The Signifier é resultado de cerca de 10 anos de pensamento, desenvolvimento e iteração - nada mais justo, já que o jogo parece ser uma conversa entre o real, o consciente e o subconsciente humano.

Primeiro projeto do chileno Playmestudio, e distribuído pela publisher Raw Fury (de Dandara e West of the Dead), The Signifier é um jogo de investigação do subconsciente, em que o jogador deve explorar as memórias de uma pessoa morta.

No game, o jogador controla Frederick Russell, um especialista em psicologia e inteligência artificial e principal pesquisador por trás de uma máquina capaz de explorar as memórias e subconsciente de pessoas.

À pedido do governo, Russell deve investigar a morte de Johanna Kast, uma executiva da poderosa corporação Go-At, que apesar de ser considerada publicamente um suicídio traz circunstâncias misteriosas.

Graças a um escaneamento cerebral, Russell é capaz de explorar as memórias de Johanna, e interagir tanto com suas memórias de forma mais literal - o chamado "estado objetivo" - quanto de forma mais disforme e específica - o "estado subjetivo".

Ao explorar tanto regiões do mundo real em que Johanna viveu ou visitou, e locais correspondentes em sua memória em seus diferentes estados, o jogador vai descobrindo mais sobre sua vida e as circunstâncias de sua morte.

"Psicanálise é muito interessante para mim", explicou o diretor criativo e roteirista, David Fenner, em entrevista com The Enemy. "E se pudéssemos expressar isso por meios de mecânicas de jogo?"

Na demonstração que Fenner mostrou, Russell explora inicialmente o mundo real, a começar pelo apartamento de luxo em que Johanna vivia, e onde seu corpo foi encontrado. Ao interagir com os diferentes elementos do local, o jogador tem uma noção melhor do que pertence ao lugar - e o que pode estar fora de sincronia com o subconsciente.

Ao voltar para sua máquina, o pesquisador tenta explorar as memórias dos últimos momentos de vida de Johanna. Mas, para desbloquear suas circunstâncias reais, é preciso investigar elementos fora de lugar tanto no estado objetivo quanto no subjetivo, encontrando discrepâncias e dados fora de lugar para acessar novos locais e momentos capturados pelo escaneamento.

Para quem tiver mais dificuldades com soluções de quebra-cabeça, o jogo conta com uma ajudante especial: Evee, uma inteligência artificial capaz de reconstruir as memórias de Johanna, mas ainda incapaz de decifrar elementos do subconsciente - embora ela possa trazer sugestões importantes para jogadores presos em alguma parte do jogo.

De acordo com Fenner, o projeto mudou significativamente durante a década de planejamento, incluindo o fato de o jogo utilizar um mistério de assassinato como narrativa inicial.

"Nós fizemos um protótipo, e era bem ruim. E mais tarde fizemos outro protótipo que também era ruim, mas nem tanto quanto o outro", brincou. "Com o tempo fomos encontrando o formato, fazendo-o um mistério de assassinato, tentando encontrar as palavras certas, a estrutura certa para explorar [o conceito]".

O game foi tocado lentamente, inicialmente como um projeto paralelo para todos os envolvidos, e com retorno e opiniões principalmente de família e amigos.

Com o tempo, porém, o projeto foi ganhando mais destaque, até receber um financiamento do governo chileno, que os permitiu dedicar 3 meses de trabalho ao jogo - que foram usados ao máximo para refinar os visuais.

"Tudo foi feito lentamente, tudo é 4K, tudo tem uma alta contagem de polígonos", diz.

Como é de se esperar de uma obra audiovisual que explora o subconsciente, The Signifier traz algumas imagens curiosas e impactantes, como a escada saindo de um relógio que leva o jogador de uma memória para outra, sendo possível ver uma vastidão de possibilidades enquanto Russell escala o ambiente.

É possível ver que, mesmo à primeira vista, o jogo conta com diversas inspirações, especialmente voltadas para o surrealismo. Mesmo no armazém onde Russell usa seu equipamento especial, podemos ver o famoso quadro "A Traição das Imagens" de René Magritte, um exemplo clássico da dicotomia entre o real e representativo, concreto e simbólico.

Não só isso, um relógio que o jogador pode encontrar para solucionar um quebra-cabeças tem um aspecto meio derretido, não muito longe do que é visto em "A Persistência da Memória", de Salvador Dalí.

Durante a entrevista, Fenner cita especificamente duas grandes inspirações: as obras do cineasta Andrei Tarkovsky - Solaris em particular -, e Silent Hill 2.

Apesar disso, e de algumas imagens mais perturbadoras vistas no próprio trailer, o desenvolvedor diz que The Signifier é menos um jogo de terror e mais um "thriller psicológico".

Ao fim da demo mostrada por Fenner, fiquei curioso para saber por que outras direções o jogo pretende seguir, e que outras imagens e aspectos poderão ser vistos durante a narrativa e a exploração de memórias.

The Signifier tem lançamento previsto para 15 de outubro no PC, via Steam e GOG.