Outriders foi um dos primeiros jogos confirmados para a nova geração e depois de uma longa espera, o jogo de tiro cooperativo da People Can Fly (de Gears of War: Judgment e Bulletstorm) chegou para PC e consoles PlayStation e Xbox. A maior promessa dos seus desenvolvedores era entregar um jogo completo, diferente do que costuma acontecer com outros "looter shooter" como Destiny, The Division, Anthem e até mesmo Marvel's Avengers, jogo da mesma publisher de Outriders, a Square Enix.

Isso diz bastante sobre a situação atual deste tipo de jogo.

Mas vou me concentrar em Outriders agora: a pergunta que mais ouvi sobre o game é, afinal, com o que ele se parece? Mesmo com uma demo generosa disponível para todos, a pergunta é bastante válida. A comparação mais comum numa primeira olhada, é "Destiny misturado com Gears of War". Parece mesmo, mas é só começar a jogar para perceber que não é bem assim.

Outriders é um jogo de ação e tiro em terceira pessoa, com alguns elementos de RPG e multiplayer cooperativo. Não é um "live game" e passa longe das armadilhas dos chamados "games as service": tudo o que o jogo tem a oferecer já está incluso no pacote, até mesmo o extenso conteúdo eng game e itens cosméticos para o personagem, seu estandarte e caminhão.

Faroeste espacial

Review: Outriders
Square Enix/Divulgação

A aventura toda acontece num planeta alienígena distante chamado Enoch, para onde os humanos tentam migrar depois que tudo deu errado aqui na Terra. Mas ao chegar lá, os humanos são recebidos por uma tempestade energética colossal, chamada no jogo de "a Anomalia".

Essa Anomalia misteriosa acaba com qualquer chance de colonização tranquila em Enoch e também é responsável por dar super poderes para algumas pessoas (e para muitas das criaturas nativas também). É assim que seu personagem, que é um batedor nessa primeira descida à superfície do planeta - ou como o jogo chama, um Outrider - acaba ganhando poderes incríveis e vendo, em primeira mão, a colônia ir para o buraco. Congelado durante algumas décadas após essa catástrofe, o personagem desperta em um mundo devastado, tomado por monstros e em meio a uma guerra entre facções de sobreviventes.

Essa é uma das diferenças entre Outriders e outros looter shooters: ele tem uma história bem clara, contada direitinho e sem mistérios enigmáticos. E o seu personagem é o protagonista e não um ajudante de luxo. Isso não significa, porém, que a história seja das melhores.

Em geral, a trama de Outriders é previsível e tem o mesmo nível daquelas produções "mais ou menos" do Syfy Channel. A atuação exagerada dos atores/dubladores não deixa as coisas melhores, mas combina com o jogo. A história tem até seus momentos dramáticos e de impacto e se você embarcar com expectativas baixas, com certeza vai se divertir. Só não espere nada de memorável nesse quesito.

Na maior parte do tempo, Outriders é um faroeste espacial, mas às vezes ele fica esquisito, com personagens bizarros, civilizações perdidas, tribos canibais e outras excentricidades. É nessas horas que sua ambientação brilha e quanto mais estranho ele fica, melhor.

O jogo tem um design meio antiquado e bastante linear em suas fases, mas a diversidade dos cenários compensa: há fases na montanha, na neve, na floresta, no deserto, nas ruínas alienígenas, na nave espacial caída e assim por diante.

O sistema de combate é a grande atração em Outriders e suas batalhas são o que mantêm o jogador envolvido: num primeiro momento, o design das fases parece a típica arena de paintball cheia de muretas que já vimos tantas vezes antes, mas a People Can Fly mostrou que não gosta de se repetir: ao invés de um Gears of War com super poderes, o estúdio criou um jogo diferente, em que os muros e coberturas estão lá para os inimigos se protegerem de você.

Combate agressivo e divertido

Review; Outriders
Square Enix/Divulgação

As armas em geral são OK, mas ficam melhores conforme você descola equipamentos de maior raridade, como é comum nesse tipo de jogo. O grande diferencial nem são as armas lendárias (embora elas tenham visuais maneiros) e sim os poderes: em Outriders, você está constantemente usando seus poderes para enfrentar inimigos, eliminá-los e recuperar seus pontos de vida. Entender o que cada um faz, montar uma boa combinação de habilidades e dominar a rotação delas é essencial para encarar os níveis de desafio mais altos.

São quatro classes de Outrider para escolher, cada uma com três árvores de habilidades que permitem fazer aquele ajuste fino no personagem, de acordo com o seu estilo de jogo. É possível encarar a aventura toda sozinho, do começo ao fim, mas as Expedições, que são as missões "end game", podem ser frustrantes de se jogar sem alguns companheiros.

Todas as quatro classes são pensadas para se jogar de forma agressiva, meio como se estivesse jogando Doom Eternal. Cada uma recupera vida de alguma forma um pouco distinta, mas que sempre envolve eliminar seus adversários. Não adianta ficar escondido, você vai virar alvo de uma verdadeira chuva de granadas se não for lá acabar com os oponentes.

Você vai acabar a campanha principal em torno de umas 20 horas, talvez um pouco mais conforme se dedicar a buscar os segredos de cada área e completar suas missões secundárias. Eventualmente, vai chegar ao fim e aí é hora de se dedicar a subir o nível do mundo e jogar as Expedições. São missões de escaramuça em versões um pouco diferentes das mesmas fases de antes, mas com desafios maiores e melhores recompensas. Junte poder e equipamentos o bastante e você vai poder encarar uma missão final e aí sim, vencer em Outriders.

Ainda estou longe de chegar nesta última expedição, mas Outriders me ganhou mesmo com sua história esquecível e seus personagens canastrões. O jogo tem uma ambientação exótica, um sistema de combate divertido e empolgante e, sim, está lá, completo, dentro do produto que o jogador comprou. É mais do que os maiores jogos do gênero tinham no lançamento.

Nota do crítico