Sendo completamente honesto, eu não lembrava muito de Crucible até recentemente, quando The Enemy foi convidado a testar o jogo pela Amazon.

Anunciado em setembro 2016 como um dos primeiros projetos oficiais da iniciativa Amazon Games Studio, o jogo passou os últimos 3 anos e pouco longe dos olhos do público geral, sem grandes atualizações e novidades até o início de maio deste ano.

O título está sendo desenvolvido pelo Relentless Studios, formado por veteranos do Westwood Studios (Command & Conquer), ArenaNet (Guild Wars), entre outros diversos cantos da indústria de games, e parece estar misturando vários estilos e gêneros para este shooter.

Inicialmente um battle royale com alianças pontuais, Crucible parece ter sido mudado para um jogo competitivo com diversos modos que implementam algumas destas ideias, e conceitos de vários outros tipos de jogos multiplayer, de MOBAs a FPS como Battlefield e Overwatch.

Após algumas horas de teste, mesmo sofrendo com um lag tremendo, tive uma experiência positiva e divertida ao interagir com os diferentes e trabalhar com diferentes personagens e modos especiais.

Ainda assim, é difícil não olhar para o jogo e se perguntar como ele vai se impor no ambiente atual, e se ele conseguirá manter um público interessado - mesmo com todo o peso e força de um titã como a Amazon por trás do projeto.

A Essência de Crucible

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Amazon Games Studio/Divulgação

Crucible se passa em um mundo especial no universo, sendo o único local em que é possível encontrar um elemento especial conhecido apenas como "Essência", que serve como recurso principal para o funcionamento da sociedade, além de trazer melhorias significativas às habilidades do jogador.

Sendo assim, todos os modos de Crucible se baseiam na coleta e busca da Essência, que pode ser encontrado de diversas formas pelo mapa do jogo, seja derrotando inimigos, tomando estruturas conhecidas como Colheitadeiras e "farmando" ao abater a fauna e flora local.

Há também plantas que podem trazer benefícios ou problemas ao serem alvejadas, podendo soltar um gás que deixa todos ao redor temporariamente invisíveis, abrir espinhos em seu perímetro ou cuspir veneno em cima de oponentes (ou aliados).

Conforme o jogador vai coletando o elemento, ele vai subindo de nível, não só tornando seu poder de fogo e habilidades melhores como também ganhando benefícios passivos de suas árvores de habilidades.

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Amazon Games Studio/Divulgação

Não só isso, a árvore de habilidades de Crucible traz uma peculiaridade extra: antes mesmo de a rodada começar, o jogador pode definir que tipo de trajeto ela tomará durante a partida, sendo possível dar foco a um bônus passivo, uma habilidade especial ou até no seu papel dentro do jogo, podendo dar ênfase a diferentes aspectos de seus personagens.

Crucible traz um elenco (inicial) de 10 personagens, e para um "Hero Shooter" estas figuras trazem um catálogo variado de habilidades para atrair diferentes jogadores

Há bonecos mais tradicionais como o Capitão Mendoza, que traz habilidades típicas de um soldado em um jogo de tiro, até figuras um pouco mais exotéricas como Shakirri, que mistura habilidades ofensivas de curto e médio alcance com uma pistola e uma espada além de trazer escudos especiais, e Ajonah e seus harpões energéticos e barreira contra detecção geral.

Durante o teste, foi possível ver as diferenças e peculiaridades de alguns personagens, e que seus estilos e movimentação são bem diversos uns dos outros. Mendoza é rápido e tem poderes focados em velocidade, e pode invocar uma torreta, mas seu poder de fogo é mediano; Shakirri, por sua vez, muda a sua caminhada dependendo da arma que tiver em mãos, e sua capacidade de prender inimigos em um escudo é ideal para quem gostar de emboscar inimigos.

Para ajudar o público a entender o nível de complexidade de cada personagem, a equipe da Relentless Studios os enfileirou na tela de seleção, indo do mais acessível com Mendoza até a mais elaborada e difícil de dominar com Sazan.

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Amazon Games Studio/Divulgação

Com o tempo limitado, não tive chance de jogar com todos as opções, mas a impressão é de que Crucible ao menos tem um leque variado para ser utilizado nos diferentes modos de jogo.

Alianças e corações

Crucible é composto por três modos principais: Comando das Colheitadeiras; Coração das Colônias; e Caçadores Alfa.

Comando das Colheitadeiras é o mais tradicional deles, sendo uma partida competitiva nos mesmos moldes de Conquista em Battlefield, com duas equipes de 8 jogadores devem lutar pelo domínio das diferentes estruturas que extraem Essência do planeta.

