Review: Control
Entre Arquivo X e X-Men, Control acerta com jogabilidade e história envolventes
Nova IP da Remedy Entertainment, Control é um caldeirão de referências.
Sua história poderia ter saído direto de um episódio de Arquivo X, de um conto de Lovecraft ou até mesmo de um verbete da SCP Foundation, organização ficcional responsável por monitorar eventos, objetos e seres que violam as leis naturais do planeta.
Já a ambientação mistura arquitetura brutalista, caprichada no concreto, com um visual burocrático de escritórios retrôs, recheado de estereótipos de agências governamentais e laboratórios antigos.
Por fim, a jogabilidade, que parece condensar tudo que a Remedy aprendeu ao longo de seus anos de experiência com jogos em terceira pessoa, misturando a ação de Max Payne com elementos paranormais de Alan Wake e Quantum Break – até com, aliás, uma pitada muito bem-vinda de X-Men.
É um tripé complexo, mas muito bem amarrado pela Remedy – e que consegue envolver o jogador já nos primeiros minutos de jogo, lançando-o em um universo absurdo e misterioso, mas, ao mesmo tempo, extremamente atraente.
Assuma o controle
Control acompanha a história de Jesse Faden, jovem que está em busca de respostas sobre um evento misterioso de seu passado e que acaba encontrando o Departamento Federal de Controle (DFC) no caminho, uma agência clandestina do governo dos Estados Unidos que é responsável por estudar e controlar objetos e fenômenos paranormais.
Minutos após entrar no escritório, misteriosamente Faden é levada ao cargo de Diretora, assumindo o controle do Departamento em um momento de crise – no qual o Ruído, um fenômeno sobrenatural que escapou do controle, tem afetado funcionários do DFC, transformando alguns em criaturas agressivas com habilidades paranormais.
Em sua primeira meia hora, Control não se desvia muito das características de um shooter tradicional em terceira pessoa – com a Arma de Serviço em mãos, um item especial que é utilizado apenas pela Diretor do Departamento, Faden atravessa as batalhas iniciais do jogo com uma pistola convencional que não é particularmente digna de nota.
No entanto, o jogador logo conquista a sua primeira habilidade telecinética e muda completamente o gameplay de Control, transformando a protagonista em uma espécie de X-Men capaz de lançar objetos do cenário contra inimigos com seus poderes mentais – e aí que começa o show de pirotecnia de Control, com cadeiras, armários de escritório e até pedaços do cenários voando para um lado e para o outro.
O leque de habilidades se expande ainda mais conforme Faden avança pelo corredores da Casa Mais Antiga, tornando a ação extremamente fluida e natural, uma espécie de dança em que o jogador pode alternar os disparos de sua arma com os poderes da protagonista para limpar grupos de inimigos em poucos minutos.
O mesmo vale, aliás, para a Arma de Serviço, que pode ser atualizada para incorporar outros estilos de arma, assumindo a forma de uma metralhadora, escopeta, rifle e até lança granada.
Tanto Faden quanto a Arma de Serviço também podem receber uma série de mods, itens que podem ser criados através da coleta de recursos ao longo do jogo, e que ampliam a possibilidade de customização com diferentes características – é possível, por exemplo, aumentar a vida de Jesse, sua energía para golpes psíquicos, a velocidade de recarga da arma e vários outros detalhes. Não é um sistema particularmente complexo, mas que garante um verniz extra de personalização à progressão bastante rasa de Control.
Faltou apenas um sistema de progressão equivalente de inimigos: com todas suas habilidades, Faden se transforma em uma personagem OP demais, e inimigos acabam se tornando fáceis demais de se enfrentar do começo do segundo ato até o final de Control.
Vale ressaltar também que, apesar da história linear, Control conta com uma série de side quests que ampliam a narrativa do jogo, explorando melhor o ambiente da Casa Mais Antiga e dando mais sabor à história nebulosa do jogo. Em alguns pontos, ao jogo traz alguns elementos de Metroidvania ao jogo, em que o jogador vai e volta pelo cenários para abrir novas portas e acessar áreas ainda não exploradas.
Uma casa muito engraçada
Combate e história à parte, Control dá um show em termos de design de cenários. Apesar de estar confinado à Casa Mais Antiga – nome do edifício que abriga o Departamento Nacional de Controle – os espaços criados pela Remedy estão entre os mais impressionantes já produzidos pelo estúdio, com diferentes referências arquitetônicas que complementam a estranheza da narrativa.
Apesar de privilegiar grandes estruturas brutalistas de concreto, os laboratórios, escritórios e corredores de Control são variados o suficientes para impactar o jogador sempre que uma nova área é atingida, com elementos distorcidos que remetem ao fato da agência lidar com eventos paranormais e que desafiam a física do mundo real.
O jogo ainda peca em seu mapa, um tanto quanto confuso e incompetente para representar os diferentes níveis dos cenários, mas é navegável o suficiente e recheado de pequenos detalhes escondidos que recompensam o jogador que explorar cada canto da Casa Mais Antiga com as habilidades de Faden.
Vale a pena também coletar todos os documentos, áudios e vídeos espalhados pelos cenários do jogo, que ajudam a completar a história misteriosa do título e a dar mais riqueza aos seus personagens e mundo.
Faltou só um modo fotografia para permitir ao jogador capturar todos os detalhes em screenshots, né, Remedy?
FPS fora de controle
Apesar de ser extremamente competente nos frontes da narrativa, ambientação e jogabilidade, Control sofre com problemas sérios em termos de desempenho.
Isso, é claro, não é exclusividade do título da Remedy. Uma boa quantidade de lançamentos desta virada de geração têm forçado consoles atuais ao limite, e sofrendo com quedas bruscas de FPS e engasgos por conta da sua qualidade gráfica e elementos de jogo. Ainda assim, isso é particularmente notável no caso de Control, que rodamos em um PlayStation 4 padrão para nosso review.
Principalmente em momentos de ação intensa ou quando há um grande número de partículas voando pela tela, Control observa engasgos constantes e quedas drásticas de frame – que não chegam a inviabilizar o gameplay, mas atrapalham em momentos chave de combate.
O problema também pode ser observado em alguns outros pontos do jogo, como nas telas de carregamento demoradas e também após o encerramento de missões de história, quando a imagem tende a travar por alguns segundos logo após o término de uma cutscene.
O problema é grave o suficiente para ter chamado a atenção da própria Remedy, que afirmou que já tem times trabalhando na otimização do game – mas que isso ainda vai demorar um tempo até ser resolvido.
Até lá, Control tem momentos em que a paciência do jogador será testada – ainda que a experiência total do jogo seja positiva.
- Lançamento
27.08.2019
- Publicadora
505 Games
- Desenvolvedora
Remedy Entertainment