Se alguém me perguntasse hoje qual jogo do “gênero” Soulslike seria o mais indicado para começar, eu certamente indicaria Code Vein. 

Agregá-lo a esse estilo, inclusive, no início pode parecer injusto, já que Code Vein lembra muito mais um hunting game (como Monster Hunter e God Eater, por exemplo) do que um título da FromSoftware propriamente dito.

A assimilação inicial pode ser explicada pelo fato de a equipe de God Eater 3 ter trabalhado no desenvolvimento de Code Vein.

Então, quando joguei uma versão de testes do game há alguns meses, o achei muito mais parecido com God Eater - ainda que houvesse semelhanças com Dark Souls ou Bloodborne aqui e acolá. 

Bandai Namco/Reprodução

Todavia, ao jogar Code Vein de verdade e do começo ao fim, não restaram mais dúvidas: ele é um “AnimeSouls” e, particularmente, isso é excelente.

O motivo é basicamente porque o aspecto anime diferencia visual e narrativamente Code Vein das criações de Hidetaka Miyazaki, entregando uma mistura que dá muito certo.

Por isso, espere por um gameplay semelhante a Dark Souls e Bloodborne, uma narrativa mais tradicional como vista em Sekiro: Shadows Die Twice, e o visual, a personalização e os clichês que gostamos na animação japonesa.

E eu juro que apesar de todas as comparações (positivas, diga-se de passagem), Code Vein é um experimento único e que deu certo; e que pode se tornar um perfeito ponto de partida para quem quer entender e conhecer mais como funcionam os Soulslike.

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Nascimento de um novo subgênero?

E por que o visual anime de Code Vein é um dos aspectos mais empolgantes? O traço é certamente bonito, mas esse não é o único motivo. Além das belíssimas animações, elas diferem-se dos demais Soulslike - principalmente dos Soulsborne da FromSoftware - graficamente falando.

Além disso, o visual anime ainda traz as expressões faciais estilizadas que agregam mais sentimentos aos personagens, além do livre uso de uma narrativa mais parecida com a de uma animação japonesa.

Essa maneira de contar a história mais puxada para o “estilo anime” significa essencialmente que Code Vein é recheado de tropes atrás de tropes.

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Tropes são basicamente padrões narrativos da mídia fictícia, que podem ser classificados como clássicos ou recorrentes. Não são necessariamente algo ruim, dependendo da forma como são abordados.

Em Code Vein, por exemplo, muitos desses padrões narrativos de animes estão presentes: o protagonista escolhido guiado por uma garota misteriosa, os líderes de facções que são inicialmente rivais e acabam se tornando aliados mais para frente, histórias muitas vezes sofridas assombrando o passado dos personagens secundários e, entre uma reviravolta e outra, a força da amizade que é capaz de dissipar todo e (quase) todo o mal.

Estes são apenas alguns exemplos mais abrangentes, já que Code Vein tem vários outros “clichês” por assim dizer. E para que fique claro, nenhuma desses tropes me incomodou no game - exceto pelo fanservice na sexualização das personagens femininas, isso sim é um problema.

Ainda assim, dado esse estilo recheado de tropes de animes e a maneira como a narrativa avança em Code Vein, consigo imaginar tranquilamente o “AnimeSouls” se tornando um subgênero futuramente e, particularmente, torço para que isso aconteça.

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Vale apontar que minha torcida não é apenas para o “AnimeSouls” propriamente dito, mas sim por mais formas de expandir e explorar jogos do gênero Soulslike.

Mitologia singular

O mundo, os personagens, os monstros, e a mitologia de Code Vein são bem interessantes também. Toda a temática aqui gira em torno das Aparições, que são basicamente vampiros que sofrem de amnésia. Eles necessitam de sangue para se alimentar e vivem em um mundo pós-apocalíptico que está cada vez mais em declínio.

Caso fiquem muito tempo sem se alimentar, as Aparições se tornam Perdidos, criaturas mortais e sem controle; ou seja, os inimigos comuns do jogo. Mas a lore não se limita a mostrar apenas isso, ela se desdobra inicialmente em como as Aparições vivem nesse mundo caótico.

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A sociedade vive em eterno conflito dentro de uma área cercada por uma misteriosa névoa vermelha, enquanto são governados por Silva. Existem facções de resistência e de pesquisas que se opõem a esse modo de vida, ao passo que os lacaios do atual governante capturam Aparições sem rumo para expandir as buscas por cristais de sangue - principalmente fonte de alimentação das criaturas desse mundo.

Se você assistiu a Mad Max: Estrada da Fúria, certamente vai sentir semelhanças no plot aqui e acolá, especialmente nesse momento inicial da lore.

