O mundo de Borderlands deixou muita gente com saudades e sempre vejo fãs aqui e ali querendo mais aventuras no universo distópico de Pandora e planetas vizinhos. Eis que a a nova incursão desse “loot-shooter” acabou se tornando uma aventura peculiar e satisfatoriamente divertida com Tiny Tina’s Wonderlands, que chegou nesta sexta-feira em todas as plataformas.

Porém, no lugar de uma metralhadora de raios gélidos, uma bazooka de raios iônicos ou uma gatling gun de prótons ionizados, somos conduzidos a universo criado para um “RPG de mesa”, no qual, você Noobie, é o astro principal para salvar um reino mágico e encantador, cheio de bom humor e consequências mirabolantes. Ou simplesmente sem sentido algum.

Esse é o espírito central que sai da cabeça de Tinazinha, a nossa mestra que inventou essa história e serve de gancho para sugar horas e mais horas de jogatina.

Tiny Tina’s Wonderlands não esconde suas origens, afinal, este é (mais) um spin-off da série Borderlands e que pega carona em um dos muitos lados lúdicos da série. Aqui o DNA de seu “irmão” mais velho está presente em tudo: desde os textos sarcásticos, as loucuras propostas na narrativa, os momentos insanos de FPS de arena e até mesmo os diálogos que fazem você dar aquela risadinha de canto de boca estão presentes. 

Esse longo tempo em que a equipe de Borderlands ficou fora dos holofotes deu tempo para que fossem criados um jogo maior e mais ambicioso que o DLC de Borderlands 2 trouxe, mas sem se arriscar demais. Parece que existem limites até para a maluca equipe de criação da Gearbox. Mas deixa eu contar pra você o que lhe aguarda nesse mundo encantado de fantasia medieval futurista.

FANTASIA MEDIEVAL FUTURISTA?

Parece uma coisa que é contraditória, mas a intenção é essa mesmo. Tinazinha é uma garota que vive no universo de Pandora e foi ela quem criou esse universo para mestrar uma campanha de “Bunkers and Badasses”, o livro de RPG de mesa que ela descolou com algum vendedor de armas atômicas.

Nesse seu mundinho, ela conta a história de Newbie, que é conhecido no jogo como o Chefe do Destino (Fate Maker, em inglês) e pode escolher uma entre seis classes de personagens que, apesar de terem inspiração nos RPGs medievais tradicionais, tem aquele toque de loucura que a equipe da Gearbox sempre oferece.

O Facadamante, por exemplo, é o assassino, o Lança-Magia se inspira nos magos, já o Necronata é um necromante que sacrifica vida para causar danos em seus inimigos e até mesmo o Brr-Ucutu é um guerreiro que lembra muito o Bárbaro de Diablo. Cada uma das classes possui habilidades especiais e únicas que fazem a travessia ser mais diversa e divertida.

Algumas dessas classes possuem um companheiro que os ajuda nas batalhas. O Necronata sempre anda com um espírito fantasma, enquanto o Guarda-Esporos sempre está acompanhado com um cogumelo vivo que envenena os seus adversários, enquanto o Garraforte sempre tem um dragãozinho à tiracolo.

Todas as classes possuem uma árvore de habilidades que permitem que você construa seu personagem da forma que lhe agrada melhor. Mas, no fim das contas, você sabe que vai querer jogar com todas as classes quando chegar no pós-jogo, mas sobre isso, eu falo mais adiante. 

Ao mesmo tempo que as classes são interessantes, Wonderlands oferece um jogo de tiro onde você vai ver armas mágicas para sair destruindo tudo o que está ao alcance e, claro, sempre oferecendo diversas opções para você escolher a que melhor se encaixa ao seu estilo. Tem de tudo mesmo, desde “pistolas de flechas”, até mesmo rifles de precisão e lança-granadas mágicas.

Aqui ainda existem armas brancas de curto alcance, como espadas, martelos, foices e coisas do tipo. Porém, sinto que era mais recompensado em sair atirando para tudo quanto é lado do que tentar chegar perto das hordas para desferir um golpe de espada.