Pela breve experiência com o modo, Comando parece ter uma estrutura mais casual e caótica do que suas contrapartes, com um número maior de jogadores e mais pontos de controle para tomar e defender simultaneamente.

De todos os modos, ele parece ser o mais rápido e acessível, e uma boa forma de testar e aprender mais sobre cada personagem e suas habilidades em ação.

Coração das Colônias, por sua vez, é um modo mais tático e que depende significativamente mais de trabalho em equipe e coordenação, servindo como uma mistura curiosa de elementos de shooters ao estilo de Overwatch com um MOBA como League of Legends.

Durante a partida, enormes colônias se erguerão em diferentes pontos do mapa, e o objetivo das duas equipes de 4 pessoas é destruí-las e adquirir seu Coração, com o time vencedor sendo o primeiro a conquistar três Corações.

Este é o modo em que a implementação das habilidades de cada personagem se mostra verdadeiramente especial: com Shakirri, por exemplo, consegui utilizar seu escudo para proteger a área do Coração e impedir que inimigos chegassem perto dele ou me atacassem durante a extração.

Como em um MOBA, há necessidade de farmar por recursos (em particular criaturas gigantes conhecidas como Stompers, que libertam Essência ao serem derrubados), e cada combate por controle da colônia é composto por investidas e contra-ataques em momentos específicos e analisando os pontos de vantagem de cada lugar.

Essencialmente, elas são como grandes embates ao redor do Barão Na'Shor de LoL ou Roshan em Dota 2, e como naqueles casos é gratificante quando as coisas acabando saindo a seu favor.

Por fim, Caçadores Alfa é o mais próximo que o jogo chega de sua proposta original, um battle royale em que 8 duplas devem se enfrentar em uma arena que vai ficando cada vez menor com o tempo.

O que o torna diferente é que, caso um membro da dupla seja morto, o sobrevivente pode fazer uma aliança temporária com outro jogador que também perdeu seu par - mas que pode ser desfeita a qualquer momento, e é automaticamente anulada quando a partida só tiver 3 sobreviventes.

É um modo interessante e criativo, mas ele também mostra que para funcionar melhor será necessário um rebalanceamento significativo em alguns personagens, já que ao final da minha partida o conflito se resumia a diferentes versões de Earl, o caminhoneiro robô que além de ter uma quantidade gigantesca de pontos de vida também recupera vida com uma de suas habilidades.

De qualquer forma, os diferentes modos parecem se complementar bem para diferentes tipos de jogadores, e apesar de trazer propostas diferentes o tempo de transição não é tão significativo.

Efeito Twitch

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Amazon Games Studio/Divulgação

O maior desafio de Crucible a este ponto é o simples fato de que o jogo não parece ter uma atenção significativa do público.

Como disse no começo deste texto, eu mesmo mal lembrava do game, então só posso imaginar quem não acompanha muito do noticiário da indústria. E não ajuda o fato de ele ter uma competição forte em termos de atenção com o beta de Valorant a todo o vapor.

Infelizmente isso também deve-se a má sorte por parte dos desenvolvedores, já que Crucible foi adiado duas vezes devido a problemas de produção derivados da pandemia do coronavírus COVID-19, e idealmente já estaria no ar há algumas semanas.

Ainda assim, o jogo tem uma grande vantagem para chamar atenção dos usuários: a Twitch.tv, a popular rede de streaming que é de propriedade da Amazon, e que será utilizada como uma forma de promoção do jogo.

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Amazon Games Studio/Divulgação

Em entrevista coletiva, os desenvolvedores revelaram que consultaram diversos streamers parceiros da Twitch para dar dicas e opiniões quanto ao game em si - chegando até a mudar seu sistema de monetização, de acordo com eles -, e que eles ajudarão a promover o título.

É um sistema que funcionou no passado, como Apex Legends pode atestar, mas agora com o interesse direto da própria empresa-mãe da Twitch.tv. E os desenvolvedores prometem grandes atualizações de 6 a 8 semanas, o que pode levar a um ciclo de interesse renovado pelo projeto.

A questão maior é o quanto o título conseguirá prender a atenção do público. Embora tenha apreciado minhas horas com o jogo, ele também me parece sofrer com um problema de falta de coesão, especialmente em relação ao estilo de seus personagens e sua relação com o mundo.

Em outras palavras: há um alarme de Battleborn tocando na minha cabeça, embora tenha uma impressão mais positiva deste novo jogo do que o finado projeto da Gearbox.

Enfim, mesmo com isso acredito que Crucible valha pelo menos um pequeno teste, e pelo menos o público poderá testá-lo gratuitamente no PC via Steam a partir de quarta, 20 de maio.