Obviamente a história toma outros rumos e, ao desvendar o passado dos personagens secundários (à medida que eles se juntam ao protagonista), e também a história de fundo do amnésico protagonista, a mitologia de Code Vein vai se tornando cada vez mais forte e única.

DNA próprio, mas ainda com elementos Soulslike

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Além de uma história que se desenvolve na maior parte do tempo com cutscenes, de tropes de animes que complementam o plot, e de um time de personagens secundários com histórias (em sua maior parte) bastante interessantes; Code Vein ainda conta com uma jogabilidade que parece mais do mesmo, mas cheia de pormenores que fazem toda a diferença.

O leque de armamentos de Code Vein é vasto, oferecendo movesets especiais dependendo do código de sangue que o jogador usar (e lembrando vagamente Bloodborne, ainda mais com as armas de fogo que podem causar stun nos inimigos).

Os códigos de sangue, por sinal, funcionam como classes e, ao alternar entre eles, o jogador pode transformar totalmente sua experiência de gameplay.

Cada um dos códigos de sangue oferecem ainda Dádivas diferentes que funcionam basicamente como uma habilidade especial. Combinando esta técnica com o armamento e a vestimenta certa, abre ainda mais opções de combos.

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Obviamente, cada uma dessas variantes afeta a agilidade, vigor, adrenalina, defesa e outros atributos dos personagens, então é importante entender o que cada equipamento oferece. Além disso, cada vestimenta tem um véu de sangue diferenciado, sendo esta uma habilidade que permite que o jogador se defenda e apare os golpes dos oponentes.

E assim como nos Soulsborne, onde era possível trocar almas, ecos de sangue ou pontos de habilidade por upgrades em geral, em Code Vein não é muito diferente: aqui se coleta brumas de sangue para fazer isso e as melhorias são feitas em viscos. 

Os viscos são save points e, ao descansar em um, os inimigos da área obviamente retornam. 

Todos esses elementos farão os fãs do gênero Soulslike se sentirem bastante familiarizados. E, apesar de todos os elogios até aqui, fica a crítica para o quão atrasado Code Vein parece.

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Isto porque Code Vein foi adiado inúmeras vezes desde seu anúncio, em abril de 2017. Desde então, tivemos God Eater 3 e Sekiro: Shadows Die Twice; que, embora sejam diferentes, elevam muito a qualidade de jogabilidade e personalização de seus respectivos gêneros.

Dito isto, Code Vein não inova em termos de gameplay, trazendo bastante familiaridade para quem já conhece o estilo Soulslike, ainda que tenha muitos detalhes embutidos nos recursos de gameplay.

Para os mais exigentes, ele pode não agradar por não inovar na jogabilidade, trazendo essa sensação de ter chegado atrasado à festa, ainda mais quando comparado aos dois títulos citados acima. 

Outra reclamação que quero registrar é a ausência de cutscenes animadas, especialmente quando o jogador obtém códigos de sangue. Nesses trechos, o protagonista passa a conhecer um pouco do passado do proprietário do código de sangue, mas as animações são estáticas.

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Mais acessível e divertido

Outra semelhança com Soulslike é que pode-se recuperar as brumas de sangue caso o personagem morra, assim como nos demais jogos do gênero (e o mapa continua nada intuitivo, o que fará o jogador explorar e dar muitas voltas, sim).

Entretanto, algo que Code Vein presenteia ao jogador é a acessibilidade. Senti que ele é, definitivamente, menos punitivo do que os Soulsborne da FromSoftware e, portanto, mais divertido de jogar.

Isso não quer dizer que Code Vein é mais fácil ou que ele não passa o devido sentimento de superação a cada novo chefe, não é isso. Os inimigos comuns são muitas vezes mais fáceis de derrotar, incluindo aqueles maiores que funcionam quase como subchefes.

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Code Vein transmite todas essas sensações sim, incluindo a de ser desafiante, mas sem dúvidas consegue ser mais acessível.

Isso significa que o título da Bandai Namco tem uma curva de aprendizado muito mais rápida e prática e ainda oferece companheiros opcionais muito bem controlados pela inteligência artificial, para ajudar na aventura.

Tudo isso torna Code Vein, em minha opinião, um ótimo título do gênero Soulslike para se começar, tal como disse no início desta análise. 

Então, se está curioso em se aventurar em um game desse tipo, comece por Code Vein. A dificuldade e a diversão, e também muitos momentos anime, esperam por você.

  • Publicadora

    Bandai Namco

  • Desenvolvedora

    Bandai Namco

  • Gênero

    RPG

Nota do crítico