Eu estou bem curioso para ver a reinvenção da Ubisoft.

Acho importante dizer, antes de começar o texto propriamente dito, que já faz algum tempo que os jogos da publisher francesa não prendem tanto minha atenção. Assassin's Creed Odyssey foi o que chegou mais perto de reverter esta tendência, mas após várias horas sem progresso significativo na história ou mundo (a meu ver) também deixei ele de lado.

Não porque o gameplay era ruim, a história não era engajante o suficiente ou algo do tipo, mas por ter simplesmente coisas demais no mundo do jogo que me fazem perder o interesse.

Sei que isso pode soar como um problema cretino de se ter, mas tantos elementos juntos, às vezes se conversando e outras não, para mim denota uma falta de foco, que se transmite do jogo em si para o jogador.

Este modelo parece ter chegado a um ponto de ebulição em 2019, e já naquela época a empresa se mostrou disposta a trazer mudanças a seus jogos - que ganhou contornos ainda maiores após parte da chefia criativa deixar a Ubisoft em meio a escândalos de abuso e assédio.

Tudo isso para dizer que, após testar Immortals Fenyx Rising por cerca de 5 horas, minha maior vontade é ver o que os desenvolvedores farão sem precisar utilizar este molde, já que é possível ver o espírito da equipe e de sua musa inspiradora, The Legend of Zelda: Breath of the Wild, mas ainda acorrentado aos chavões de um jogo de mundo aberto da Ubisoft.

(Há uma piada de Prometeu aí em algum lugar)

Desenvolvido principalmente pela Ubisoft Quebec, Immortals Fenyx Rising - antes conhecido como Gods & Monsters, uma pena por ser um nome superior a meu ver - é um jogo de ação em mundo aberto que não disfarça sua inspiração no aclamado jogo da Nintendo, mas que também segue por seus próprios caminhos, para bem e para mal.

No game, o jogador controla Fenyx, guerreiro totalmente customizável (incluindo aparência, gênero e voz) que naufraga em uma ilha misteriosa, onde descobre que quase todo o panteão de deuses gregos foi derrotado por Tifão, Titã que pretende moldar o mundo a sua forma.

Sem os deuses ou os grandes heróis da mitologia como Aquiles e Héracles, Fenyx é a única pessoa restante que pode salvar nosso mundo, ajudando os deuses a retomarem seus poderes e utilizando suas bênçãos e habilidades para derrotar Tifão de uma vez por todas.

O jogo é narrado por dois personagens: Prometeu, ainda acorrentado pelo presente do fogo à humanidade, que faz a narração principal; e Zeus, que derrotou Tifão no passado e é essencialmente o comentarista da dupla.

Assim como Breath of the Wild, Immortals tem um mundo vasto, com vários lugares a serem explorados e segredos a serem desvendados. Há inclusive paralelos claros entre os dois jogos: ao invés das Torres Sheikah, temos as grandes estátuas dos deuses (que, ao contrário de torres de outros games da Ubisoft, servem mais como um ponto de vista alto para encontrar lugares); os Shrines são trocados pelas chamadas Câmaras do Submundo; o paraglider agora são as asas de Dédalo; e por aí vai.

Mas nem tudo é o mesmo: as armas de Fenyx não quebram com o número de golpes como acontece com Link, e o ritmo e estilo do combate são bem mais rápidos e fluídos, utilizando combos de golpes fracos, fortes e parries para enfrentar inimigos.

Há talvez um quê de Assassin's Creed nessas lutas, mas também cheguei a sentir uma lembrança ainda mais antiga de Prince of Persia (que pode ou não ser minha memória pregando peças em mim).

A maior reclamação que tenho do combate é de algumas combinações de botões não são exatamente as mais fáceis de se fazer e lembrar, e o posicionamento de algumas ações (como correr no quadrado/X) me causou bastante dores de cabeça devido à memória muscular.

A direção de arte também tem bastante personalidade, seguindo por um caminho mais cartunesco e colorido do que o realismo de outros títulos da Ubisoft. Não só isso, ela se estende ao mundo, com cada diferente região da ilha dos deuses tendo sua própria personalidade e refletindo o estilo do deus que a habita (ao menos do que vi durante minha sessão).

A localização também parece fazer um bom trabalho, embora sinta que a dublagem sofra com um problema que vejo em outros jogos de videogame, com algumas falas não se encaixando com a fluidez ou o sentimento da conversa, reforçando a sensação de que na verdade estamos ouvindo atores que gravaram seus áudios separadamente.

Isso não é um problema envolvendo os dubladores, que tem talento e fazem um bom trabalho em geral, e talvez mais como o processo da gravação e implementação é feito atualmente.

Meu maior receio com Immortals é o problema de foco que citei anteriormente sobre outros jogos da Ubisoft, e como ele talvez tenha muitas árvores de habilidades, upgrades e para serem melhorados, com cada uma necessitando de um item específico.

A barra de saúde é melhorada ao encontrar Ambrosia; o Vigor ao completar os desafios nas Câmaras do Submundo; habilidades especiais pelas Moedas de Caronte em outros tipos de desafios espalhados pelo mundo; armas por meio de cristais especiais encontrados em baús ou derrotando inimigos...

É um sistema que em poucas horas não só me deixou exausto, como também afetou minha progressão durante o teste, já que algumas habilidades parecem ser essenciais para terminar missões da campanha principal, sendo o tipo de excesso que afeta o divertimento, e até vai um pouco contra o espírito original de Breath of the Wild: há itens e coisas muito especiais a se descobrir ao explorar Hyrule, mas há uma simplicidade (ou ao menos aparente simplicidade) nos sistemas básicos que compõem o game, que convidam o jogador a experimentar e continuar sua jornada sem se preocupar com outras coisas.

No fim, até teria curiosidade de seguir com Immortals e ver qual é o destino final da história, e o jogo demonstra que os desenvolvedores tem talento e criatividade para pegar os moldes de Breath of the Wild e fazer algo ao seu próprio estilo.

Mas o molde dos jogos da Ubisoft ainda é um entrave forte para mim, e gostaria de ver como os futuros projetos da publisher seguirão sem se apegar tanto a ele.

Immortals Fenyx Rising sai em 3 de dezembro para PC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S, Nintendo Switch e Google Stadia.