Quando a IO Interactive e a Square Enix anunciaram que estavam se separando em 2017, os fãs de Hitman ficaram preocupados com o futuro da franquia, afinal o primeiro jogo da nova trilogia tinha sido lançado no ano anterior. Bem, olhando para trás, é possível dizer que a aposta do estúdio dinamarquês na independência deu certo.

Cinco anos depois do lançamento do primeiro episódio da nova série, a IO está prestes a dobrar o tamanho de sua equipe, de 200 para 400 funcionários, e assinou um acordo para produzir um jogo baseado no espião mais famoso do mundo do entretenimento, James Bond.

Essência lapidada

Na trilogia World of Assassination, a IO pegou a essência bruta de Hitman e lapidou até transformar em uma jóia brilhante. O Agente 47 é um assassino misterioso e meio quietão, capaz de se disfarçar de praticamente qualquer pessoa para se aproximar de suas vítimas sem ser visto. Suas missões acontecem em grandes fases "sandbox" que passam a ilusão de existir de maneira independente do jogador. Entender seus padrões e aproveitar as oportunidades para eliminar os alvos das formas mais criativas e eficientes é o desafio.

Conforme a trama avança, o World of Assassination foi ganhando ares de conspiração internacional, elemento obrigatório em qualquer boa história de super espiões e assassinos dos dias de hoje, mas sem cair na armadilha de Hitman: Absolution, que tentou transformar o protagonista em um herói de ação. O que faz do Agente 47 um personagem tão envolvente na nova trilogia é saber qe ele é sempre a pessoa mais perigosa na sala, principalmente porque suas vítimas não suspeitam do que ele é capaz.

Os estágios de cada jogo sempre se passam em locações exóticas, como a Tailândia, um mercado de rua em Marrakesh, a selva Colombiana, um super arranha-céu em Dubai ou uma rave na Alemanha. Alguns são mais inspirados do que outros, como a excelente Dartmoor, uma mansão no interior da Inglaterra em que uma das soluções é se passar por detetive para investigar um assassinato. Além da referência ao longa Entre Facas e Segredos, é muito divertido ver a inversão de papéis do Agente 47, acostumado a ser o matador que não deixa rastros, buscando por pistas de um assassino.

Independência ajudou IO Interactive a reinventar a franquia Hitman
IO Interactive/Divulgação

Há um certo senso de humor bizarro e meio sombrio nos jogos: o primeiro tinha uma missão de Natal em que uma dupla de criminosos atrapalhados estava na mira do Agente 47, no melhor estilo Esqueceram de Mim. Em Hitman 3, durante um tour por uma vinícola argentina, um dos alvos se posiciona em todos os locais nos quais pode ser vítima de uma morte horrível e o assassino, disfarçado de enólogo faz as vezes de guia e tem comentários perspicazes sobre cada um deles.

No primeiro Hitman desta nova fase, a IO experimentou com o formato de distribuição por episódios. A ideia não foi muito bem recebida e a produtora preferiu um formato mais tradicional nos jogos seguintes, mas manteve o elemento de "live game" dos Alvos Elusivos: são conteúdos adicionados ao jogo depois do lançamento, que apresentam um novo contrato para o Agente 47 eliminar um alvo exclusivo em uma das fases do jogo. Essa vítima fica presente por um período limitado no game e o jogador só tem uma chance de eliminar. Se falhar na missão, não é possível repetir.

Essa mecânica é legal por vários motivos, mas para mim, o mais interessante é como ela quebra um dos principais elementos do jogo, que é justamente a repetição dos estágios: normalmente, o jogador passa várias vezes pela mesma fase de cada um dos Hitman para testar novas maneiras de eliminar seus alvos, cumprindo objetivos secretos e melhorando sua pontuação no ranking. Com os Alvos Elusivos, o que vale é o contrário: toda a preparação deve ser feita uma só vez para conseguir chegar até o alvo e eliminá-lo antes que ele perceba que está sendo caçado.

Independência ajudou IO Interactive a reinventar a franquia Hitman
IO Interactive/Divulgação

Futuro promissor

Ao longo desses cinco anos, a IO Interactive soube ouvir os jogadores, mudar modelos de negócios e em geral, acertou mais do que errou. E quando errou, foi rápida em buscar soluções, como ao remover os custos de importar fases de Hitman 1 e 2 para o jogo mais recente, um processo que deveria ser simples mas tornou-se complicado no PC por causa da exclusividade do terceiro jogo na Epic Store.

O resultado se vê no lançamento de Hitman 3 em janeiro deste ano. O jogo se pagou em menos de uma semana e desde então, está dando lucro para a produtora. Enquanto segue produzindo conteúdo para o jogo, a IO Interactive se prepara para sua próxima missão, usar a experiência adqurida com World of Assassination para trazer outro Agente, 007, de volta para os holofotes dos games.