O gênero 4X (abreviação de eXploração, eXpansão, eXtração e eXterminação) é dominado há muitos anos por uma franquia: Sid Meier's Civilization. E todos os anos, dezenas de jogos são lançados com a promessa de rivalizar de verdade com Civ. A aposta da vez é Ara: History Untold, desenvolvido pela Oxide Games e publicado pela Xbox Game Studios, lançado no fim de setembro e disponível no Game Pass.

E olha, não dá para negar que o jogo é promissor. Visualmente bonito, variedade enorme de personagens históricos que servem como líderes das civilizações, novas mecânicas e detalhes de jogabilidade... Se você está acostumado com o gênero, vai rapidamente se adaptar e mergulhar no jogo. Mas é exatamente aí que o game se perde. Se o começo é um sopro de novidades no gênero, rapidamente tudo se torna extremamente mecânico e maçante. Com o avançar das eras, são (muitas) dezenas de notificações e comandos para serem dados a cada turno, a maior parte deles repetitivos e que vão te cansando.

Mas vamos começar do início.

Imagem de divulgação de Ara: History Untold
Divulgação/Xbox

Assim que você abre o jogo percebe que ele está totalmente localizado para o português brasileiro. Todos os menus, notificações, eventos... Tudo. E além dos textos, a narração também está localizada. De cara é um ponto positivo para uma melhor imersão e entendimento do game.

Assim que você inicia uma nova partida, se depara com uma lista de 36 líderes (42, se você adquiriu a versão deluxe) para escolher. Cada um tem uma característica exclusiva, que representa os bônus que ele te dará ao longo do jogo, além de outras características genéricas — de três a cinco, dependendo do personagem, que trazem outras bonificações à sua civilização.

Se você parar para observar bem, vai ver que essas características mais genéricas acabam se repetindo, principalmente porque é um jogo com 42 personagens. Ainda dá para perceber também um certo desbalanceamento, já que alguns líderes acabam tendo mais bônus que outros. Nada que faça muita diferença, mas que pode gerar dificuldades, dependendo da gameplay.

O próximo passo é escolher as configurações do jogo. Ainda temos poucas opções de tipos de mapas e de personalização, mas acredito que o jogo vá ganhar atualizações, mods e/ou conteúdos especiais ao longo do tempo que vão tornar essa parte mais robusta. Além disso, você pode escolher a dificuldade do jogo; são 10 níveis, indo de Barão a Imperador, bem parecido com Civilization. Com tudo pronto e definido, você inicia o jogo.

Imagem de divulgação de Ara: History Untold
Divulgação/Xbox

De cara, você conhece mecânicas novas. Suas cidades são divididas em distritos e dentro de cada um você pode construir uma melhoria. Essas melhorias são atreladas aos recursos da sua cidade, seja produzir alimentos, cortar madeira, extrair metais ou, mais uma novidade, criar produtos.

O jogo te traz a possibilidade de construir alguns prédios como oficinas, padarias, cervejarias, entre outros, que vão utilizar matérias-primas que você produz ou importa de outras civilizações ao longo da run. Essa dinâmica é muito interessante, porque você consegue produzir comodidades que vão dar bônus na qualidade de vida da sua cidade (outra boa novidade do jogo), ou que vão servir como material de construção de outros prédios e maravilhas.

No início, é muito fácil planejar o que construir, onde construir e quais itens produzir. Só que a partir do momento em que suas cidades começam a crescer, cada um dos distritos e prédios precisam ser administrados. Apesar de ser fácil deixar eles para lá, rodando no automático, você não vai conseguir atingir o potencial máximo. O jogo exige, em dificuldades maiores, que você tenha um microgerenciamento sobre absolutamente tudo que está acontecendo, como forma de não desperdiçar suas produções e se manter firme na disputa pela vitória. E isso acaba tornando o jogo repetitivo e cansativo ao longo dos turnos.

Para quem está acostumado com outros jogos do gênero, é muito fácil de se encontrar nos menus. Inclusive, é muito mais fácil aprender a jogar mergulhando em uma partida do que acompanhando o tutorial, que não te ajuda a entender a profundidade da maioria das ações que você tem que tomar ao longo da gameplay. E um ponto muito positivo aqui: antes de passar um turno, você consegue acessar uma "lista de ordens" com tudo que você fez durante aquele período. Caso queira cancelar alguma coisa ou refazer algo, é simples. Isso ainda evita aquela situação chata que é clicar errado em algo e não ter como voltar atrás.

