O ano de 2021 marca o 25º aniversário da franquia Tomb Raider, com o jogo original lançado em 25 de outubro de 1995.

Um quarto de século depois, a série continua firme e forte, tendo atingido um feito que poucos antes e depois conseguiram ao criar um ícone no mundo dos jogos (e além), a protagonista Lara Croft

Enquanto era anterior de jogos foi definida por mascotes ligados a consoles, como Mario da Nintendo e Sonic da SEGA, Tomb Raider liderou a nova era dos jogos 3D, fazendo de Lara a primeira protagonista feminina a alcançar a popularidade mainstream. 

Além disso, o sucesso dos jogos foi tanto que a franquia se tornou multimídia, com animações, histórias em quadrinhos, mercadorias e até mesmo filmes.

Mas, nestes 25 anos de história, muito mudou em relação à própria Lara Croft, e como vemos a personagem e seu papel no mundo dos games.

Nasce uma estrela

Em 1994, a Core Design era um pequeno estúdio com cerca de 25 pessoas que foram espremidas em uma casa vitoriana na Ashbourne Road, em Derby. Naquela época, eles se concentravam em fazer jogos 2D para o Sega Mega Drive 32X e o Atari Jaguar.

Isso até uma viagem para os Estados Unidos em que o fundador do estúdio, Jeremy Heath-Smith, pode ver um PlayStation, mostrado a ele por ninguém menos do que o “pai” do console, Ken Kutaragi. 

Foi daí que a ideia de Tomb Raider começou a ser explorada. “Eu voltei para casa e convoquei uma reunião com a empresa”, disse ele.

Durante essa reunião, Heath-Smith declarou o PlayStation como o futuro dos videogames, insistindo que era naquilo que eles deveriam trabalhar. Ao pedir ideias de jogos 3D que se encaixassem bem no console, um dos desenvolvedores, Toby Gard, apresentou sua ideia para um jogo em terceira pessoa, em que o jogador invadiria tumbas misteriosas nas profundezas das pirâmides. 

E foi desse conceito iniciou veio a história de uma das maiores franquias de videogames de todos os tempos.

Originalmente, Lara poderia ter sido Laura… ou até mesmo um homem. O jogo foi pensado para ter um protagonista masculino aventureiro, e a mudança para uma mulher foi feita por conta das semelhanças envolvendo Indiana Jones.

Lara Croft seria Laura Cruz, uma heroína latina, mas, depois de algumas opiniões da Core Design, seu nome foi mudado para Lara Croft, porque eles queriam um nome “fácil” de ser pronunciado pelos americanos.

Esse era o primeiro projeto em 3D que a equipe trabalhava, e por isso mesmo serviu como um grande passo para todos os desenvolvedores do estúdio, que deram o melhor de si para entregar um trabalho final digno para os consumidores.

Foi por meio do esforço de seu pessoal e várias idas e vindas e mudanças de conceito para levar o primeiro Tomb Raider às lojas em 1996

Mas para trazer Lara Croft ao mundo, a equipe teve que trabalhar incansavelmente para poder entregar o game para a Eidos. E, depois, tiveram um mês a menos no desenvolvimento para poder entregá-lo para o Saturn, da SEGA, antes do PC e PS1.

A Core Design e a SEGA sempre foram parceiras e seu relacionamento começou com o estúdio portando Action Fighter e Dynamite Dux para os consoles Amiga e Atari. Quando Tomb Raider começou a ser desenvolvido, ele foi mostrado à SEGA e ela gostou do que viu.

Portanto, eles se asseguraram com um acordo de exclusividade com a Eidos para que Tomb Raider fosse lançado primeiro no Saturn, para que, um mês depois, pudessem ser lançados para PC e PS1

Infelizmente o marketing da SEGA não deu conta da parceria e o acordo não elevou as vendas para nenhuma das companhias. E é onde o PS1 entra: com seu lançamento no console da Sony, o jogo se tornou um sucesso instantâneo e o padrão definitivo para jogos 3D.

