Estava ansiosíssimo para Rules, o segundo episódio de Life is Strange 2. Seguindo perfeitamente a cartilha da Lei de Murphy, entretanto, o jogo foi lançado no dia 24 de janeiro - a mesma data em que Kingdom Hearts 3 havia sido disponibilizado para o The Enemy. Quis o destino que eu fosse o encarregado pelo Review dos dois jogos, por isso, tanta demora para essa crítica sair.

Rules começa exatamente na "cena pós-créditos" de Roads, com Daniel treinando para melhorar suas habilidades de telecinese. Junto de seu irmão Sean e da cadelinha Mushroom, ele está morando em uma casa abandonada, com poucos recursos e nenhuma variedade no cardápio de refeições - os irmãos se deliciam todos os dias com ravioli enlatado.

Mantendo a tônica do primeiro jogo, o ato inicial foca bastante na relação entre os dois, que estão mais próximos do que nunca: jogos com dados, uma lousa para acompanhar o treinamento de Daniel, tudo isso serve para fortalecer o laço entre os garotos.

Entretanto, conforme a história se desenvolve, esse laço parece se afastar cada vez mais, e Daniel passa a se tornar apenas um objeto da preocupação de Sean, que assume de vez o papel de maior foco da história. Desde que ambos decidem sair da casa abandonada, o caçula vira quase que "secundário": a função de Sean é controlar o poder do irmão, ditando quando ele pode ou não usá-lo.

Senti bastante falta de momentos mais contemplativos, onde era possível apenas aproveitar a trilha sonora e a bela paisagem da floresta ao lado de Daniel - essas cenas passavam a sensação de uma fraternidade fortíssima, inabalável frente às intempéries. Em Rules, esses trechos acontecem, em grande parte, somente com Sean, tirando um pouco da relevância do irmão mais novo.

Apesar desse defeito, a carga emocional de Rules não é nada leve. Do início ao fim, os protagonistas se encontram em algumas situações bastante inesperadas, que afetam tanto os personagens quanto o jogador. Mesmo assim, o game falha em unir todas essas emoções em um único sentimento - as cenas mais fortes parecem picos isolados em um enredo que não prende completamente o jogador.

Reprodução/Square Enix

O game possui um significado a mais para aqueles que já passaram por The Awesome Adventures of Captain Spirit. Como já havia sido revelado em um dos trailers, a história de Chris Eriksen iria se cruzar com a dos irmãos Sean e Daniel. O próprio jogo, inclusive, recomenda que você jogue Captain Spirit antes de começar Rules, afirmando que sua experiência será aprofundada.

De fato, conhecer melhor a família de Chris ajuda a entender o que se passa na vida do garoto, criando um laço mais forte entre ele e o jogador; além disso, as decisões tomadas em Captain Spirit podem afetar o desenrolar de Rules. Sem essa base, é possível entender tudo que se está passando, mas sem o mesmo impacto.

Apesar do apelo nostálgico e causar aquela impressão de que “tudo se encaixa”, a presença de Captain Spirit também ajuda a aumentar a distância entre os irmãos. Chris rapidamente se torna amigo do caçula, e, por isso, o caçula não está presente em uma das cenas mais emocionantes de Rules.

É excelente ver que o menino consegue se divertir com seu novo amigo, mesmo após a série de desventuras pela qual passou até aquele momento. Entretanto, o que me conquistou em Roads, o primeiro capítulo, foi justamente a força dos dois irmãos frente às dificuldades. Afastados e em uma situação bem mais estável, essa “mágica” se perde um pouco.

Não me interprete mal: desde que comecei a jogar Life is Strange 2, torço para que os protagonistas consigam viver em paz e resolver todos os seus problemas. Por outro lado, ficaria bastante decepcionado se isso acontecer a custo do maior charme do game, que é contar a bonita história de dois irmãos.

Reprodução/Square Enix

Quanto aos outros personagens que surgem, além dos já conhecidos de Captain Spirit, a mais intrigante é Cassidy, uma garota que aparece tocando violão enquanto os irmãos estão comprando uma árvore de Natal junto de Chris e seu pai Charles. Os avós maternos dos Diaz pouco acrescentam com sua personalidade clichê - sua função é apenas pincelar a rasa relação que os protagonistas tem com sua mãe, Karen.

Em Rules, a mãe ganha certo destaque, mesmo sem aparecer: o quarto dela é uma região proibida, e conversas sobre ela mostram que tanto Sean quanto sua avó não se sentem confortáveis ao falar sobre ela. Para os próximos episódios, esse é um caminho interessante a ser explorado, visto que Sean parece ter certa raiva de Karen, enquanto Daniel não sabe praticamente nada sobre ela, e parece estar curioso para conhecê-la.

Por fim, o segundo episódio consegue seguir os passos de seu antecessor em alguns aspectos: cenas emocionantes com uma trilha sonora inconfundível podem fazer o coração do jogador bater mais forte.  O ponto negativo é que apenas essas cenas agudas conseguem atingir o espectador; em um ângulo mais geral, o capítulo não atinge o mesmo nível de envolvimento que senti com Roads.

Nota do crítico