Essas incongruências sempre são levadas em consideração no roteiro e os personagens coadjuvantes ficam sempre lembrando Tina que certas coisas “não fazem sentido em um mundo medieval”. Como o caso de uma parte bem no comecinho do jogo onde a Mestra diz para você usar C4 para destruir as catapultas que estão atacando um castelo. “Tá bom, tá bom. Então você precisa usar essa C3,9 para destruir as catapultas”, conta a mestra. Esse tipo de coisinha sempre está espalhado pela narrativa e são esses momentos que fazem você sorrir.

Eu terminei o jogo pela primeira vez com a classe Necronata, porém, lá na metade do jogo eu senti que gostaria de ter feito outra opção de classe. Mas já tinha investido tempo demais para voltar e fazer tudo do zero. Por sorte, o jogo tem um sistema que permite que você tenha um personagem multiclasse e quando você chega ao nível 40 você tem uma segunda chance e não desistir de tudo e começar a jogar do zero só para ver como seria uma nova classe. 

Além disso, no fim do jogo você existem desafios da Câmara do Caos, que aí sim fazem jus ao termo “loot shooter”, onde você é desafiado a explorar dungeons criadas aleatoriamente e apinhadas de inimigos, chefes esquisitões e tesouros. Porém, joguei algumas partidas nesse modo e, no fim das contas, não me senti impelido a ficar preso nesse loop.

O sentimento de voltar e jogar com outra classe ainda estava presente. A sua classe secundária pode ser feita depois que você termina o game, porém, sua classe primária vai contigo até o fim. Ou seja, faça sua escolha cuidadosamente, pois a única forma de trocar de classe, é começando um novo personagem do zero - e eu não estava sem nenhum pingo de vontade de voltar e fazer toda a campanha novamente.

UM MUNDO DIVERTIDINHO

Não quero dar spoilers, mas a narrativa do jogo sempre vai apresentando reviravoltas para manter sua atenção. Porém, no fim das contas, o roteiro não é o ponto forte do game. A história é bastante previsível e no fim das contas, você sabe vai precisar enfrentar o chefão vilanesco que quer destruir o mundo. Eu, honestamente, esperava um pouco mais da equipe de Borderlands.

Justiça seja feita, Tiny Tina Wonderlands faz uma série de referências muito engraçadas a outros jogos de RPG. Você vai encontrar missões secundárias que fazem referências a Final Fantasy, Pokémon e Monkey Island que são simplesmente hilárias. Por vezes eu me recusava a voltar às missões principais só pra ficar rindo com algumas piadocas.

Tem outras Gags, que talvez não funcionam tão bem, talvez por eu não estar na mesma sintonia, mas que sinto que vai satisfazer os amantes da cultura pop quando encontrarem as referências à He-Man, Smurfs e Don Quixote. 

Pelo lado positivo: o trabalho de localização, apesar de não contar com dublagem em português, os textos estão muito traduzidos e por vezes superam a versão norte-americana. Eu, particularmente acho que algumas coisas soam melhor em português do que em inglês. Fala sério: Brr-Ucutu é um nome de classe muito mais divertido do que Brr-Zerker ou não? E o que falar do personagem chamado “Faccada P Las Costas”? 

Porém, nem sempre dá pra superar o original. Lembra daquele trecho do C4? Em inglês a piada é com B4 (que acaba soando como Before).

LÁ E DE VOLTA OUTRA VEZ

Após passar mais de 35 horas no mundo de Tiny Tina’s Wonderlands eu sinto que é um bom jogo, divertido na maior parte do tempo, mas ainda assim com algumas coisas que não me instigaram a ficar preso em seu loop de gameplay. 

A história, como eu disse, é divertida mas não é tão engraçada como os games da série Borderlands. Talvez eu já tenha me acostumado com os tropes da Gearbox ou simplesmente o mundo criado por Tinazinha não seja realmente tão fantástico assim. De qualquer forma, acredito que quem é fã da série, vai gostar de ter um pouco mais daquele universo.

  • Lançamento

    25.03.2022

  • Publicadora

    2K Games

  • Desenvolvedora

    Gearbox Software

  • Censura

    14 anos

  • Gênero

    RPG

  • Testado em

    PC

Nota do crítico