Um verdadeiro sucesso

Ninguém sabia que Tomb Raider ia explodir do jeito que explodiu, embora o jogo tivesse sido uma sensação na E3 de 1996, depois de ser portado para rodar em uma nova placa gráfica NVidia.

Tomb Raider foi, definitivamente, um dos primeiros jogos a mergulhar no universo 3D e, por isso, foi visto como revolucionário na época. Seus gráficos - nunca antes vistos -, sua trilha sonora, jogabilidade inovadora e sua trama foram motivo de sucesso para o game.

Quando Tomb Raider: Atlantean Scion foi lançado em novembro de 1996, ele alcançou o topo da lista de mais vendidos com apenas um dia de vendas, e lá ficou pelos próximos três meses. Não só isso, o jogo foi responsável por aumentar as vendas do PlayStation nos meses que se seguiram.

Na ECTS (European Computer Trade Show), a Eidos contratou modelos para se vestirem como Lara Croft, uma das quais era a jovem Katie Price, que no futuro seria uma figura recorrente nos tabloides britânicos. A empresa pensou muito em como vender a protagonista do jogo e chegou a conclusão de que ‘sexo’ venderia bem. Versões provocativas de Lara Croft foram colocadas nas laterais de ônibus para o marketing.

E, olhando para trás, é fácil zombar do design hiper-sexualizado de Lara Croft. A Eidos pensou em vendê-la de uma forma tão importante quanto seu jogo, já que ela era um ponto de venda forte e único.

O marketing da Eidos explorou a cultura Britpop, Girl Power e revistas femininas dos anos 90 depois que o jogo explodiu no Natal de 1996. Tomb Raider passou a vender 7,5 milhões de cópias em pouquíssimo tempo.

A cintura fina, os peitos enormes… tudo isso atraía o público gamer adolescente da época. Mas a verdade é que ela também encontrou outro público, e um muito importante: o feminino.

Atrair um público com um componente significativo de mulheres, naquela época, não tinha precedentes para um jogo de videogame, e tudo isso porque a personagem era mais do que apenas seios grandes e cintura fina.

Lara Croft era, desde sua concepção, forte e inteligente. Ela não precisava de um homem para salvá-la. Seu criador, Toby Gard, mencionou em uma entrevista que pretendia criá-la para que não se preocupasse com rapazes de forma alguma. “Muito pelo contrário, achei que interessante sobre ela era que ela era esse tipo de pessoa inatingível, austera e perigosa”, concluiu.

Problemas no caminho

Pouco depois do lançamento de Tomb Raider, com o segundo título já planejado, Gard - o responsável pela ideia original e a concepção de Lara Croft - disse a Jeremy Heath-Smith que ele e Paul Douglas estavam deixando a Core Design.

Vale notar que algumas pessoas que trabalhavam com Gard no estúdio chegaram a dizer que ele saiu porque estava chateado com o marketing de Tomb Raider e a representação de Lara Croft como um símbolo sexual. Em uma entrevista de 2004, o desenvolvedor expressou sua frustração em como seu bebê havia sido tratado.

“Tive problemas quando eles começaram a colocar roupas decotadas nela e, às vezes, tirá-las completamente. É muito estranho quando você vê um personagem seu fazendo essas coisas. Você não consegue acreditar. Passei a vida desenhando coisas e elas são minhas, sabe? Elas pertencem a mim”, disse Gard.

Não é de se esperar que Gard tivesse essa reação, até porque os primeiros esboços do jogo mostravam um mundo detalhado em 3D com pirâmides, templos, tumbas, selvas e sua personagem - que seria o diferencial para o estúdio - aparecendo na tela o tempo inteiro. Lara foi a ‘primeira’ protagonista feminina de um videogame que realmente se tornou um ícone.

A saída do seu criador, entretanto, não fez com que o sucesso de Tomb Raider parasse. Com as vendas dos jogos crescendo, Core e a Eidos decidiram que haveria um novo Tomb Raider nas lojas a cada mês de novembro. E foi assim até, pelo menos, pelos próximos cinco títulos da franquia.

