Seria injusto dizer que ainda existe uma "maldição" em relação às adaptações de jogos após assistir às quatro temporadas de Castlevania, série animada da Netflix.

Apesar dos esforços de Paul W.S. Anderon (Monster Hunter, Resident Evil) e, mais recentemente, Simon McQuoid (Mortal Kombat) para destruir franquias famosas dos games no cinema, o seriado protagonizado por Trevor Belmont, Sypha Belnades e Alucard foi incrível do começo ao fim. Atenção: spoilers a seguir.

Trevor, Alucard e Sypha se unem, finalmente.
Netflix

Embora eu seja um grande fã do primeiro filme de Mortal Kombat, é óbvio que a adaptação original, de 1995, exige muita boa vontade dos espectadores para que seja apreciada, assim como o filme original de Silent Hill (que até tem bons momentos, mas nunca chegou aos pés dos primeiros jogos).

Em Castlevania, não importa se você é fã dos jogos, apenas ouviu falar ou simplesmente conheceu a marca enquanto navegava pela Netflix: o charme do seriado se justifica por si só; não é necessário relevar falhas gritantes e uma história preguiçosa — basta embarcar na jornada e se divertir.

A Morte, inimigo tradicional em Castlevania, está na série.
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Praticamente todos os jogos de Castlevania trazem uma narrativa relativamente simples, em que não há tanto tempo para o desenvolvimento de personagens e a criação de núcleos complexos, nos quais todos possuem as próprias motivações e objetivos. Ainda assim, há muito que deve ser respeitado dentro da mitologia dos jogos — e, por incrível que pareça, a série fez um ótimo trabalho nesse sentido, além de expandir determinados conceitos. 

Em vez de se intimidar com essa base, que acaba permitindo muita liberdade ao criar uma série inspirada na franquia, bastou que a equipe por trás do seriado encontrasse um equilíbrio delicado entre algo original e aquilo que fãs tradicionais esperariam no formato de série. Sabemos muito bem como essa dosagem é difícil de acertar, mas tudo acabou funcionando como deveria.

Lenore, a diplomata que servia Carmilla.
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A construção de Trevor Belmont como o herdeiro de uma grande família, que recusou seguir os passos dos próprios ancestrais e se reencontrou após conhecer as pessoas certas. O incrível duelo entre Alucard e o próprio pai, Drácula, que é surpreendentemente melancólico e agrava ainda mais a já depressiva personalidade do meio vampiro. Sypha Belnades deixando para trás as tradições do povo ao qual pertence para conhecer e ajudar as pessoas do mundo de outra maneira.

Não faltaram motivos para amar ou detestar os personagens com todo o coração. Carmilla se mostrou uma vilã digna de ocupar o papel de antagonista principal da animação, sem se tornar uma caricatura megalomaníaca (apesar dos planos ousados) e sempre mantendo algum nível de respeito pelas demais integrantes do conselho responsável por Styria (composto também por Lenore e pelo carismático casal formado por Striga e Morana).

Isaac no melhor diálogo em toda a série.
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Isaac amadureceu como nenhum outro personagem e realizou tanto a vingança que tanto planejou quanto descobriu que seres vivos devem lutar pela própria independência e dignidade, sem que se submetam aos anseios e planos alheios.

Mais do que os mistérios construídos lentamente ao longo da trama ou o gradual (e brilhante) entrelaçamento entre todos os núcleos, são os nomes dos quais não vamos nos esquecer que tornam Castlevania tão especial.

É verdade que Hector, especificamente, talvez não tenha sido tão bem representado quanto poderia em comparação com os jogos, mas a relação estranha e "amigável" dele com Lenore com certeza foi o bastante para que muitos fãs sentissem o coração ficar mais aquecido quando eles zombavam um do outro, apesar de compartilharem algum afeto.

Isaac e Carmilla se enfrentando.
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Obviamente, o grande destaque fica mesmo para a química que existe entre os membros do trio principal. Ainda que tenham passado muito tempo separados (especificamente, toda a terceira temporada), eles permaneceram perfeitamente complementares na última etapa da série animada.Principalmente, nas cenas de ação — que se mostraram um verdadeiro fenômeno, dignas dos melhores animes de ação da história. 

A última luta de Isaac e Carmilla, especificamente, é simplesmente incrível (e minha favorita, com certeza), mas todas as outras são excelentes. Mais ainda quando incluem Alucard abusando da agilidade sobrehumana, Sypha destruindo tudo com poderes mágicos insanos e Trevor girando aquela corrente clássica dos jogos das maneiras mais criativas possíveis, é claro.

A Netflix prometeu que o universo de Castlevania ainda será expandido com adições que podem ou não ter relação com a história apresentada ao longo dessas quatro temporadas. O maior desafio, agora, com certeza é estar à altura das expectativas dos fãs. Felizmente, não temos motivo para temer.