Com o público brasileiro de Minecraft sendo majoritariamente infantil, e a desvalorização dos criadores de conteúdo do jogo no Brasil, será possível alimentar esse cenário competitivo no país? Levamos a questão para um dos principais nomes do cenário do jogo no país

No último sábado (27) foi realizada a segunda edição do T.A.G., ou The Arteque Games. Criado por Paulo Arteque, essa competição surgiu com inspiração no cenário internacional de Minecraft, que conta com eventos como o MCC, ou Minecraft Championship, criado no final de 2019.

Arteque cria conteúdo para internet desde 2012 e chegou a ter diversos canais até 2016. Mas em 2020, ano da pandemia, ele começou sua faculdade, que logo virou 100% EAD (Ensino à Distância). Com dificuldades de se adaptar ao modelo online, ele passou a focar em outros projetos, chegando a inclusive organizar campeonatos de Counter Strike e de League of Legends com os amigos, até decidir criar um servidor de Minecraft, que foi quando ele se reencontrou com o game.

Mais do que isso, ele também acabou se reconectando com o pessoal lá de fora, conhecendo o Dream SMP e os criadores que fazem e fizeram parte do SMP. Dessa forma acabou conhecendo os eventos que essas pessoas participavam, como o Minecraft Monday, um encontro semanal competitivo.

Assim, em 2021, ele abriu um canal de shorts onde fazia parkour enquanto conversava sobre curiosidades, e se juntou com mais alguns criadores de conteúdo para, mais tarde, criar um canal mais focado em minecraft e realmente se dedicar ao game.

Porém, começou a ter dificuldades de conciliar trabalho, faculdade e o canal, e acabou por se sentir "para trás" em relação aos seus colegas que estavam indo melhor em números e audiência.

Após uma crise de ansiedade que o fez parar no hospital, decidiu que era hora de se dedicar 100% ao canal, deixando de lado o trabalho e a faculdade. A partir de agosto de 2022 ele formou uma empresa e contratou alguns amigos para trabalhar no projeto, passando de 300 mil para 1 milhão de inscritos em dois meses.

Mas em algum momento, Arteque percebeu que estava buscando algo que não era mais o que queria. A inspiração que trouxe de fora era de um conteúdo muito mais focado no público jovem e adulto, enquanto o Minecraft que dava certo no Brasil era muito mais focado no público infantil.

Apesar de ainda criar coisas mais complexas e com roteiros intrincados, ele ainda tinha que perseguir o "meta", que é o público mais infantil. Insatisfeito, decidiu que não queria ser o "Arteque dos vídeos de minecraft infantil" e foi atrás de criar um conteúdo mais com a sua cara.

Em 2023, com apenas ele e um editor, Arteque mudou a cara do canal, participando de várias séries, conhecendo pessoas de vários nichos diferentes e percebendo outro lado por trás das câmeras. Assim, começou a se familiarizar mais com o lado empresarial.

"Os criadores de conteúdo, no geral, do mine no Brasil são muito desvalorizados. A gente tem um pessoal gigantesco que faz live, pessoas muito boas, que pegam números muito incríveis, com o público fiel pra caramba – e você olha criadores de conteúdo de outros nichos com o dobro ou o triplo de patrocínio e de contatos com marcas", comentou em entrevista com The Enemy. "Você vê um cara que tem 150 viewers em média e ele pode tá ganhando 10 vezes mais do que um cara que tá pegando 600 viewers só porque ele tá fazendo o outro conteúdo que não é Minecraft, porque Minecraft é tido como coisa para criança",complementa.

Ele destaca também que muitos dos criadores não têm como foco o público infantil, especialmente aqueles que criam para a Twitch, já que a própria plataforma permite que apenas pessoas com mais do que 13 anos possam fazer o cadastro.

Independente disso, todos caem no mesmo problema: enquanto criadores de tamanho parecidos em outro nichos recebem a atenção de patrocinadores, os criadores de Minecraft acabam dependendo quase que exclusivamente de adsense, doações e etc.

Então, conhecendo os bastidores e com o contato de diversos profissionais da área, ele fez o primeiro The Arteque Games em 2023, juntando 24 criadores de conteúdo (inclusive a que vos escreve aqui) no estilo survival games, amplamente inspirado em Jogos Vorazes.

O projeto foi um sucesso, com boa recepção do público, e foi a primeira vez que ele sentiu confiança que o projeto poderia realmente dar certo. Isso o incentivou a ir atrás de criar um projeto brasileiro mais próximo do que o MCC seria. Seis meses depois da primeira edição do TAG, ele lançaria a segunda edição.

E o T.A.G.?

Nessa segunda edição, o T.A.G. contou com 40 criadores de conteúdo de Minecraft organizados em 10 equipes e o evento oferecia 9 minigames diferentes. Entre os participantes estavam pessoas de todos os estilos de produção de conteúdo:, streamers, youtubers, pessoas mais focadas em mini games, Minecraft "Vanilla", com mods e até de comunidades vizinhas, como Stardew Valley.

Essa edição também contou com diversos programadores, builders e, com isso, conseguiu a atenção de patrocinadores para financiar o prêmio de 2 mil reais para a equipe vencedora.

Os nove minigames disponíveis eram: Triatlo, inspirado no original grego, que começa com competição de barco, seguida de parkour e terminando com um trajeto de elytra; Parkourso, onde o jogador poderia escolher entre três pistas de níveis fácil, médio e difícil; Corrida Mortal, um Mario Kart, porém a pé; Battle Games, inspirado em Jogos Vorazes, onde os jogadores têm que procurar recursos pelo mapa e eliminar as outras equipes; Cooking Mama, uma reprodução do jogo indie Overcooked! dentro do Minecraft; Boss Battle, um minigame para matar dragões e atrapalhar players; Caras Caem, vindo diretamente de Fall Guys; Round 3, inspirado na série da Netflix, mas com apenas 3 jogos; e Build War, focado em construção.

Os dois finalistas então se enfrentaram em uma competição exclusiva de Futeblock que definiria o campeão.

Apesar de nove minigames disponíveis, os participantes escolhiam apenas cinco, e o sexto era escolhido pelo público. Nesta edição, os minigames selecionados foram Caras Caem, Round 3, Triatlo, Cooking Mama, Parkourso e o Boss Battle, que foi eleito pelos espectadores em uma votação no X (antigo Twitter). O minigame final de futeblock foi disputado entre as equipes Tamanduás e Capivárias, que acabou sendo a vencedora .

Os planos agora para o futuro do T.A.G já estão definidos: edições mensais ou bimensais, a depender do interesse do público, participantes e especialmente patrocinadores, já que o objetivo do evento é criar um cenário competitivo e trazer esses patrocinadores de fora para dentro do Minecraft.

Para Arteque, a ideia é fazer com que as pessoas mudem a visão delas em relação ao game, e, quem sabe, mudar um pouco o panorama do Minecraft no Brasil e de seus criadores. "Nosso objetivo aqui é fazer a revolução no cenário brasileiro e aí transformar o cenário como um todo"