Um dos pontos mais difíceis de fazer o review de Dandy Ace foi parar de jogar e começar a escrever. Com uma mecânica super ágil, o jogo consegue ser difícil e desafiador sem frustrar os estreantes nos roguelike, enquanto também agrada os fãs mais veteranos do gênero com uma ótima progressão de dificuldade.

É sempre bom ver um estúdio nacional independente entregar um jogo com tanta qualidade. O terceiro e mais ousado jogo da Mad Mimic é estiloso visualmente, entrega uma jogabilidade variada e conta com bons diálogos dublados por influencers brasileiros. Mesmo com uma história de segundo plano, Dandy Ace tem todos os méritos para não ser apenas “uma cópia brasileira de Hades”.

Mecânicas mágicas

O maior trunfo de Dandy Ace está justamente em sua jogabilidade. O jogo da Mad Mimic tem um combate bem solto como Hades e se inspira na combinação de poderes de Transistor para criar uma experiência única com a soma de um elemento: a aleatoriedade. 

Em Dandy Ace, você tem quatro espaços de habilidades primárias e quatro adicionais. As cartas são separadas em três tipos: azuis (movimentação), rosas (dano) e amarelas (controle) e surgem aleatoriamente ao matar grupos de criaturas, encontrar baús ou nas lojas espalhadas pelos mapas. E você precisa se adaptar àquilo que o jogo te oferece, seja ela de dano corpo-a-corpo ou de longa distância.

Você ganha uma carta de cada tipo no começo de cada fuga

O diferencial é que você não precisa ficar preso em um estilo de jogo. Mesmo que você comece sua fuga tendo que encurtar a distância com o Soco do Titã, você ainda pode encontrar as Adagas Gêmeas para matar seus inimigos de uma distância segura. Ou, de repente, usar as duas. Dandy Ace permite que você equipe quatro cartas azuis, quatro amarelas ou quatro rosas. E cada habilidade pode ser fortalecida combinando uma carta secundária.

Com esse sistema, o jogo oferece 2500 combinações diferentes, que vão desde turbinar o seu teletransporte com uma nuvem de veneno a aumentar o tempo de atordoamento da sua carta de controle. Entender essas interações e saber qual a melhor estratégia para cada mapa é o que vai te fazer ir mais longe. Algumas áreas são cheias de inimigos e favorecem golpes em área, enquanto outras vão te fazer jogar bem mais recuado, acabando com todos de uma distância confortável.

Além das habilidades, você também precisa desbloquear melhorias permanentes e acessórios coletando fragmentos de vidro. As melhorias te acompanham em todas as fugas e vão de curas ao aumento do nível das cartas que você encontra, enquanto os acessórios te auxiliam em cada partida específica, aumentando seu dano ou mostrando os caminhos do mapa.

Dandy Ace pode ser um jogo difícil para quem não está acostumado às telas frenéticas de um roguelike, mas não é frustrante. Depois de algumas horas, você já consegue desbloquear cartas fortes e melhorias para derrotar os dois primeiros chefes e em cerca de 10 a 15 fugas você já consegue vencer Lele pela primeira vez. Você também precisa liberar todas as quatro chaves que te permitem passar por qualquer sala dos mapas gerados aleatoriamente.

Depois de finalizar pela primeira vez, o jogo ganha um grande salto de dificuldade, aumentando o dano e diminuindo a quantidade de cura até chegar ao nível “pesadelo” - onde eu prefiro nem comentar meu desempenho. 

E quando, ou se, você conseguir bater o nível “pesadelo”, o jogo ainda oferece um desafio a mais. No Modo Twitch, quem leva o jogo é o chat da stream, definindo desde quais cartas o jogador irá receber até quais mapas serão jogados. O chat ainda pode tomar conta de Lele e mandar poderes durante qualquer embate de Dandy Ace.

História e personagens

Lele captura Dandy Ace e suas ajudantes Jolly Jolly e Jenny Jenny

Longe de ser o foco do jogo, a história não oferece um enredo super complexo. Lele, um ilusionista frustrado pelo seu próprio fracasso, aprisiona o elegante e famoso mágico Dandy Ace no Palácio que Sempre Muda com a ajuda de um espelho amaldiçoado.

Enquanto Dandy é um tanto quanto sem sal, Lele rouba a cena com seus chiliques, incompetência e também admiração velada pelo protagonista - e é invariavelmente esquecido. Os diálogos, por outro lado, são divertidos e cheios de referências e trocadilhos ruins - se você for um fã da galhofa como eu, vai acabar gostando.

O visual do jogo é polido e glamouroso, como um bom truque de mágica, e dá pra notar as referências de dentro do mundo dos games, como Dead Cells, ou de filmes como Alice no País das Maravilhas. O jogo também tem o cuidado de adaptar diversas obras do mundo real no mapa Galeria de Arte, por exemplo, com versões coelhísticas de O Pensador, Monalisa e a Criação de Adão.

A trilha é bem dinâmica e não chama tanto a atenção, mas acompanha muito bem a ação e sobe no jeito certo durante os chefes e mapas finais.

O que se sobressai da parte artística do jogo é a presença de grandes influencers brasileiros na dublagem. VinieMattos ficou ótimo como o vilão desajeitado e fã de carteirinha do protagonista. Dos demais influencers que estiveram na dublagem, Kalera (Scisorella) e Maethe Lima (Jenny Jenny) se destacam mais, com a voz de Dandy Ace sendo pouco chamativa e a interpretação de BRKSEdu nos chefes intermediários sendo, bom, basicamente ele mesmo!

BRKsEDU faz as vozes dos chefes Axoangelo e Severino

Vale ressaltar que em inglês, todos os personagens foram dublados por dois atores estadunidenses.

Um passo ousado da Mad Mimic

Depois de No Heroes Here e Mônica e a Guarda dos Coelhos, Dandy Ace foi uma aposta ousada e completamente diferente da Mad Mimic, cumprida com muita qualidade. O jogo chegou a ter uma campanha no Kickstarter que não bateu sua meta e encontrou uma nova chance pela publisher Neowiz. 

É impressionante ver o que o estúdio conseguiu criar com uma equipe de 12 pessoas: Dandy Ace não fica atrás dos jogos da Supergiant que ele tanto se inspirou e esse é um grande feito para os brasileiros. Agora é esperar conteúdos adicionais para o jogo se manter em evidência pelo tempo que ele merece.

Mesmo não oferecendo desdobramentos mirabolantes de sua história, Dandy Ace tem uma jogabilidade excelente e mecânicas extremamente gostosas de se jogar. O jogo é viciante e todos os saltos de dificuldades renovam os desafios que os fãs do gênero tanto gostam. Além de uma excelente progressão e diversas combinações que criam a situação de jogo que você quiser, o modo Twitch deixa o jogo ainda mais fresco e com um excelente potencial. É mais uma grande prova de que o cenário brasileiro de desenvolvimento cresce cada vez mais e pode explorar ainda mais cenários e estilos de jogos.

Nota do crítico