Devo confessar algo aqui: nunca me interessei muito por God of War. O protagonista da série, Kratos, me parecia um tanto ultrapassado quando conheci a franquia; o típico brutamontes dos filmes de ação. Até joguei os dois primeiros, lá no PS2, mas não criei um vínculo tão especial com esse universo.

Em 2018, quando a nova era de God of War começou, mal prestei atenção nas notícias, a nível pessoal. Cheguei a jogar brevemente, inclusive, durante uma live — e me pareceu o suficiente. Na época, eu estava muito mais preocupado com o retorno de outra série esplêndida: Red Dead Redemption.

Kratos sorrindo.

Anos se passaram, e me esqueci completamente de dar uma chance para a mais nova aventura do Kratos. Só em 2022, com o jogo confirmado para PC, que decidi me dedicar, de fato, a God of War (2018). O resultado, como você deve ter percebido pelo título, foi uma paixão há muito inédita em minha vida. Pelo mundo, pela jogabilidade, pela trilha sonora e, acima de tudo, pelos personagens.

Pequenos trejeitos do antigo Kratos ainda existem na nova versão do protagonista, é óbvio. Mas, em vez de me sentir frustrado com esse aspecto da narrativa, adorei como aquela virilidade caricata se tornou uma barreira para a construção de uma relação saudável entre pai e filho. E é nessa relação que está a alma da obra inteira.

Atreus e Kratos.

Juntos, Kratos e Atreus só têm um ao outro para lidar com o luto. A morte de Faye não podia ter ocorrido em momento mais inoportuno, considerando a nítida falta de intimidade entre pai e filho. Inclusive, é doloroso ver como Atreus se sente desamparado nesse momento terrível, mas também dói ver Kratos não ter a menor ideia de como ajudar o "garoto", por mais que ele queira muito.

O desenvolvimento de uma história tão fundada no conceito de luto parece ser ainda mais poderoso em um contexto de pandemia global, no qual tantas pessoas se despediram de membros das próprias famílias. Há pouco menos de um ano, era eu quem estava me despedindo do meu pai. Então, ver a dupla enfrentando todos esses perigos fantasticamente absurdos enquanto tenta se conformar com uma perda incomparável me comoveu bem mais do que eu esperava.

Kratos e Atreus olham o horizonte.

Infelizmente, meu computador está com alguns problemas difíceis de se resolver. Portanto, por mais que a configuração dele seja exatamente a recomendada, tive alguns problemas de performance no meio do caminho. Nada que tenha destruído a experiência, mas me pergunto como seria ter acompanhado tudo isso de maneira mais fluída... Obviamente, já estou baixando no PS5 para tirar essa dúvida.

De qualquer forma, quando tudo roda como deveria, ver a taxa de quadros lá em cima enquanto arremesso o Machado Leviatã nos inimigos em tardes ensolaradas no meio da neve, com sombras e modelos de personagem absolutamente incríveis, é tão, mas tão sensacional. Eu sinceramente não faço a menor ideia de como consegui conviver com o fato de que não havia testado todas as possibilidades até hoje. Que lutas magníficas!

Kratos machucado.

Não sei quando foi a última vez que me senti tão absorvido por um universo original dos jogos. Seja pela identificação que senti com os dois personagens principais, pelas músicas maravilhosas que tornam toda a jornada tão mais épica ou pelo fato de que esse é o melhor sistema de combate que conheci na última década. São tantos pontos altos; tantas memórias que fiz perambulando pela Escandinávia do estúdio Santa Monica.

Sinto que ainda preciso jogar God of War mais algumas vezes para realmente saber tudo o que aconteceu. Quero ver se perdi alguma das maravilhosas histórias que Kratos conta para Atreus sem talento algum. Tenho alguns inimigos poderosos para reencontrar também, por questão de honra. E ainda preciso conquistar algumas metas pessoais que não rendem troféus. Enfim, não me vejo longe desse jogo por um bom tempo.

Enigma resolvido em God of War.

Mais do que qualquer outra coisa, devo reconhecer que, sim, God of War evoluiu muito além do que eu imaginava ser possível. Então, se por algum motivo, você é como eu, que não sentia muita afinidade pela série, se livre desses preconceitos e entre de cabeça no jogo. Há qualidades para absolutamente todos os públicos, dos que buscam desafios aos que querem uma história de altíssimo nível.

Aliás, se você não possui conhecimento prévio a respeito da franquia porque sempre jogou em PC ou algo do tipo, não se preocupe. Eu jamais encostei em God of War 3, por exemplo, e não me fez falta alguma. Desde que você saiba o básico sobre a história de Kratos (um antigo assassino de deuses aposentado, por assim dizer), pode jogar tranquilamente.

Estátua de Thor.

Dependendo da velocidade com que você for avançando, caso decida focar só nas missões principais, por exemplo, a história pode acabar meio rápido. Contudo, isso está longe de ser um problema em um período da indústria no qual tantos jogos simplesmente não sabem quando acabar. O cuidado com cada detalhe de God of War é simplesmente impressionante. Sempre que você se perguntar o que é um jogo "bem dirigido", tenha certeza de que esse é um dos melhores exemplos possíveis.

Ragnarok, a sequência do God of War de 2018, chega ainda em 2022. Até pouco tempo atrás, eu diria sem pensar que esse não era um dos meus jogos mais esperados do ano. Agora... Bom, digamos que minha mente funciona apenas com base na expectativa desse lançamento. Não sei se há como uma continuação superar o jogo de 2018, ainda mais considerando que sinto ter jogado no momento ideal, mas espero descobrir logo.

Serpente de God of War.

Inclusive, se você quer ter uma ideia de como foi nossa reação ao retorno triunfal de Kratos no período em que o jogo foi, de fato, lançado, é só dar uma olhada no nosso review da versão original.

God of War se tornou um dos meus jogos favoritos de todos os tempos. Há 10 anos, eu jamais cogitaria essa possibilidade. Quem diria...