Uma semana após o anúncio de sua aposentadoria da indústria de games, Michel Ancel, ex-produtor da Ubisoft e criador de franquias como Rayman e Beyond Good & Evil, foi alvo de uma série de acusações nesta sexta-feira (25) por seu suposto comportamento abusivo durante a produção de Beyond Good & Evil 2 ao longo dos último nos últimos anos.

As acusações contra Ancel vêm na publicação de uma reportagem do jornal francês Libération, em que fontes classificam sua gestão como desorganizada e tóxica durante a produção do jogo.

De acordo com a reportagem, Ancel foi o motivo por trás de constantes mudanças de escopo do projeto ao longo dos último sete anos, e de retrabalhos que levaram membros da equipe de desenvolvimento à exaustão, burnout e depressão.

Ele é capaz de te explicar que você é um gênio, que sua ideia é maravilhosa, e depois de te desmontar em uma reunião", afirmou uma fonte à publicação. "Dizendo que você não passa de merda, que seu trabalho não vale nada, e não falar com você por um mês."

Ainda segundo o texto, uma quantidade considerável de energia da equipe era investida em um "costura/descostura" permanente de planos, e na volatilidade de Ancel, que se devia não só aos "impulsos criativos" do produtor, mas também "à necessidade de brilhar", e de ser "sempre o último a fazer uma marca".

A publicação também aponta que Yves Guillemot, CEO da Ubisoft, estava ciente do "custo humano" do projeto, mas teria mantindo Ancel na lideraça do projeto por conta de seu status como uma "estrela da indústria". Alguém desse calibre pode mudar a percepção das pessoas sobre a Ubisoft [...]. Michel Ancel tem um status equivalente ao de outras estrelas do setor, o que é muito difícil de mudar. Cabe aos representantes dos funcionários e recursos humanos encontrar os caminhos para proteger as pessoas que trabalham com ele ", teria indicado Guillemot em uma reunião em 2017.

Em uma entrevista ao jornal, Ancel reconheceu o clima de sofrimento e tensões durante o projeto, mas associou a questão ao tamanho e complexidade da produção de Beyond Good and Evil 2.

É claro que uma pessoa esgotada é terrível”, afirmou. "É claro que, alguém que interrompe um projeto depois de vários anos, é uma parte de sua vida que vai embora. Não estou desvalorizando isso, mas você tem que considerar o contexto de tal criação, sua ambição, sua complexidade."

Ancel afirmou ainda que foi informado da investigação interna da Ubisoft sobre seu comportamento na produção de Beyond Good & Evil 2 por Yves Guillemot em agosto.

A investigação aconteceu no contexto de múltiplas denúncias de assédio e comportamento abusivo contra outros líderes da Ubisoft, que levaram a companhia a contratar empresas terceirizadas para avaliar as denúncias de colaboradores.

Em uma nota enviada ao Kotaku, a Ubisoft afirmou que “desde que informou Michel que estava sob investigação no início de agosto, Yves não entrou em contato com ele nem discutiu sobre ele com a equipe BG&E2 até o anúncio de sua saída.”

Ao Libération, funcionários afirmaram que não esperavam a saída de Ancel e que muitos não sabiam sobre a investigação. Na saída de Ancel, vale lembrar, foi revelado que o produtor já estava afastado do projeto há algum tempo.