande estilo? Diga nos comentários como você gostaria que fosse um novo episódio de Chrono!