O beta fechado de Valorant já está entre nós. O game foi liberado para brasileiros no dia 5 de maio, movimentando milhares de fãs em busca de acesso à versão de testes do jogo.

Como já eram antes, as comparações com CS:GO seguem inevitáveis. O game claramente se inspira no shooter da Valve, tanto em mecânicas de tiro, quanto no formato dos rounds e até mesmo no design dos mapas.

Ainda assim, o jogo da Riot Games traz novidades e possui bastante coisa a ensinar ao tradicionalíssimo FPS.

O que CS:GO pode aprender com Valorant?

Desde o anúncio do Project A, game que viria a ser chamado de Valorant, já era muito apontado que a Riot Games poderia criar um ambiente mais favorável à comunidade do que aquele feito pela Valve. Por mais que o cliente de League of Legends tenha problemas, ele não supera as inúmeras burocracias que CS:GO traz aos seus jogadores.

Ainda estamos em beta fechado do Valorant e já é possível utilizar uma ferramenta simples para criar duelos de 5 contra 5 entre seus amigos. No Counter-Strike, realizar uma partida customizada envolve comandos no console, servidores próprios ou até mesmo utilizar plataformas externas para conseguir juntar dez colegas na mesma sala.

Ainda sobre suporte à comunidade, Valorant traz uma arena de treinos nativa, sem a necessidade de trazer nenhum download extra. O mapa possui elementos que lembram bastante o aim_botz de CS:GO - onde jogadores são cercados de bots para treinar sua mira - e outros que são idênticos aos cenários para prática de movimentação.

Claro que isso existe no game da Valve, mas, como sempre, há alguma burocracia: esse tipo de conteúdo precisa ser adquirido por meio da Oficina do Steam, e é integralmente criado pela própria comunidade, não pela desenvolvedora do game.

Em termos de performance, a Riot também dá de lavada. League of Legends já era um game bastante equilibrado e tranquilo de ser executado mesmo em máquinas bem limitadas; para Valorant, idem.

Os requisitos mínimos podem até mostrar algo diferente: Valorant pede 1GB de VRAM, enquanto CS pede apenas 512 MB, por exemplo, mas não se engane. O jogo da Valve é conhecido por ter otimizações bisonhas, apresentando gargalos até em computadores com configuração respeitável.

Não é incomum que um computador dê alguma sofrida para rodar CS:GO em configurações mínimas, mas bizarramente melhore o desempenho ao ativar texturas e sombras de maior qualidade, por exemplo. O game é extremamente dependente do processador, e só utiliza a capacidade de sua placa de vídeo quando necessário.

Em Valorant, a sensação é de algo equilibrado. Se o seu computador consegue rodar CS:GO, pode ter certeza que ele não sofrerá nem um pouco com a novidade da Riot Games.

Por fim, é essencial falar sobre a qualidade dos servidores utilizados pela Riot. É rotineiro encontrar partidas em pouquíssimos segundos no game; claro, o jogo está em alta e sendo jogado por um número imenso de pessoas. Ao mesmo tempo, entretanto, CS:GO é consistentemente o jogo mais jogado do Steam, e ainda assim apresenta eventuais demoras de cinco minutos para encontrar uma partida ranqueada.

O que Valorant pode aprender com CS:GO

Críticas à parte, CS:GO ainda é rei no terreno de shooters táticos. Novamente, o game é o mais jogado do Steam, e seu cenário de esports atinge números estratosféricos - o IEM Katowice de 2020, por exemplo, chegou a 1 milhão de espectadores simultâneos sem sequer ser um Major.

Helena Kristiansson/ESL

O tempo de rodagem se mostra uma grande vantagem frente a concorrência: os jogadores utilizam a AK-47 de Counter-Strike há vinte anos; vários de seus mapas atuais são reformulações de cenários bem antigos; o formato competitivo já existe antes mesmo de esports serem chamados de esports.

Frente a Valorant, a idade aparece muito ao se falar de aspectos como interface e design de mapa. Uma grata surpresa em Valorant é sua ferramenta para personalizar a mira, algo que CS:GO só adicionou em 2020. Por outro lado, o radar do game pode ser bastante confuso, trazendo uma quantidade enorme de informações e possivelmente desorientando o jogador.

Tradicionalmente, os cinco membros de sua equipe aparecerão no radar. Entretanto, o game não dá nenhum destaque ao ícone do próprio jogador. Enquanto os outros integrantes aparecem com ilustrações do personagem escolhido, o seu próprio boneco é apenas uma bola branca, que passa bastante despercebida em meio a tantos itens coloridos.

Os mapas, por sua vez, sofrem com seu desenho. Em CS:GO, os posicionamentos são bastante intuitivos, e o caminho mais rápido de um bomb até o outro pode ser feito sem muito planejamento. Valorant, entretanto, é repleto de conexões e corredores, e a diferença de área entre os mapas é visível em suas respectivas plantas.

No mapa Haven, por exemplo, são várias paredes que praticamente se encostam, mas não possuem qualquer tipo de conexão entre si. Isso sem falar em uma situação de retake no bomb C, onde há pouquíssimas opções viáveis para desativar o Spike: há o caminho tradicional, pela base dos Defensores, ou arriscar invadir outras posições que já podem estar dominadas pelo adversário.

A grande preocupação da Riot Games, entretanto, deverá ser em como construir um cenário sustentável de esports. O CS:GO sempre se destacou por manter um circuito muito aberto, permitindo que inúmeras organizações fossem responsáveis por grandes torneios.

A Riot Games, levando em conta o League of Legends, representa o oposto disso: todos os campeonatos relevantes de LoL são gerenciados pela própria Riot, e quase não há espaço para organizadoras externas.

Para Valorant, entretanto, as diretrizes são outras: a empresa já divulgou um documento detalhando seus planos para os esportes eletrônicos, separando os torneios em três classificações diferentes. Torneios menores, com no máximo US$ 10 mil dólares em premiação; médios, com até US$ 50 mil; e grandes, feitos em parceria com empresas como ESL e Dreamhack.

Tirando um pouco as rédeas do cenário competitivo, a Riot certamente visa se aproximar do que fez o CS:GO crescer, mas precisa tomar cuidado para não se tornar quase uma vilã dos esportes eletrônicos.

Polêmicas envolvendo a Valve e o competitivo do CS:GO não faltam. Falando apenas dos últimos três anos, temos exemplos como um Major começando imediatamente depois das férias dos jogadores, a estranha adição de Vertigo nos mapas de rotação competitiva, os meses de sofrimento com armas desbalanceadas, e a economia extremamente desfavorável aos contra-terroristas.

Reprodução/HLTV

Acima de tudo isso, a empresa largou tanto as rédeas dos esports, que acabou deixando a competitividade sair de seu controle. Circuitos fechados e grandes campeonatos passaram a bater de frente com os Majors, únicos torneios patrocinados pela própria Valve.

Com isso em vista, a Riot pode pensar em agir como reguladora do cenário, impedindo que Valorant siga o mesmo caminho de sua maior inspiração.

Dito isso, é bem claro o potencial de Valorant entre os shooters táticos. Sem sequer ser lançado oficialmente, o jogo já sai na frente de sua maior concorrência em muitos aspectos.

Com o tempo e cuidado necessário, um futuro onde o game seja considerado amplamente superior a CS:GO é totalmente factível - as audiências com esports, entretanto, são um monstro totalmente diferente, e dependerão muito de decisões tomadas pela Riot no futuro próximo.