A Plague Tale: Innocence, em sua essência, parece um jogo perdido no tempo - e digo isso da maneira mais elogiosa possível.

Tendo sido um espectador ávido deste mundo por décadas, e coberto a indústria profissionalmente já há alguns anos, o próprio conceito de um jogo orçamento "médio" de um estúdio virtualmente desconhecido - cujos maiores trabalhos anteriormente eram ports e adaptações de games dos filmes da Pixar - com uma ênfase em uma narrativa singleplayer é totalmente contrário ao que se espera do ano de 2019, em que grandes desenvolvedoras e publishers querem sugar o modelo de jogos como serviço até a última gota, além de eliminar funcionários da maneira mais impessoal possível em busca de lucro contínuo.

E, ainda bem, a equipe do Asobo Studio conseguiu criar uma experiência que - ainda que falha em certos pontos - é repleta de momentos de horror e violência pontuados por amizade e união ao mostrar a jornada de dois irmãos vivendo durante a Peste Negra.

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Divulgação/Focus Home Interactive

Em A Plague Tale, o jogador controla Amicia de Rune, uma jovem da nobreza francesa do Século XIV. Por motivos inicialmente desconhecidos, a família de Amicia passa a ser perseguida pela Inquisição, e após um massacre em sua residência, ela deve fugir em busca de um lugar seguro para ela e seu irmão de cinco anos, Hugo, que é o verdadeiro alvo dos cavaleiros e membros da Igreja.

Não só isso, Amicia deve lidar com o auge da Peste Negra, tanto diretamente na forma de hordas de ratos com sede de sangue, como nos efeitos psicológicos que as mortes causaram na população.

O gameplay do jogo não traz muito segredo: Amicia e Hugo devem atravessar áreas sem ser percebidos pelos cavaleiros que a procuram, e evitar os ratos ensandecidos.

Para isso, Amicia tem uma série de artimanhas e equipamentos para despistar (ou matar) seus perseguidores, começando por pedras e sua atiradeira, até munições criadas via alquimia, que podem desde acender fogueiras até atrair um grupo ratos para seus inimigos - que, assim como em Dishonored, os devoram em questão de segundos.

Os ratos em si, porém, têm como única fraqueza a luz, sendo preciso formar caminhos seguros ao acender tochas e levá-los para outras áreas.

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Divulgação/Focus Home Interactive

A inteligência artificial dos cavaleiros e o sistema de furtividade em si não são particularmente complexos, mas em geral o Asobo conseguiu criar regiões amplas e variadas, que dão chance ao jogador utilizar diversos métodos para atravessar o mapa, incluindo opções letais e não-letais para seus inimigos.

Inesperadamente para mim, o jogo também conta com um sistema de crafting, que permite com que Amicia melhore sua atiradeira e equipamentos. No começo pensava que esta seria uma inclusão desnecessária - afinal, que tipo de jogo não tem um sistema de upgrades hoje em dia? -, mas acabei achando uma adição digna, por ajudar a refletir a própria progressão da protagonista, que vai se tornando cada vez mais capaz (e violenta) no decorrer da narrativa.

Os grandes pontos fortes do jogo, contudo, são os elementos narrativos envolvendo os dois protagonistas, e principalmente a direção de arte do jogo, que faz alusão ao período gótico medieval deste período histórico.

O relacionamento entre Amicia e o Hugo é o pilar central do game, e sua evolução é cativante e crível: por ter uma condição de saúde misteriosa, Hugo nunca teve muito contato com a irmã, e os dois são efetivamente estranhos no início da história.

Com o passar do tempo, e ao enfrentar uma série de desafios, o elo entre os dois vai se fortalecendo, e até encontram outros jovens aliados pelo caminho.

E, se por um lado, Amicia torna-se uma pessoa mais protetora e defensora da segurança de seu irmão, ela vai se tornando cada vez mais violenta e brutal contra inimigos, para a preocupação do mais pacífico Hugo.

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Divulgação/Focus Home Interactive

Já a arte do game consegue misturar tanto o visual medieval do período histórico - com a dupla podendo explorar castelos, igrejas e universidades com típica arquitetura gótica - quanto a estética de horror mais moderno, especialmente em relação aos ratos, cujas hordas estranhas e quase místicas, juntos de seus ninhos repletos de pedaços de corpos humanos, lembra mais algo como Alien.

Infelizmente, o conjunto do jogo acaba perdendo força em sua parte final, com a narrativa vertendo mais para conspirações antigas e linhagens de sangue místico, e o gameplay dando mais foco à ação do que a furtividade.

Ainda assim, A Plague Tale: Innocence é um jogo mais incomum para os dias de hoje, e mesmo tropeçando no final ainda consegue trazer uma boa história, ótimas interações entre personagens, combinadas com um gameplay competente e momentos de horror perturbadores.

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Divulgação/Focus Home Interactive

O jogo foi testado na sua versão para PC.

  • Lançamento

    14.05.2019

  • Publicadora

    Focus Home Interactive

  • Desenvolvedora

    Asobo Studio

  • Testado em

    PC

  • Plataformas

    PC PlayStation 4 Xbox One

Nota do crítico