Resident Evil: a assassina medieval que inspirou Lady Dimitrescu

Lady Dimitrescu foi um tópico bastante discutido na internet após o lançamento de Resident Evil Village e conquistou todos os fãs com seus quase três metros de altura. A vilã rendeu bons memes e até mesmo mods em outros jogos bastante conhecidos, como Bloodborne.

Para dar vida à Dimitrescu, a equipe precisou buscar inspiração em diferentes lugares e conseguiu mesclar uma lenda urbana japonesa com a história real de uma assassina em série condenada, a condessa Elizabeth Bathory.

Ela foi uma das figuras mais perversas da Europa do século 16 e teria torturado e matado até 650 meninas e mulheres entre 1590 e 1610, embora não se saiba com exatidão se a contagem está correta.

Existem, até hoje, muitas teorias sobre o que a Condessa Bathory fazia com suas vítimas e uma delas é que as meninas assassinadas pela mulher tinham seu sangue removido e que ele servia de banho para a condessa, como uma forma de evitar o envelhecimento. Por isso ela ganhou o apelido de Condessa Sangrenta.

Elizabeth Bathory nasceu na Hungria no século 16 e aos 15 anos de idade casou com seu primo, príncipe Ferenc Nádasdy e foi morar no castelo Cachtice. Enquanto seu marido ficava muito tempo fora de casa em missões militares, a condessa torturava seus servos severamente. Ao ficar viúva em 1604, seu comportamento sádico começou a se agravar.

Cansada de torturar e matar empregados, a condessa começou a atrair garotas jovens e virgens para seu castelo, com a promessa de trabalho como servas domésticas, mas que logo se transformava em uma cena de horror com todas as mutilações tendo início.

De tudo um pouco: Elizabeth torturava as jovens cortando seus dedos, colocando agulhas embaixo de suas unhas, espancando-as com porretes e açoites farpados, queimando suas mãos, dando banhos extremamente gelados em condições de frio extremo entre outros tipos de tortura, segundo os arquivos históricos da cidade de Budapeste.

Quando os boatos sobre a condessa se agravaram, uma queixa pública foi apresentada contra ela na corte de Viena, em 1600, mas apenas dez anos depois, em 1610 as autoridades húngaras deram início a uma investigação. O rei Matias II designou György Thurzó para comandar a operação e, teriam sido coletados cerca de 300 testemunhos de nobres, servos, padres e possivelmente quatro cúmplices.

No final do mesmo ano, Thurzó visitou o castelo de Cachtice, casa de Elizabeth e palco de seus crimes e acredita-se que ele tenha encontrado restos de cadáveres e uma sala de tortura. Com a confirmação de que Bathory era culpada, o rei Matias sugeriu que ela fosse condenada à morte, mas por ser de uma família importante da nobreza, a reputação de todos os membros da linhagem poderia ser manchada. Ela foi então condenada à prisão perpétua em um quarto do seu castelo, e seus cúmplices foram sentenciados à morte na fogueira.

Por quatro anos a condessa permaneceu imóveil, pois sua prisão era um buraco na parede, onde havia apenas pequenas aberturas para ventilação e passagem de alimentos. Em agosto de 1614, ela foi encontrada morta.

Existem diversas teorias sobre a história de Elizabeth Bathory, e ela foi eleita pelo livro dos recordes, Guinness World Records, como a assassina mais prolífica de todos os tempos.

Bathory tem uma grande participação em teorias sobre ter sido ou não quem ajudou a inspirar Conde Drácula, de Bram Stoker, mas o fato é que, por sua história, ela é frequentemente assemelhada a histórias com vampiros.

Tomonori Takano, diretor de arte de Resident Evil Village, disse em uma entrevista que “no game, o conceito começou como um castelo com cem bruxas dentro, mas era difícil implementar em um formato de videogame, e é por isso que acabamos fazendo assim. Mas, na verdade, quando você joga, pode notar que o cenário ainda está muito próximo dessa ideia. Todos os inimigos dentro do castelo são mulheres. Com Lady Dimitrescu como guru do culto, criamos essa hierarquia de mulheres. Os homens têm seu sangue drenado por elas, então você pode dizer que é o oposto do Drácula”.

É claro que Lady Dimitrescu não é uma recriação idêntica à Bathory, mas podemos ver as semelhanças como, por exemplo, Dimitrescu é a matriarca de um castelo com uma masmorra onde ela mata e sangra suas vítimas, assim como a condessa. Por causa da mutação única, Dimitrescu deve beber o sangue de suas vítimas para manter sua juventude e seus poderes, assim como se acreditava que Bathory o fazia também (tirando a parte dos poderes, é claro!). Dimitrescu também tem três filhas que a ajudam a caçar suas vítimas, remetendo aos servos cúmplices de Elizabeth Bathory.

Segundo Takano, Bathory forneceu a base para a história de Lady Dimitrescu, e ela evolui a partir de outras ideias na Capcom. A personagem - esteticamente - também foi inspirada em uma lenda urbana japonesa do Hasshaku-sama (ou ‘hachishakusama), um espírito maligno de 2,5 metros de altura com um chapéu de aba larga que atrai suas jovens vítimas masculinas imitando as vozes de seus entes queridos. Impossivelmente alto, pálido como um cadáver e usando um chapéu de aba larga, a semelhança é incrível.

Além de Elizabeth Bathory e da lenda japonesa, Takano também comentou que a vilã teve inspiração na personagem Mortícia Addams, interpretada por Anjelica Huston na série de 1991. Ele também conta que não esperava toda a repercussão que Lady Dimitrescu teve na internet e que a equipe ficou muito feliz com a recepção incrível do público.

Caso você esteja interessado no jogo, pode conferir nosso review aqui, onde mencionamos que “Resident Evil Village cumpre muito bem a tarefa de continuar o clima fresco e instigante do seu antecessor de 2017, enquanto conserta a jogabilidade meio dura e lenta de Resident 7.”