A estratégia logo alcançou seu ponto de saturação com o lançamento do sexto título da franquia, Tomb Raider: The Angel of Darkness, para PlayStation 2. Bugado e feito às pressas, o jogo desagradou e muito os fãs, que estavam decepcionados com a reciclagem das tramas e o fato de que Lara Croft não havia se reinventado nenhum pouco.

Não ajudava o fato de que The Angel of Darkness teve seu lançamento adiantado para chegar às lojas antes do segundo filme com Angelina Jolie sair, mas foi uma decisão amarga. O jogo afundou as vendas - e a Core, que perdeu o controle da franquia e veio a fechar as portas em 2010. 

Em meio a isso, a Eidos passou a personagem e suas histórias para os cuidados de outro estúdio, a Crystal Dynamics, conhecido na época principalmente por The Legacy of Kain.

Crystal Dynamics e a lenda de Tomb Raider

É claro que os fãs estavam apreensivos sobre o retorno de Tomb Raider depois do vexame que foi The Angel of Darkness. Por isso, foram necessários três anos até vermos outro jogo da franquia.

O primeiro jogo do estúdio com a franquia foi Lara Croft Tomb Raider: Legend, e a heroína passou por um redesign, tendo seus traços suavizados e, bom, com proporções de uma pessoa de verdade.

Alguém que ficou bem feliz com a nova direção da série foi um velho conhecido, Toby Gard, que serviu de consultor e roteirista para os primeiros jogos dessa nova fase por meio de seu próprio estúdio.

Após Legend, tivemos Anniversary e Underworld, mas o grande passo seguinte para Lara Croft estava por vir, agora sob o nome da Square Enix, que comprou a Eidos em 2009.

Em 2013, Tomb Raider passou por uma reformulação completa, tendo todos os seus elementos - história, gameplay e até visual da protagonista - totalmente repensados, novamente pelas mãos da Crystal Dynamics.

As origens de Lara foram reescritas, a linearidade dos níveis foi mantida (embora com alguns aspectos de mundo aberto), mas o sistema de controle foi completamente reformulado, para torná-la mais ágil e dinâmica, e os quebra-cabeças foram simplificados e mais intuitivos, para atender ao público moderno.

E foi uma mudança e tanto: a nova Lara Croft era agora recém graduada em arqueologia e, o principal: sentia medo. A inclusão da vulnerabilidade e do medo na protagonista, e a superação disso por partel dela, deu um boom para o sucesso de uma nova era de Lara Croft. Isso não diminuiu nem um pouco sua posição como heroína e podemos vê-la como uma mulher forte sem ser objetificada.

Um futuro para Lara Croft

Considerado o primeiro de uma trilogia, o Tomb Raider de 2013 não só trouxe uma reformulação para a franquia como também uma nova perspectiva de futuro. Rise of the Tomb Raider, de 2015, está entre os melhores games de toda a franquia, refinando o que deu certo em seu predecessor e expandindo com mais quebra-cabeças e eventos bombásticos.

Shadow of the Tomb Raider, o último grande capítulo da série, foi lançado em 2018, concluindo a trilogia, desta vez sob os cuidados da Eidos Montreal, mais conhecida na época pelos jogos de Deus Ex, e que curiosamente lançou um outro jogo na semana de aniversário de 25 anos da série: Marvel’s Guardians of the Galaxy

E além dos capítulos principais, vários spin-offs da série também foram lançados, especialmente para dispositivos móveis, como Lara Croft and the Temple of Osiris (2014), Lara Croft: Relic Run (2015) e Lara Croft GO (2015).

Em 2021, Tomb Raider Reloaded chegou para alguns territórios em dispositivos móveis, mas também será lançado mundialmente em 2022.

Isso sem falar na nova adaptação para os cinemas da série, e o anime para a Netflix que estão no horizonte.

Mesmo que o aniversário de 25 anos de Tomb Raider conte só com jogos para dispositivos móveis como lançamentos, não parece que a Square Enix esteja disposta a deixar a lenda de Lara Croft morrer: a Crystal Dynamics chegou até a declarar que tem planos de “unificar” as linhas do tempo dos jogos originais com a trilogia do reboot.

O que será que podemos esperar para o futuro dessa tão icônica franquia?