E aí entramos no ritmo do jogo: você começa a explorar o mapa ao seu redor e planejar a expansão do seu império para locais com novos recursos, que serão explorados e transformados em produtos. Até aí, três dos "X" de 4X. Falta a parte da exterminação, mas vai ficar para depois no Review.

Imagem de divulgação de Ara: History Untold
Divulgação/Xbox

Dependendo do tamanho do mapa ou da quantidade de rivais escolhidos, rapidamente você vai encontrar novas civilizações. A IA, nos níveis mais difíceis, me pareceu bem esperta, sempre tentando se aproveitar das suas falhas. Além disso, as interações são bem interessantes, com eventos que podem aumentar ou diminuir a sua relação em troca de itens, recursos e até divisão de formas de governo, tornando essa dinâmica muito importante, principalmente na formação de alianças e de rotas comerciais.

O mesmo não pode ser dito das tribos. Elas estão espalhadas pelo mapa e, quando você as encontra, tem um nível de relação que vai de 1 a 5. Não consegui entender se isso é aleatório, mas me pareceu. A partir do nível do relacionamento dado inicialmente, eventos que podem aumentar ou diminuir a relação vão acontecendo. Se você atingir o nível máximo antes de outras nações, essas tribos passam a integrar a sua civilização, trazendo recursos e habitantes. É um ponto interessante, mas ainda precisa ser melhor trabalhado nas próximas atualizações.

Um ponto que permeia tudo que foi falado até agora e é fundamental para avançar no jogo é prestígio. Tudo que é feito no jogo gera prestígio, desde encontrar tribos até construir maravilhas ou desbloquear tecnologias e formas de governo. E, durante a gameplay, existe um ranking em que você precisa se manter bem colocado, porque a cada certa quantidade de turnos, as nações que estiverem na parte de baixo do ranking são simplesmente esquecidas e somem do jogo. Se você estiver entre elas, é game over.

O seu objetivo é se manter sempre entre os líderes de prestígio através das eras. O jogo tem três atos, que levam você desde a antiguidade até a era das máquinas. E dentro de tantas mudanças que vão acontecendo ao longo da linha do tempo, a sua estratégia tem que ser se manter gerando prestígio para estar na liderança quando o jogo chegar ao fim. Um ponto positivo é que você pode fazer isso com diversos focos, como religião, cultura, ciência, guerra, etc. Outro ponto importante é que dificilmente você vai ser surpreendido com uma derrota súbita. Você sabe em que ponto está em relação aos rivais e às condições de vitória.

Imagem de divulgação de Ara: History Untold
Divulgação/Xbox

Mas e o combate, do X de "exterminação"? O jogo te dá, desde o início, a opção de criar formações com as unidades militares que você constrói, o que facilita a movimentação e o aumento de forças. Além disso, existe também um limite - que aumenta gradativamente junto com as eras e com a expansão da sua civilização - de unidades, ajudando no balanceamento da gameplay e evitando que alguém se desenvolva militarmente cedo demais e destrua todo mundo.

As dinâmicas de declarar guerra são interessantes, com "casus belli" que variam desde expansão territorial até aniquilação total do adversário. Essas batalhas também são uma boa chance de gerar pontos de carisma. Inclusive, em algumas das gameplays que joguei, quando eu estava em dificuldades, criava um pequeno caos contra meus vizinhos para farmar alguns pontos de prestígio importantíssimos para me manter vivo no jogo.

Imagem de divulgação de Ara: History Untold
Divulgação/Xbox

Do meio para o fim da partida, Ara repete o que esse estilo de game não consegue evitar: excesso de informação, deixando o processamento do mapa e da partida mais lento. Nada demais, mas que pode gerar frustração ou prejudicar a experiência em PCs menos potentes.

No fim das contas, Ara: History Untold é uma ótima pedida para quem gosta de jogos 4X no estilo Civilization, com novas mecânicas e dinâmicas que trazem um respiro ao gênero. Para jogadores de primeira viagem neste estilo, a quantidade de ações, menus e possibilidades a cada turno podem assustar. O título tem muito espaço para evoluir em suas atualizações, e pode se tornar o rival para Civ que Humankind, por exemplo, não conseguiu. Para isso, precisa trazer formas de não se tornar tão repetitivo e evitar o microgerenciamento do mid para o late-game.

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Ara: History Untold
  • Lançamento

    24.09.2024

  • Publicadora

    Xbox Game Studios

  • Desenvolvedora

    Oxide Games

  • Gênero

    4X

  • Plataformas

    PC